Um Laone, dois Laones…

De quantos ainda precisamos para perceber que não estamos sendo HUMANOS?

Era um menino de dezoito anos, como todos da sua idade. Sofria pressões por sua escolha sexual. Desenvolveu depressão e ninguém ouviu suas lamúrias. Cansado de lutar com este monstro, desistiu de brigar com a vida. Suicidou-se, talvez imaginando que seu sofrimento acabaria e deixaria uma mensagem com a sua atitude: respeito.

Esta é mais uma história que termina mal pela falta de acolhimento, de escuta, de compaixão. A depressão é uma doença séria e muito difícil de lidar sozinho, especialmente nesta idade de transição. Como Laone, muitos outros estão tirando a sua vida por não enxergar uma saída saudável. É conveniente dizer que foi a escolha dele. Será? E as suas escolhas? Você já se perguntou sobre elas? O que lhe faz pensar que as suas são melhores e mais maduras que a dos demais? Sim, somos livres para escolher como viver, mas isto não assegura que as escolhas sejam sábias. Lidar com certas influências do organismo requer apoio, muitas vezes. E o olhar preconceituoso? Sim, ele existe ainda em pleno século tecnológico. Numa época em que se prega a liberdade de expressão, não lhe parece um contrassenso agir na contramão desta atitude? Paga-se caro para ver um cantor como Pablo Vittar, mas não dá a mão, de graça, a um menino com um tipo parecido! Por quê? Não é famoso! Não está em evidência e, portanto, não pode tirar uma lasquinha do sucesso do outro.

Acredito que estamos vivendo numa época em que as pessoas apenas querem aparecer nas mídias. Fotos em excesso exibindo passeios de barco, carros caríssimos, fotos abraçadas com um ídolo… tudo para se sentir famoso, ainda que por tabela. Pois bem, nessa tentativa, o olhar do outro passa a ser mais importante do que o próprio olhar.

No caso em questão, percebo como as pessoas perdem um longo tempo criticando os defeitos alheios, baseadas em suas próprias carências, cada vez mais ausentando-se de sua responsabilidade social. O sofrimento de um também é o meu sofrimento! Somos uma unidade e, portanto, o que afeta uns, afeta o todo. Quando vão assimilar isso? Crises de identidade, de não saber como lidar com a própria vida, crises existenciais, estresses gerados pelo cotidiano e etc, são alimentadas por inquietações “pós-modernas”.

A depressão retira o sentido da vida!  É uma doença que atinge a humanidade desde suas origens, atingindo a autoestima. Tristezas constantes, falta de interesse pelas coisas, e outros sintomas, clamam por cuidado clínico, mas, mais do que isso, por um olhar compassivo, amigo, que possa oferecer o ombro e tornar este momento mais suportável.

A morte de Laone, e de tantos mais, aponta para a nossa incapacidade de parar pra ouvir, pra ajudar. Negligência? Egoísmo? É muito importante se colocar no lugar do outro e extrair-lhe o significado. O que eu poderia ter feito? O que posso fazer? E se fosse comigo? O mais simples: atenção, já que o tratamento fica a cargo dos médicos ou técnicos especializados no assunto.  Seria muito para você? Você perderia o seu precioso tempo para ajudar alguém? Largaria as redes sociais que tanto lhe ocupam, para apenas ouvir a realidade? Ficar nas redes falando é apenas mais uma forma de aparecer, a menos que a fala esteja engajada com a atitude.

Mexa-se! Não fique apenas entrando em movimentos da moda, como o ME TOO, a menos que realmente seja verdade. Sabe o que significa? Se fere a ela, me fere. Por que somente em relação às mulheres? Claro que isso é importante também, mas isso deveria ser para tudo e para todos.

Fica a dica: Somos responsáveis não apenas pelas nossas escolhas e suas consequências, mas também somos responsáveis por toda a humanidade!, como diria Jean-Paul Sartre.

“ Pessoas feridas ferem pessoas; pessoas curadas curam pessoas; pessoas amadas amam pessoas; pessoas transformadas, transformam pessoas; … Quem eu sou interfere diretamente naqueles que estão ao meu redor”. E agora, vai encarar ou continuar vivendo passivamente, assistindo mais mortes como esta sem nada fazer? Você faz parte disso, acorde!

 

 Por Tereza Erthal – Psicorapeuta/ professora da PUC/RJ

 

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