Mulheres ainda são alvos dos companheiros que dizem amá-las
Em Iconha, no Dia Internacional da mulher, o companheiro de Francisca Cibele, a matou a facadas e depois se suicidou. Em Anchieta, o pastor, João Pontes matou Leiliane no dia para ficar com os bens dela e em Cariacica, no dia 28/02 Romário Levi, matou a tiros Lauriete, porque ela teria ido a um churrasco sem autorização dele
Os números de homicídios contra mulheres no Espírito Santo não param de crescer. Dificilmente ao abrir um jornal de circulação estadual não se ver estampado em letras garrafais uma notícia relacionada à violência doméstica.
Nos primeiros dois meses de 2015, 24 mulheres foram assassinadas no Estado. O Estado ocupa a segunda colocação no ranking de homicídio de mulheres, medido no Mapa da Violência.
O pior dessa estatística é que esse crime geralmente é cometido por homens que dizem amar suas companheiras e não suportar perdê-las. Muitos deles declaram aos jornais que, se elas não forem deles não serão de mais ninguém.
São quase sempre os mesmos motivos que levam os assassinos a matarem suas companheiras, a possessividade e o ciúme. Há casos que é até difícil de acreditar, como o ocorrido no dia 28 de fevereiro, numa distribuidora de bebidas em Prolar, Cariacica. O pedreiro Romário Levi, 37 anos, matou a tiros sua namorada, a dona de casa, Ana Maria Laurete, 42 anos, porque ela teria ido a um churrasco sem a autorização dele. “Fiquei com muito ciúme ao saber que ela foi ao churrasco sem a minha autorização. Estava com a cabeça quente na hora, a gente discutiu, mas eu não queria fazer nada de mal com ela, só queria saber de tirar ela de lá”, declarou ao Jornal A Tribuna, o assassino.
Quando não é o ciúme e a possessividade, a obsessão acaba sendo um possível motivo também, esse pode ter sido o motivo do lavrador, Marco Antônio Travezani, 39 anos, residente na comunidade de Guaxuma, interior da cidade, matar a companheira, Francisca Cibele de Lima Modesto, 24 anos, a facadas, com quem morava há cerca de dois anos. Marcos deferiu pelo menos 7 facadas na mulher. Após o crime, o lavrador cometeu suicídio, se enforcando com uma corda pendurado a um pé de manga.
De acordo com a cabeleireira da vítima, Sheila Teixeira, Marcos era muito possessivo, quando a mulher ia ao salão fazer o cabelo, ele a levava e ficava a porta aguardando. “Um dia antes, ela falou com ele que havia alugado uma casa e que iria deixá-lo. Ele começou a chorar agarrado nos braços dela e pedia que ela não o largasse”.
Cibele disse a Sheila que eles brigavam e discutiam demais, “ele era muito possessivo e ciumento. Ela ia fazer o cabelo, ele ficava na porta esperando para ver o que ela estava fazendo. Eu tinha certeza que ela queria largá-lo, com certeza, ele deve ter ameaçado”, lamentou Sheila Teixeira, cabeleireira de Cibele.
Matou para ficar com o dinheiro dela
Os crimes não param contra as mulheres, as delegacias registram todos os dias ocorrências de violência doméstica. Em Anchieta, o delegado Milton Sabino, que respondeu até ontem, 16 pelo departamento, conversou com a Reportagem e afirmou que lá a maior demanda é essa. Milton relembrou ainda o caso da mulher que foi assassinada dormindo pelo marido, um pastor da Igreja Assembleia de Deus. O assassinato ocorreu no dia 03 de janeiro desse ano.
O pastor João Pontes de Oliveira, 33 anos, matou a mulher estrangulada, Lilian de Freitas Nascimento, 24 anos e a pauladas, e ainda, tentou assassinar a filha, um bebê de um ano e 11 meses. João disse à polícia que havia assassinado a esposa por ciúmes, mas a polícia não acreditou nessa versão, e defende a tese de que o pastor queria ficar com os bens da esposa, um veículo avaliado em R$25 mil, uma indenização trabalhista no valor de R$7 mil, objetos, como celular, aliança e cordões. “Terminamos o inquérito, mandamos para a justiça e ele está preso aguardando o julgamento. Ele alegou crime passional, mas nós entendemos que os indícios caminharam para latrocínio. Ele a matou, segundo nossa apuração para ficar com os bens dela”.
O inquérito já foi concluído e remetido à justiça. O pastor encontra-se preso em Xuri.
Ex-vereador de Iconha, ainda livre,
após matar a mulher há 11 anos
“Ele é um psicopata”, declara filho do ex-vereador de Iconha, o cabeleireiro Marcelo Marinho que atribui ao pai, José Inácio de Lima, que matou covardemente a mãe dele em 2004 e até hoje não pagou pelo crime, mesmo tendo sido condenado em 2009 a 14 anos de prisão.
Marcelo falou com a Reportagem que a beleza da mãe incomodava o ex-vereador, que fez questão de assassiná-la com golpes no rosto. Disse também que ele era possessivo, obsessivo e psicopata, todos os dias agredia a mãe com palavras e fazia questão de afirmar que iria matá-la, pois a mesma era uma vagabunda. “Xingava de todos os palavreados possíveis, que ela era puta e que iria matá-la, ela nem mais acreditava, mas um dia ele consumou o fato”, disse.
A revolta de Marcelo é que, mesmo após ter sido condenado, o pai continua em liberdade como se nada tivesse feito. “Meu sentimentos por ele são simplesmente de ódio, minha vontade é de arrancar os olhos dele vivo, e vê-lo gritar de dor, cortar a língua dele, quebrar os braços e pernas, e o deixar em uma cadeira de rodas, sofrendo até o último dia de sua vida. Para eu saber q ele em pensamento só deseje morrer, e ninguém faça isso por pena. Essa é toda minha vontade e sentimentos a ele”, afirmou.
“A lei deveria ser mais severa e imediata”
O delegado de Piúma, Milton Sabino, defende a tese de que a lei precisa ser mais severa contra maridos agressores
O delegado Milton Sabino, que lida todos os dias com a violência doméstica, em Piúma e em Anchieta, defende a tese de que a Lei Maria da Penha deveria ser mais severa e mais imediata. “Se a pessoa foge do flagrante, o estágio frangrancial deveria ser mais estendido, interromper o flagrante, enquanto ele estivesse foragido, deveria existir para que ele fosse preso a qualquer hora e momento. A lei deveria ser mais severa nesse ponto, para poder punir o agressor. O agressor comete o crime, depois se apresenta com advogado e vai ser solto. O outro lado é que as mulheres deveriam denunciar mais, o que vem sendo denunciado, eu creio que não deve ser nem um terço do que acontece na sociedade. Tem muita ocorrência, mas ainda é muito tímida essa denúncia. A mulher precisa denunciar na primeira vez que é agredida, deveria tomar uma providência também, muitas das vezes ela vem denunciar, mas se retrata logo em seguida, ou no mesmo dia, quando ela ver que o agressor vai preso”, ressaltou o delegado.
Com o marido preso, quem sustenta os filhos?
O delegado assegurou também que a Lei deixa a mulher desprotegida em muitos âmbitos. Como se sabe, muitas mulheres são agredidas pelos companheiros e permanecem em seus lares por não ter condições de se manter. “Deveria ser diferente, mas não se preparou o estado para colocar em prática os mecanismos de proteção. Um mecanismo é a Casa Lar, uma casa para abrigar as mulheres vítimas de violência, essa casa não existe em município nenhum que eu conheça, talvez tenha em Vitória, mas eu não tenho certeza disso. Deveria a lei prever essas casas para poder abrigar as mulheres vítimas de violência doméstica. O outro lado é o apoio financeiro, como vão sobreviver essas pessoas com filhos, com a única pessoa presa que mantém a casa? A lei de um lado quer punir, mas também puni severamente a pessoa que passa a não ter como sobreviver sem a renda do marido”, disse.
Faltam delegacias especializadas
A Reportagem questionou ao delegado Milton se não há poucas delegacias para atender a mulher vítima de violência doméstica e poucos profissionais femininos nesses espaços para receber a mulher violentada. Ele concordou e disse que realmente faltam delegacias especializadas para lidar com esse tipo de crime. “A Lei prevê assistência social e psicológica para a pessoa vítima, só que o Estado não está preparado para poder atender na plenitude e a demanda é muito grande. Deveria ter as casas lares onde as pessoas pudessem se recolher após a agressão, muitas das vezes ela é agredida e volta para casa para ser novamente vítima, ou até assassinada enquanto a pessoa não é detida. E a pessoa não é detida para o resto da vida. Ele fica 30 a 40 dias a ser solto e pode voltar a agredir a pessoa até matar”.
Anchieta dispara
Em três meses que o delegado Milton responde pela delegacia, ele afirma que os casos de violência contra a mulher na Terra do Beato são grandes. “Só no dia 12 tivemos duas representações por medida protetivas, requeridas pelas vítimas contra os agressores. Todo dia tem demanda, nossa demanda hoje nas delegacias é de violência doméstica. Temos inquéritos em todas as classes, em menor proporção nas classes média e média alta, porque se resolve muito mais juridicamente e civilmente do que denunciar as agressões”.
Janete defende o fim da violência contra a mulher
A deputada Janete de Sá conversou com a Reportagem no último dia 06, data em que recebeu um título na Câmara de Iconha em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Ela lamentou a violência contra a mulher no Estado. “Essa é uma das minhas principais preocupações, tendo em vista que é uma liderança que nós capixabas, não gostaríamos de ter, é inadmissível, temos que decretar tolerância zero a violência familiar e doméstica contras as mulheres, porque o Espírito Santo está em primeiro lugar em estado que mais mata no país e nós não podemos admitir esse índice. Temos que construir no nosso estado uma cultura de paz e conscientização, e por outro lado defendermos penas mais severas aos agressores das mulheres e nossas atitudes com relação a esse tipo de violência que muitas das vezes é cometida dentro de casa, em quatro paredes por maridos, ex-maridos, namorados, ex-namorados e companheiros das mulheres”, salientou Janete.
Oportunamente, a deputada frisou que, têm na Casa de Leis Estadual três projetos que está propondo, o Observatório da Mulher, a Sala Lilás nos IML’s no Estado e a Patrulha Maria da Penha. “Eu quero dizer para as mulheres, procuremos enfrentar esse desafio da violência contra a mulher para nos unirmos numa corrente de amor, porque só o amor pode nos ajudar nesse momento. Parabéns mulheres por esse dia, mulheres guerreiras, honestas, grandiosas mães, parabéns”! Parabenizou Janete de Sá.
A deputada Janete de Sá recebeu homenagem na Câmara de Iconha e afirmou que é preciso mudar as estatísticas da violência contra a mulher