Máquinas param na Samarco e Mãe-Bá sofre os reflexos de perto

 

Em dezembro, a Samarco concederá férias coletivas aos trabalhadores, já que ainda não há prazo para que a empresa retome suas atividades. Caso elas estejam paralisadas ao término das férias coletivas, em janeiro, os 5 mil funcionários terão de ser demitidos. 3 mil só em Anchieta, Mãe-Bá teme e as mais de 600 famílias dependem da empresa

Muito se fala na mídia do rompimento da barragem de Fundão, dia 5 de novembro na unidade industrial de Germano, entre os distritos de Mariana e Ouro Preto (cerca de 100 km de Belo Horizonte), que provocou uma onda de lama devastando os distritos próximos. O mais atingido foi Bento Rodrigues.  Há relatos de desaparecidos, e o número total de mortes ainda é desconhecido.

A mídia vem noticiando diariamente o assunto que ganhou repercussão internacional. Os prejuízos sem precedentes são incalculáveis. A morte do Rio Doce, centenas de pessoas desabrigadas, a falta de água em várias cidades, o mar, a próxima vítima, o turismo e o verão.

Entretanto, pouco tem se falado das comunidades no entorno da Samarco, em Ubu, Anchieta. O prefeito Marcos Assad, está muito preocupado, não é só a arrecadação de ICMS que será atingida, mas a situação é muito mais complicada e séria.

A Reportagem visitou a comunidade Mãe-Bá, vizinha ao polo industrial em Ubu e conversou com muitas pessoas, e o que viu? Desolação, medo, angústia, preocupação com o futuro das mais de 650 famílias que residem no local. Choro, lamentos, silêncio.

A praça está vazia à noite, o comércio está às moscas. As ruas, todas calçadas ou asfaltadas, têm investimento da Samarco. A população local quase toda trabalhava para a empresa. Os projetos sociais são financiados pela mineradora, as conquistas como creche, posto de saúde e escolas, tudo têm participação da empresa. E os moradores dependem do trabalho e das máquinas não pararem para continuarem suas vidas.

A presidente da Associação Comunitária, Carmelita Nascimento Furlan, informou que a comunidade possui aproximadamente 650 moradias, a maior parte dessas famílias trabalham na Samarco e empresas terceirizadas. “A tragédia abalou toda a comunidade porque nós dependemos direta e indiretamente da Samarco. Aqui não se vive de pesca, nem de turismo, e a nossa preocupação é o desemprego. Todas as obras daqui têm parcerias com a Samarco, e Mãe-Bá vai morrer, é esta a nossa maior preocupação e também de todas as famílias”.

Carmelita reportagem especialCarmelita é presidente a Associação Comunitária de Mãe-Bá

 “Eu parei de comprar”

Deuziane reportagem especial

A Reportagem foi à farmácia e conversou com a comerciante Deuziane José de Castro Neves. Ela assegurou: “Mãe-Bá acabou. Todo mundo fala que o Rio morreu e vai morrer. Temos que nos preocupar com as pessoas, pois com a parada da Samarco, parou a vida de todos os comerciantes e famílias que dependem da empresa aqui. No momento que as máquinas pararam de funcionar, eu parei de fazer compras e comecei a pensar no que vou fazer. Cada comerciante está planejando o que vai fazer já que todos os estabelecimentos estão parados, não tem nem gente na rua”, disse.

 

 

Nem um hóspede

Dona Olinda Reportagem Especial Dona Olinda disse que na pousada nenhum hospede se hospedou, vai ter de dispensar os funcionários

 

A comerciante Olinda Assunção Machado, é proprietária de uma pousada e restaurante logo na entrada de Mãe-Bá. Ela disse que há dias não hospeda uma pessoa.  A proprietária afirma que será obrigada a demitir todos. Chorando, Olinda conta que tudo na comunidade depende da Samarco: as creches, escola e comércios. Até a Prefeitura de Anchieta depende da Samarco, que faz parceria em todas as obras na comunidade. “Todo mundo fala sobre a poluição do ar, sobre o pó de minério, mas com a Samarco parada, Mãe-Bá parou e temos medo das pessoas partirem para a criminalidade”, salientou.

 “Se a Samarco não reabrir não sei o que será de nós”

Manoel Fernandes Reportagem EspecialO comerciante Manoel Fernandes disse que o que incomoda e assusta é o silêncio das máquinas da Samarco

Seu Manoel Fernandes de Souza é proprietário de uma loja de material de Construção e uma pequena Sorveteria. Ele afirma que o silêncio das máquinas paradas é o que assusta e tira o sono dos moradores. “Está difícil para todos nós. Os donos de comércios grandes e pequenos vão sofrer e já estão sofrendo. A princípio pelo fato de os funcionários receberem indenização, seguro desemprego e outros direitos o comércio vai se segurar por um tempo, mas daqui a seis meses, se a Samarco não reabrir, eu não sei o que será de todos nós aqui no entorno. Aqui na comunidade, 70% das pessoas trabalhavam para a Samarco, na própria empresa ou empreiteiras. E os outros 30%, são os comerciantes e seus empregados que também dependem da empresa. Não só as comunidades do entorno, mas as cidades de Anchieta e Guarapari vão sofrer as consequências”, comentou.

 Choro

Silvana Reportagem Especial

Silvana Assunção Machado, trabalha com a mãe no restaurante e frisou que as empreiteiras já foram embora e Mãe-Bá praticamente acabou. “Não só Mãe-Bá, como Anchieta, Guarapari e todos do entorno foram afetados, já que as empreiteiras foram embora. Antes da parada da Samarco, todos os dias, vários funcionários almoçavam aqui e se hospedavam. Agora está tudo parado, às moscas. Nossa realidade é muito triste com muita gente desempregada. É difícil relatar a nossa situação e não chorar”.

“E se meu filho pedir um pão e não tiver para oferecer”

Clemilda reportagem especial

A história de Clemilda Santos Reis, 40 anos, baiana, moradora de Mãe-Bá há 15 anos, mãe de dois filhos, é semelhante a de muitas mulheres cujos esposos trabalham na mineradora Samarco. A casa foi construída com dinheiro recebido do trabalho na empresa. Depois do rompimento das barragens, ele seguiu com a empreiteira para Governador Valadares, mas quando o trabalho lá se findar, ela teme que ele fique desempregado. Ele tem 42 anos e há 17 trabalha para a mineradora.

“Eu e meu marido temos um filho de dois anos, ele trabalhava em uma empreiteira da Samarco e agora se meu marido ficar desempregado, como vou alimentar meu filho? Existe muita coisa de errada no Brasil, muito roubo, mas com o desemprego gera esse tipo de crime. Se meu filho me pedir um pedaço de pão para matar a fome e eu não tiver como alimentá-lo? Vou fazer o quê?”, interroga.

“A empreiteira levou meu marido pra trabalhar em Governador Valadares, mas o desemprego está aí e tem muitas famílias que já estão desesperadas. Muitas pessoas morreram e eu chorei muito com isso, por causa das pessoas que perderam entes queridos, mas muita gente vai ficar desempregada e os comerciantes vão falir. Os funcionários da prefeitura também vão ficar desempregados, meus amigos e vizinhos também. No começo tem a indenização, mas esse dinheiro acaba e o que vai ser das pessoas? Mãe-Bá vai virar uma comunidade fantasma. Não tem gente na rua, as pessoas estão tristes, os ônibus e praças vazios. Se a Samarco fechar… acabou!”.

Segundo a servidora pública, as pessoas falam muito em dinheiro e não falam sobre o ser humano. “Ninguém se preocupa com os funcionários e suas famílias. Parada, a Samarco não consegue pagar multa nenhuma. Será que os nossos governantes estão pensando no povo? No desemprego? Nas pessoas que morreram? Essa tragédia aconteceu, não foi porque a Samarco quis”! Defendeu a empresa, Clemilda, que chorou muito.

 

 

 

 

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