Ponto de vista • Para um menino que não conheci…

Um menino se matou ontem. Era uma noite de chuva que traz enchente. Há uma certa comoção no ar. Logo, logo, ela passa. Ele virará memória. E os vivos e suas mortes diárias?
Precisamos falar sobre Kevin, sobre Laone, sobre o negro discriminado e assassinado, sobre a mulher vitimizada, sobre LGBTQ que sofre bullying, sobre o que não se enquadra em padrões estéticos impostos, sobre o refugiado rejeitado, sobre o que se droga em busca de anestesia, sobre quem respira muito fundo e diz estar bem, sobre ser diferente e ser massacrado por isso, sobre nós e nossas omissões disfarçadas de atos civilizados.
Há tanta dor esparramada pelo mundo e temos de fazer algo. Rápido. Dor vira raiva. Dor vira medo. Dor vira morte. Dor vira o humano em coisa.
Um garoto se matou no asfalto. Nem quis as águas do Itapemirim. Pulou da ponte e atrapalhou o tráfego. Seu corpo frágil, estendido no chão, incomoda os sensíveis de estômago, mas fortes de preconceitos. Se isso não é uma forma de protesto, não entendo mais nada. Só sei que nossa indigna ação não promove mudanças. A nossa boa educação é permissiva.
Você não sente essa dor dispersa no ar?

Comentários dos leitores

Williamn Eller Sampaio – “Eu o conheci, era uma alma boa e sofrida. 
As pessoas deveriam vestir as almas uns dos outros 
Aí sim, saberiam o que os cabe ou não sentir do outro… Julgar do outro. 
Que ele encontre felicidade e paz enfim”

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