Não foi Anchieta que fundou a aldeia de Rerigtiba
MARIA JOSÉ DOS SANTOS CUNHA- Doutorado em Teoria Jurídico Política e Relações Internacionais, mestrado em Estudos Lusófonos. Atua na área de História, com ênfase em política, sociedade e cultura, principalmente nos seguintes temas: História da Expansão Ultramarina, Brasil Colônia, Relações Internacionais, Cristãos Novos e Inquisição. Integra o grupo de pesquisa LABORATÓRIO DE ESTUDOS REGIONAIS DO ESPÍRITO SANTO E CONEXÕES ATLÂNTICAS, da Universidade Federal do Espírito Santo e é sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.
Pode acessar foto através do Currículo Lattes em http://lattes.cnpq.br/2158850850396859
Jornal… Então… As datas relacionadas a fundação do município de Anchieta não são exatas. Sabe me dizer quando de fato Anchieta foi criado? Fala em 1565 e 1567 e 1579, há uma data certa?
MC: A sua pergunta desdobra-se em várias sendo que a localidade antecede em muito o município. Para nos facilitar a compreensão, usaremos uma referência cronológica para situarmos o desenvolvimento da cidade de Anchieta. Antes que chegassem os primeiros povoadores europeus já existia a aldeia Reritiba de índios Tupiniquins. A ancestralidade dessa aldeia é-nos desconhecida, não obstante a existência de mais de quatro dezenas de sítios arqueológicos indígenas sinalizados pelo IPHAN dentro do perímetro municipal de Anchieta, todos ainda por estudar. Que fique, portanto, claro que os primeiros jesuítas a chegarem a Reritiba nem fundaram a aldeia, nem lhe deram o nome, apenas se instalaram nela com o consentimento do morubixaba ou chefe tribal.
1565 e 1567 são duas datas relacionadas à passagem de Anchieta pela capitania do Espírito Santo e ambas, datas e circunstâncias históricas, intimamente ligadas à conquista, pelos portugueses, da baía da Guanabara e fundação do povoado de São Sebastião do Rio de Janeiro, atos aos quais a Companhia de Jesus e, particularmente, José de Anchieta se encontravam envolvidos. Recorde-se o famoso episódio de Anchieta refém de indígenas da confederação tamoia em São Vicente durante as conversações de paz concebidas pelo Pe. Manuel da Nóbrega, então Provincial dos Jesuítas no Brasil. Os portugueses coligados a índios das capitanias do Espírito Santo, de São Vicente e aos Temiminós da Guanabara, refugiados no ES desde 1555, faziam guerra aos franceses apoiados por tribos de Tamoios da região. Vencida, pelo lado português, a primeira etapa da conquista daquela baía em 1565, Anchieta foi enviado a Salvador onde completaria a sua formação, a fim de ser ordenado, de acordo com o desejo expresso pelo Geral da Companhia de Jesus em Roma. Nóbrega encarregou-o então de, à passagem pelo ES, visitar as residências jesuíticas que naquele período se resumiam à da vila de Vitória, anexa à igreja de Santiago (onde hoje se encontra o Palácio Anchieta) e às das aldeias de São João (Carapina) e Nossa Senhora da Conceição (Serra) e de transmitir ao Governador-Geral, Mem de Sá, a situação precária em que se encontravam os portugueses, necessitados de reforços. Em novembro de 1566, já na qualidade de sacerdote, Anchieta regressa ao Sul, na companhia do Visitador Inácio de Azevedo, do 2º bispo do Brasil. D. Pedro Leitão, e de outros três jesuítas, Antônio Rodrigues, Antônio da Rocha e Baltasar Fernandes, que aproveitaram a saída de Salvador da armada de Mem de Sá rumo ao Rio de Janeiro. Fundeada na baía de Vitória, a armada aí recolheu reforços em homens e víveres, chegando ao Rio em Janeiro a 18 de Janeiro de 1567 onde as novas forças militares apoiaram Estácio de Sá. Consideradas a importância geoestratégica e a necessidade da pacificação da região abrangida pelo Rio de Janeiro, à época todos os esforços se concentravam naquele espaço. No geral, a Companhia de Jesus no Brasil não tinha capacidade para a abertura de novas frentes de trabalho ou licença régia para o fazer, condições que pôde reunir durante o período do provincialato de José de Anchieta que promoveu a instalação de novas missões, entre elas a de Reritiba no ano de 1579, segundo a tradição jesuítica e que a documentação não contesta.
Jornal: Como se deu a criação de Anchieta?
Instalados os primeiros jesuítas na aldeia de Reritiba ou Reritigba ou Iriritiba, consoante as grafias mais antigas, trataram de, em primeiro lugar, criar o próprio alojamento ao lado do local de culto católico, provisórios e com materiais de fácil e rápido manejos. Depois, com a ajuda da mão-de-obra indígena se ergueram as construções feitas “para enquanto o mundo durar”, a igreja, a sacristia e a área de habitação que se conhecem. Desde o início, para os jesuítas, Reritiba foi uma aldeia de residência, por oposição às aldeias de visita, fazendo dela um pólo de congregação de várias tribos e de irradiação sócioecômico e cultural. Junto com a aldeia de Reis Magos (Nova Almeida) na qual se fixaram mais tarde, Reritiba transformou-se numa escola de aprendizado da Língua Geral, codificada pelo trabalho de Anchieta na Arte de Gramática da Língua mais usada na Costa do Brasil, chegada ao ES em 1556 e editada em Coimbra, pela primeira vez, no ano de 1595. Nos edifícios que formam a quadra, partido de construção seguido pela Companhia de Jesus, existiam a igreja, a sacristia, a área de habitação, constituída pelos dormitórios e cozinha, salas de arrumos, oficinas, enfermaria, farmácia – a botica -, salas de aula onde as crianças aprendiam a contar, ler e escrever e espaços para a aprendizagem da música, importante nas culturas ameríndias e usada pelos jesuítas como instrumento de evangelização, sabendo-se da existência quer de instrumentos musicais, quer de músicos na aldeia. Atente-se, por exemplo, que em todas as igrejas jesuíticas existe o coro alto, local destinado aos músicos e coros durante as celebrações religiosas.
Jornal: Padre Anchieta é o fundador de Anchieta por que foi ele quem organizou a tribo e construiu no entorno uma igreja?
Relembrando o que foi dito anteriormente, desconhecemos os fundadores de Reritiba, José de Anchieta foi o responsável pela instalação de jesuítas na aldeia e o seu mais célebre residente. Ao terminar o período durante o qual foi o responsável máximo da Companhia de Jesus no Brasil, passou a residir em Reritiba (1587) de onde se ausentou apenas a pedido dos seus superiores para o desempenho de várias funções dentro ou fora do ES. A proximidade e o amor aos índios, aos quais chamava predestinados, bem como a presença de grupos indígenas recém chegados dos sertões e do seu amigo e famoso sertanista, o Pe. Diogo Fernandes, fazia-o preferir a aldeia a partir da qual também podia atingir outras, sendo que a documentação jesuítica da época enfatiza o Espírito Santo como a capitania onde havia grande número de ameríndios ainda não tão molestados pelos colonos quanto em outras. Em Reritiba escreveu algumas das suas obras e veio a falecer no dia 7 de junho de 1597, selando, por esse modo, a sua fama à da localidade. A 12 de Agosto de 1887 a Lei Provincial nº 6 elevava a vila a cidade com a designação de Anchieta, com ratificação dada pela Lei Estadual nº 1307, de 30 dezembro de 1921, sete anos antes da segunda chegada dos jesuítas à localidade.
Jornal: Anchieta basicamente se desenvolveu através da pesca por que os índios ensinaram o oficio aos portugueses?
A atividade artesanal da pesca estende-se por todos os continentes e é comum a todos os povos desde as respectivas Pré-Histórias. No Brasil, os portugueses aprenderam com os vários povos indígenas as técnicas e utensílios desenvolvidos localmente, tal como os índios receberam dos portugueses os conhecimentos piscatórios destes. A pesca constitui-se, assim, um bom exemplo da convivência e junção das diferentes técnicas, utensílios e embarcações por ajuste das complexas negociações culturais que marcaram a história brasileira. Os peixes obtidos para consumo, em fresco ou conservados pela salga, compunham a dieta normal. Durante o período da administração jesuítica da aldeia sabemos que a lagoa de Mae Bá, mais extensa que hoje, era um grande repositório de peixes e que havia o que chamavam de fazendas de peixes na área de Ubu. No século XIX, os relatórios de presidentes da Província do Espírito Santo continuavam a referir a enorme riqueza em quantidade e variedade de espécies piscícolas no litoral capixaba.
Jornal: A agricultura é explorada também pelos índios, ou só ocorre quando os imigrantes chegam.
Os povos ameríndios da América do Sul conheciam a agricultura. O grau de desenvolvimento tecnológico agrícola é que variava de acordo com o grau civilizacional de cada um. No caso do Brasil existiam as roças, palavra de origem tupi e a mandioca, o milho, a abóbora, o amendoim e o feijão contavam-se entre os produtos frequentemente mais cultivados. Com os portugueses no século XVI viajaram as canas-de-açúcar, as hortaliças e variadas frutas da Europa, mas também trazidas de África e da Ásia, tal como as plantas americanas migraram para outros continentes, sendo que as culturas do arroz e do café são mais tardias.
Jornal: Os jesuítas vieram para o Brasil com a missão de catequizar os índios, mas eles eram arredios, como se deu esse trabalho? Eles aceitaram receber o cristianismo com tranquilidade?
Pelos acordos firmados entre a Santa Sé e a monarquia portuguesa, era obrigação régia a cristianização dos territórios de ocupação portuguesa. Portugal foi a primeira nação europeia a receber os missionários jesuítas, primeiramente enviados à Índia e depois ao Brasil. Aqui chegaram em 1549 incluídos na armada do 1º Governador-geral, Tomé de Sousa, que, por ordem de D. João III, vinha criar uma capital e nela instalar o governo central da colônia. Neste espírito de nova tentativa de colonização esperava-se que os jesuítas realizassem a conversão dos indígenas à religião católica e os transformassem em cidadãos úteis ao desenvolvimento económico e social dentro dos objetivos esperados.
De entre o conjunto de religiosos no Brasil os jesuítas foram, pelas características da Ordem Religiosa, os que melhor se posicionaram face a esse trabalho junto das populações autóctones. Aprenderam as línguas para melhor se comunicarem e adotaram usos e costumes que, em seu entender, não interferiam com as matérias de fé, o que lhes valeu o desagrado do 1º bispo do Brasil, cujas queixas chegaram a Lisboa e a Roma, como, por exemplo, a convivência direta com os índios, aos meninos órfãos europeus à sua guarda cortavam os cabelos à moda dos meninos índios, permitiam a assistência dos indígenas nus nas celebrações eucarísticas e o uso de traduções tupis das principais orações bem como de catecismos. Contudo, as dificuldades eram muitas: hábitos ancestrais não sedentários, a antropofagia, a poligamia, as relações maritais entre familiares diretos, proibidas pelo direito canónico, hábitos de distribuição do trabalho diferentes, a escravização pelos colonos, etc. Cedo, os jesuítas perceberam que tinham pela frente um trabalho educativo para durar gerações e que a melhor forma de começarem a obter melhores resultados era pela educação das crianças. Os maiores entraves eram culturais e não religiosos, daí a vantagem dos aldeamentos onde pudessem residir junto dos índios, de preferência a uma distância segura das capturas dos colonos. A correspondência jesuítica reflete estes dramas e dificuldades, narram a aproximação seguida das fugas para o sertão, as ameaças de ataque por parte de tribos hostis, as inquietações provocadas pela captura de índios como mão-de-obra escrava, fazendo-os temer ainda mais a presença dos estrangeiros e a persistência dos traços culturais.
Jornal: Por houve a revolta indígena no século XIII? Como se deu essa revolta?
O contexto da revolta dos índios de Reritiba é o da existência, em simultâneo, de duas legislações: a que conferia aos religiosos o direito de administrarem os aldeamentos indígenas e a que permitia a administração civil, havendo, portanto, dois modelos de aldeamento que ao longo dos tempos tiveram, um e outro, os seus adeptos e os seus detratores. Isto porque os governantes portugueses não tiveram uma política indigenista consistente, antes se pautando pelas conjunturas.
Na manhã do dia da festa de São Miguel, a 29 de setembro, ao terminar a celebração da missa e quando se preparava a procissão, um seminarista jesuíta na aldeia golpeou, com um pau, a cabeça dum índio músico mal este acabara de descer as escadas do coro e se encontrava na rua, próximo da igreja. O motivo foi o ciúme por causa de certa índia desejada por ambos. Na tarde desse dia, os familiares do jovem reuniram um grupo de apoiantes e manifestaram aos padres o seu desagrado pelo ato. Para tentar sanar o problema, o estudante foi afastado de Reritiba e os dois padres que assistiam a aldeia acabaram por serem substituídos no mês seguinte de janeiro de 1744, uma vez que a sua gestão não era do agrado da população. Entretanto, um pequeno grupo de descontentes da aldeia fora ao encontro do Ouvidor (juiz) para o colocar ao corrente da situação e pedir alguma provisão a respeito. No regresso a Reritiba estes índios diziam-se mandatados pelo Ouvidor como os novos governantes da aldeia e os novos padres foram expulsos. A sublevação dos índios, a atitude do Ouvidor e o posicionamento do capitão-mor do Espírito Santo face à situação foram questionadas pelos jesuítas, pelo Governador e pelos membros do Conselho Ultramarino que aconselhavam o rei em matérias relativas ao império português, por serem consideradas como imprudência, mau exemplo e perigosas em face dos índios aldeados de Reis Magos e de Cabo Frio (São Pedro da Aldeia), todos indispensáveis à segurança e prosperidade da região, temendo-se a multiplicação de rebeliões, como acontecera no Nordeste.
A volta dos jesuítas a Reritiba, em posição de força, foi precedida de confrontos dos quais resultaram dois mortos e alguns feridos, com os índios revoltados a saírem da aldeia e a formarem uma nova em Orobó, havendo notícias de nela albergarem certos criminosos procedentes de outras capitanias e furtando-se à obediência ao poder central.
Jornal: De Benavente a Benevente…. explique.
No século XVIII com a finalidade de dar um novo impulso ao desenvolvimento do Brasil, várias aldeias foram elevadas à categoria de vilas. Entre estas a de Reritiba por ter o número adequado de habitantes e ser produtivamente auto-suficiente. Data de 8 de maio de 1758 a assinatura régia do alvará de criação da vila de Benavente na aldeia de Reritiba. Essa ordem chegou ao Governador na Baía que, a 11 de janeiro de 1759, expedia ao Ouvidor da comarca da capitania do Espírito Santo essa mudança. Porém, só em 1761 foi executada a criação do município, com a instalação da Câmara de vereadores, com direito de erguer pelourinho, símbolo da autonomia municipal, poder cobrar impostos, criar posturas municipais, possuir cadeia pública e ter a presença de um juiz de fora para os julgamentos. O juiz de fora era um magistrado de nomeação régia, literalmente de fora da vila, sem residência, ligação familiar ou íntima com ela, como meio de conservar a imparcialidade e a isenção nos julgamentos. Criada como Benavente, homónima da vila com o mesmo nome em Portugal, com essa nomenclatura se manteve ortograficamente até que na 2ª metade do século XIX começa a aparecer como Benevente. Com efeito, a semelhança é muito próxima, apenas muda a vogal da 2ª sílaba. Uma hipótese é a de que quando os imigrantes italianos começaram a aprender o português, a proximidade entre as duas línguas levou a um fenómeno linguístico conhecido como transferência, é que em Itália existe a comuna do Benevento, na região da Campânia.
Jornal: Anchieta do porto para o porto: ou seja, chegam os portugueses e o padre pelo porto e é por esse porto que também chegam as mercadorias e saem nossas riquezas pelo mesmo porto?
Ao longo da história os litorais e os grandes rios navegáveis sempre foram atrativos para as populações que neles encontram condições favoráveis à circulação de pessoas e de mercadorias, ou seja, transporta-se mais, com menos obstáculos de relevo, e a preços mais econômicos por essas vias do que pelas vias terrestres. Anchieta localizada na foz do rio era conhecida pelo porto onde podiam chegar embarcações pequenas e de médio porte para entrada e/ou escoamento de gentes e mercadorias vindas pelo mar ou chegadas das montanhas do interior ou como abrigo durante as tempestades. Em épocas passadas, quando não existiam estradas ou as tribos de índios bravos atacavam os que se aventuravam pelo interior, o porto de Anchieta desempenhou um papel relevante na dinâmica da economia local e regional.
Jornal: Sua tese: “Os Jesuítas no Espírito Santo 1549-1759: contatos, confrontos e encontros” – sintetize. Explique de forma sucinta o motivo para a produção desse material.
No conjunto do Brasil os estudos sobre o Espírito Santo são escassos, não obstante os esforços realizados na última década. Para lá das fronteiras do Brasil essa produção científica é ainda mais desconhecida. Contudo, depois de visitar pela primeira vez o ES e tomar conhecimento da sua trajetória dentro da região Sudeste, interrogava-me sobre o porquê da sobrevivência deste território, quando as capitanias mais próximas haviam sucumbido face às mais poderosas, como foram os casos de Ilhéus e Porto Seguro, aglutinadas pela Bahia e a de São Tomé, engolida pelo Rio de Janeiro. Parecia-me o caso da pequena aldeia gaulesa das histórias em quadrinhos do Astérix e Obelix. Afinal o que se passara aqui? Foi em busca dessa resposta que dei início à pesquisa. Escolhi os jesuítas pela especificidade da Ordem face aos novos mundos e à aproximação relativamente ao outro. Do ponto de vista das ciências sociais não se pode falar em construção do Brasil sem os jesuítas e o seu posicionamento face àqueles pelos quais vieram: os índios. No desenvolvimento das missões tiveram de interagir com os poderes locais e o central, bem como abrangem as relações políticas sociais e económicas dentro e fora do Brasil, uma vez que sempre agiram como uma instituição transnacional, em conformidade com as suas normas de formação. Pela abrangência que adquiriram estudar a ação da Companhia de Jesus é um passo importante para a compreensão das dinâmicas e das linhas de força na história.
Jornal: Como vê a história de Anchieta, cidade e do padre. Houve muitas perseguições para com os jesuítas?
A história de Anchieta cidade está por fazer, existem estudos, poucos e parcelares, obviamente com o mérito de contribuírem, cada um por si, para esse todo. Quanto à história de José de Anchieta, o número é superior, mas com muito espaço ainda para novas leituras, sendo fundamental o estímulo a ambas, porquanto elas permanecem ao longo dos séculos indissociáveis. Coesão social, diversidade e capital social são princípios estratégicos das políticas culturais.
Jornal: Há ao lado do santuário, uma saída que dá para um túnel, e o próprio santuário é construído AM lugar estratégico, com janelas em posições especificas, por quê?
Pelo mesmo princípio que na Europa existem aqueles monumentais castelos estrategicamente edificados em locais defensáveis para sobrevivência das populações face aos ataques de inimigos.
Em se tratando de Reritiba há um importante texto jesuítico que descreve o ataque de uma tribo hostil. Por ele se vê como é importante para a defesa dos da aldeia a sua posição elevada face ao rio e ao mar, portas naturais de acesso que tanto facilitam a entrada dos contrários, quanto favorecem as linhas de defesa dos habitantes. A posição geográfica de Reritiba/Anchieta coloca-a na rota das correntes migratórias dos índios bem como nas da circulação dos povos que se lhes seguiram. Durante muito tempo ela foi região de fronteira entre os ditos mundo civilizado e o mundo bárbaro. As condições físicas do seu porto face ao relevo e aos ventos predominantes durante todo o ano, fazem dele, dentro do litoral capixaba a sul de Guarapari, um porto de eleição. Mesmo com o atual desenvolvimento tecnológico podemos até dizer que é uma porta aberta para o Atlântico e deste para o mundo, se pensarmos nas modernas rotas dos navios e nas dos aviões. Se observarmos o corpo da igreja, sobretudo a partir do seu interior, são visíveis duas aberturas estreitas e compridas nos panos das paredes laterais. Tenho verificado que alguns lhe apontam uma função de ventilação, da qual não discordo em absoluto, uma vez que, com efeito, elas ajudam na circulação do ar no interior do templo. Contudo, a sua posição e forma dá-lhes uma outra função e utilidade, a de serem seteiras, isto é, fendas nas paredes através das quais quem está no interior se protege das setas arremessadas do exterior e com maior facilidade pode disparar as suas sobre os que se encontram de fora.
Jornal: Considerações finais: senti muita dificuldade em reunir material sobre a história de Anchieta. Dada a sua importância no Brasil como vê a santificação do padre e o desenvolvimento do município em se tratando de turismo religioso. Parece que ainda não caiu a ficha na cidade. Exemplo: no santuário, um guia apenas e neste momento de férias. Os fieis vão visitar o santuário e saem sem saber muita coisa.
Posso classificar a sua colocação de três formas: pertinente, relevante e atual. Para responder sucintamente à questão temos de entrar no campo das políticas culturais e equacionar da existência ou não delas e do tipo e pertinência das mesmas, quando existem. A nível global, nos últimos 20 anos muitos governantes começaram a incluir a cultura nas agendas governativas de desenvolvimento sustentável. Desde então fizeram-se vários estudos sobre o modo como as variantes culturais podem contribuir com respostas positivas em face dos desafios colocados pelo desenvolvimento social e económico a médio e longo prazos, proporcionando o aumento da qualidade de vida que conduz ao bem-estar social.
3 Comentários
1- qual é o documento que informa que os índios eram Tupiniquins? Quem os classificou assim?
2- Quais as outras nações ou sub nações indígenas habitavam? Os Purís vieram depois ou são dessa época?
3- Que tipo de informação esses sítios arqueológicos podem fornecer sobre os índios?
Sou descendente de Índio da Ponta dos Castelhanos daqui de Anchieta,e gostaria de saber pertenço as tribos dos Tupiniquins ou Tomiminos?
Estou fazendo uma pequisa sobre Manoel de Paiva, precisava muito conversar com Maria José dos Santos Cunha, como faço?
Estou fazendo um Artigo me orientado por Geraldo Lemos Neto e preciso de informações, ele sempre fala sobre a Maria José como historiadora sobre os Jesuítas.