Minha eterna La Loba!
No mito, La Loba canta sobre os ossos que reuniu. Cantar significa usar a voz da alma. Significa sussurrar a verdade do poder e da necessidade de cada um, soprar alma sobre aquilo que está doente ou precisando de restauração. Isso se realiza por meio de um mergulho no ponto mais profundo do amor e do sentimento, até que nosso desejo de vínculo com o Self selvagem transborde, e em seguida com a expressão da nossa alma a partir desse estado de espírito. Isso é cantar sobre os ossos.
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Aprendi como jornalista que o texto deve ser suado, sangrado. Hoje o meu está sendo chorado. Não vou me preocupar com vírgulas, pontos, pois estou em reticência… onde ela está? Pior que sei, mas não quero acreditar. Minha alma sangra de saudade. Quando ela entrava porta à dentro, a sala de aula ganhava um frescor, um ar de magia, alegria, simpatia. Tudo que rimava com ela; minha querida mestra Sônia Coelho. Além de despertar em mim um amor louco pela literatura infantil, pela sala de aula, ela foi muito além. Talvez possa começar a narrar assim… Era uma vez uma aluna “porra louca” que não se encaixava nos parâmetros do chamado “normal”. Sim, eu não queria vestir a camisa de força e me rebelava mesmo pelos corredores, salas. Contestava, transgredia, tudo para gritar meu socorro e não é que ela entendeu? Soube fazer a leitura perfeita de meu personagem. Também quem tinha uma lucidez acima da média, uma sensibilidade como uma antena, parafraseando o saudoso Rubem Braga como não entender aquela louca da matilha? Foi no colo dela que me deitei e chorei meu desgosto com a vida, com minha história, minha trajetória. Ela, sem julgar, disse: eu entendo! Ufa, alguém me entendia… Entendia e aceitava meus desconcertos, minha imperfeição, minha desconexão, descontrução…. Sim, eu estava ruindo na cocaína, na vida torta que quase se enveredou para o suicídio. Exponho Meus podres, meu descontrole para falar que alguém que me ensinou muito mais do que comportava em quatro paredes de uma sala de aula. Ela me ensinou a me amar, a amar a vida e ter força para dar uma guinada. Até então eu vagava à procura de mim mesma. Minha La Loba era assim, seios fartos, riso largo, sensualidade sem vulgaridade, sensibilidade à flor da pele. Talvez, por isso, como a Loba da história, ela tinha essa capacidade de transcender, de mutação, de uivar, gemer, de se cobrir de contos infantis e acobertar os da vida, principalmente a dos outros. Foi assim comigo Agora, ela sem me avisar parte, da adeus? Como fico eu? desnorteada, desconsertada, desvinculada. Mas aqui dentro de mim ela ainda canta, com tamanha intensidade que chega a estremecer meu peito. Hoje ela está por ai, contando suas histórias, rindo, correndo, como um raio de sol, de luar, sei lá. Só sei que está. Por isso quando eu estiver perambulando por ai, no nascer do sol, no chegar da noite, vou imaginá-la atravessando o horizonte, ensinando a alguém alguma coisa da alma. Minha La Loba partiu e eu fiquei aqui uivando de dor!!!!!
“Eu sou uma eterna apaixonada por palavras. Música. E pessoas inteiras. Não me importa seu sobrenome, onde você nasceu, quanto carrega no bolso. Pessoas vazias são chatas e me dão sono. GOSTO DE QUEM METE A CARA, ARRISCA O VERSO, DESAFIA A VIDA.