MOSTRA: “Uma Cidade, Duas Cidades”
Com estreia em 06 de novembro, o videoarte “Uma Cidade, Duas Cidades”, de Luciano Albertazzi Bravo, investiga a existência de duas Anchietas sobrepostas no mesmo espaço geográfico
Quantas cidades cabem em uma só e qual o papel do registro e da memória para a invenção de um local e de uma gente? Estas são algumas reflexões que proponho com o videoarte “Uma Cidade, Duas Cidades”, que será exibido pela primeira vez no dia 06 de novembro, durante a Mostra Paulo Gustavo, em Anchieta, Espírito Santo.
Pensar sobre esses temas nesta cidade é particularmente interessante. Há duas décadas, o turismo e a indústria fizeram a economia da pequena cidade crescer e se diversificar. Para mostrar este movimento, as imagens produzidas pelo poder público, pela publicidade empresarial e por grande parte do que é postado espontaneamente nas redes sociais acabam criando um balneário repleto de corpos, bens de consumo, experiências e comportamentos regidos pelas exigências do interesse econômico.
Entretanto, embrenhada na nova cidade, ainda existe a Anchieta da memória e do cotidiano. Os seus moradores habitam uma e outra, transitando entre elas, misturando o que encontram, escapando e tornando a voltar. Apesar disso, a cidade anterior é pouco documentada e tende a ser abolida do imaginário, das histórias e da própria linguagem, reduzida aos dois comandos frequentemente encontrados em placas pelas ruas: “vendo” e “compre”.
As cidades históricas e os grandes centros do país são muito documentados. Incontáveis imagens narram as histórias desses locais, de seu povo e das transformações pelas quais passaram. Talvez por isso, os seus moradores tenham tanta confiança em suas trajetórias. O mesmo não acontece no interior do país. Atualmente, grande parte de sua memória fotográfica está sob o controle de grupos interessados apenas em formar mercados consumidores e oportunidades para investimentos. Eles não produzem afetos coletivos. As pequenas cidades precisam de muitas fotografias que lhes mostrem que em cada uma mora uma gente, com modos de vida, história e futuro particulares.
A realização de projetos culturais relacionados à fotografia em municípios do interior é urgente e necessária. Um projeto como o videoarte “Uma Cidade, Duas Cidades” pode provocar algumas dessas reflexões, mas ainda é muito pouco. Seria preciso um conjunto de políticas públicas e muito trabalho para gerar uma educação e uma cultura ao redor da fotografia. Apenas assim se poderá capturar de maneira generosa a vida e o cotidiano desses locais e dessa gente. A tarefa é enorme.
Sobre o Autor:
Luciano Albertazzi Bravo é editor independente, escritor e fotógrafo. O videoarte “Uma Cidade, Duas Cidades” é a sua primeira obra audiovisual.
E-mail: [email protected]
Rede social: @luciano.bravo
Serviço:
“Uma Cidade, Duas Cidades” (videoarte, 8’06”)
Exibição na Mostra Paulo Gustavo – Anchieta/ES
Dia: 06 de novembro de 2024
Horário: 18 horas
Local: CEU das Artes, Rodovia do Sol, bairro Planalto (ao lado do Corpo de Bombeiros), Anchieta/ES.
Sobre o projeto – O videoarte “Uma Cidade, Duas Cidades” é um projeto realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, concedido pelo Ministério da Cultura/Governo Federal e pela Gerência Estratégica de Cultura e Patrimônio Histórico/Prefeitura Municipal de Anchieta. Além da direção e das fotografias de Luciano Albertazzi Bravo, o vídeo tem edição de Waldir Segundo e trilha sonora de Gimu. Somam ao projeto a coordenação de Ellen Krause Bravo, a consultoria e preparação de material pedagógico complementar preparado por Iris Maria Negrini Ferreira e a pesquisa local realizada por Maria Alessandra de Freitas Barros.