Sentimentos de Medo e (In)Segurança: Embates e Jogos de Poder

 Raphael Pinto Gandolfo Sales / Psicólogo /CRP 16/4261 /[email protected]

 

Atualmente, um dos acontecimentos que mais tem causado preocupação e mudança de comportamento na vida dos cidadãos capixabas é a crise na segurança pública. Após uma série de eventos desastrosos como assassinatos, saques de mercadorias, roubos e assaltos, o capixaba ainda convive com o pavor e a prisão de seu “lar, doce lar”. Ao se caminhar nas ruas dantes povoadas e movimentadas, hoje se observa um cenário vazio e de medo.

Sabe-se que o principal fator para que isso tudo se agravasse é a manifestação por maiores salários para a Polícia Militar. Tal manifestação existe e resiste alcançando outras esferas da sociedade causando um mal-estar na população.

A Polícia Militar tem o seu importante e respeitado papel de garantir segurança e a ordem da sociedade, e com um cargo de tanto risco, não recebem o reconhecimento à altura. Tal reconhecimento que a Polícia Militar e seus familiares tanto lutam é financeiro, para voltar aos seus devidos postos de trabalho para que a sociedade retorne às suas atividades minimamente normais. Entretanto, essa onda de violência e outras problemáticas que a sociedade convive vão para além das condições salariais que exigem.

Além de serem pouco remunerados, muitas vezes os PM’s são submetidos a condições precárias e até mesmo insalubres de trabalho, utilizam ferramentas e viaturas sucateadas e sem condições de circulação, vestem fardas que levam rapidamente o sujeito ao esgotamento físico. Com isso, observamos que se torna necessária a produção de políticas públicas que garantam maior dignidade e Qualidade de Vida no Trabalho dos Policiais militares e Civis, desenvolver ações que promovam mais humanização nas abordagens corporais para que os Policiais não hajam de forma truculenta, maior treinamento e capacitações para que os mesmos saibam lidar com diversas situações do cotidiano.

Tem-se observado nos vários veículos de comunicação repetidas vezes que os manifestantes querem DIÁLOGO e NEGOCIAÇÃO com o governador do Estado, porém, até então, sem sucesso, a polícia gradativamente-ou aos pingos de conta-gotas- vai retomando as ruas e o cidadão capixaba se vê em uma situação de medo e de insegurança, pois, ainda evitam sair de suas casas, abrir seus comércios e resolver seus afazeres externos, enquanto isso, a economia do Estado tende só a se agravar, sendo que, o país já vinha sofrendo uma grave crise econômica e política.

Os movimentos e manifestos a favor de melhores condições de trabalho e de remuneração são válidos sim, mas, de formas pacíficas e organizadas de maneira que não coloquem em risco a segurança e o bem-estar social. Essas lutas que estão instauradas são coletivas, pois, interferem no modo de vida da maioria das pessoas. Por isso, é dever de todos a participação e o envolvimento na busca pelo funcionamento saudável e pela segurança da sociedade, pois, como dizia o filósofo Karl Marx: “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos”.

Sabemos que essa é uma situação delicada que exige decisões e parcelas dos governantes e da sociedade. Precisamos pensar em novas formas, mecanismos e estratégias para lidar com o sentimento de desamparo. Talvez, isso ainda vai perdurar por longos dias, mas, enquanto não houver solução, a sociedade padece nas mãos do perigo.

 

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