Finjam poses e fotos, postem mais

A crônica que segue é de minha autoria (Luciana Maximo) estou reunindo meus textos para um coletânia que pretendo lançar no início do ano que vem.

Tantas e tantas vezes fotografei o caos, as vísceras de pretos, pardos e pobres pedintes. Parem com essas frases vazias, regadas a falsos sentimentos nobres.

São vísceras espalhadas pelos cantos das estradas de chão, corpos em decomposição, ora queimados, ora devorados por animais, nas estradas que levam ao Orobó, nos becos de Cachoeiro, às margens de um monte outrora belo, em ruas de paralelepípedos, em vielas escuras, ou à luz do dia, plena covardia.

Ah, meus diletos e caros leitores! Vossas excelências se alimentam tanto das manchetes macabras. Estou em devaneio? Sentem mesmo piedade e revolta com as injustiças? Será? Ou é o fogo no parquinho que vos diverte?

Nunca têm coragem de denunciar um padrasto abusador, um covarde que espanca a mulher. Qual é o motivo da sua omissão? Eu sei que tu és covarde. Já cobri um feminicídio onde a vítima gritava por socorro e os vizinhos, bem ali, perto do Monte de Ver Deus, permaneceram inertes, entretidos com o celular. Para que socorrer uma mulher que vive na rua, não é?

Enquanto comungas aos domingos em templos sagrados, corpos apodrecem em gavetas de geladeiras. Meninos são mortos na ilusão de uma vida fácil, e tantos cortejos fúnebres são seguidos do vazio e frio “meus sentimentos”.

Eu? Não vou ser eu quem vai mudar essa desgraceira que tu tanto procuras nos jornais. Isso, meu caro, é por tua conta. Finjam poses, tirem fotos, postem mais. Uma hora, talvez, eu acredite que vossa felicidade é plena, no meio dos retratos da nossa gente deitada em poças de sangue.

Foto: Divulgação/ Internet

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