Baleia Azul X seita: psicóloga fala dessa onda maldita que mata pessoas

A professora, Psicóloga, Mestre em Psicologia Social, especializada em psicoterapia, professora e supervisora clinica na PUC, RJ autora da Trilogia da Existência Tereza Erthal bateu um papo com a Reportagem e falou sobre o perigo do jogo Baleia Azul paralelo as fragilidades humanas bem como seitas e gurus. Tereza experimentou uma seita e saiu a tempo antes que jogasse por terra o sucesso profissional e a própria vida. A psicóloga lembra que a internet foi um grande avanço para humanidade. Aproxima as pessoas, atualiza temas em tempo real, faz a pessoa presente em milhares de lugares do mundo que não seria possível fazer viajando, etc, mas também traz seus percalços. Um mundo de fantasia e até de abuso surgiu também. Pedófilos, abusadores em geral, gurus manipuladores…

 

Confira em tópicos a entrevista

 

Jornal – Desafio da Baleia Azul, proliferação de gurus na internet e na “deep Web” aparecendo desafios ainda piores?

 

  1. Erthal- Todo este contraste expõe a fragilidade das pessoas que buscam alguma coisa. O desafio da Baleia Azul, por exemplo, é uma espécie de manipulação de um poder abusivo, que se aproveita de adolescentes, fragilizados pela depressão ou algum distúrbio mental, proporcionando desafios até chegar à própria morte. Brincam com a vida alheia, sem a menor preocupação com as consequências de seus atos.

Da mesma forma, adultos que buscam mais espiritualidade em seu viver, procuram se atualizar com páginas que parecem oferecer O caminho. Sim, muitas oferecem um único caminho e chegam a brigar ou criticar as demais. Muitos nem percebem, mas há disputa entre os gurus na internet! Seria porque realmente acreditam em sua verdade ou será que existe um objetivo maior escondido em seus atos?

 

Jornal: Você já teve uma experiência com um guru, não foi?

 

  1. Erthal – Na verdade, sou uma escritora inquieta que vive estudando e pesquisando novos saberes. Fui apresentada a um trabalho que parecia trazer um método que faria mudar o olhar, isto é, como nosso olhar está sempre voltado pra fora (e isso é uma tentativa da consciência de tentar se preencher), achei interessante saber como seria esta forma de voltar o olhar pra dentro. Sou psicoterapeuta e trabalho com o método fenomenológico que se preocupa em captar como os fenômenos do mundo são vividos por uma consciência, mais do que pela captação externa, e me interessei em conhecer esta versão, talvez mais reduzida de algo próximo ao que já faço.

 

Jornal: E encontrou? Teve sucesso em sua busca?

  1. Erthal – Na verdade, não. A princípio, era uma espécie de curso online, o que me facilitava, dado o tempo reduzido que tenho. Era uma quantidade boa de leituras, com temas interessantes, mas uma espécie de linha dura. Havia uma tensão forte, se a pessoa não cumprisse as atividades ou não apreendesse (este era sempre o termo usado) do jeito que o guru ( e não era ainda visto assim) visse. Percebia um medo nas pessoas, mesmo que muitas achassem normal em não estarem em harmonia com o que era solicitado. A personalidade era vista como algo quase abominável, pois nada poderia pertencer ao ego. A proposta era se auto-observar, apreender as coisas do mundo (e este apreender seria assimilar tudo sem o auxílio do mental ou emocional), e deixar fluir. Uma proposta um pouco exagerada para os que não sabem sobre vibração. Assistia muitos se desesperarem por não conseguirem se desfazer de seus egos com suas crenças em geral, de suas emoções, e ai o mental “patinava” mais. Entendia que a proposta de fato era diminuir a racionalização e o colorido emocional, exagerado diante das vivências, para entrar em contato com o que vivia realmente. Nesta minha interpretação do método, obviamente criticada por não ser fiel ao proposto, estava contido um pouco do que trabalho em minha clínica. Entrei de cabeça nisso. Fui pessoalmente ao curso de uma semana para me experienciar. Já tive a grande surpresa de verificar que o responsável se apresentava muito carinhosamente às pessoas, muito diferente do carrasco que era na internet. Questionei e a resposta foi que se tratava de um personagem necessário pra colocar ordem. Segundo ele, as pessoas tinham que ter isto pra voltar-se pra si. Achei estranho, um pouco esquizóide, mas vivi. Estabeleci um bom vínculo com ele e o grupo, a ponto de ser chamada para trabalhar com ele.

 

Jornal – Acabou se envolvendo demais, não?

 

  1. Erthal – Acabamos nos envolvendo e não percebemos o objetivo por detrás da proposta. Aceitei e acabei trazendo para o Rio o primeiro curso deste senhor. Até então estava muito empolgada com uma nova forma de trabalho, pois já estou há 40 anos na clínica. O curso foi um fiasco no sentido técnico. Não havia uma pauta, material, organização de ideias, etc. A platéia era de psicólogos que não aceitava explicações mirabolantes como a declaração deste ser que se dizia um golfinho azul, que era a sua primeira e única encarnação na terra e que estaria aqui para cumprir este trabalho ( protótipo da baleia azul? Kkkk). Ora, já ai se mostrava um conflito: se veio para cumprir uma meta destas, deveria ter recebido este trabalho das “Esferas” e não tendo sido criado por ele mesmo, além de não ter que visar lucro, próprio do mundo dual que vivemos. Contudo, muito vaidoso, afirmava o tempo todo a sua criação. Ágil nas palavras, ia tentando convencer as pessoas da sua veracidade. Depois deste curso, muitas coisas, em apenas três semanas, foram surgindo e fui sendo procurada pelos discípulos dele, talvez por eu ter ficado na linha de frente e ser psicóloga. Eram situações inusitadas que aumentavam o conflito interno delas. Muitas deprimidas, outras em surto, uns falando em suicídio, etc. Foi, inclusive, num período que havia discutido com ele pelo telefone e sua atitude foi me deixar 20 dias sem contato. Fiquei sozinha tentando acolher os que se encontravam naquele estado. Vi coisas inimagináveis! As coisas vão aparecendo, nem precisamos procurar. Rompida com ele, mas não exibindo esta decisão publicamente para não interferir no processo deles, sofri ao ver quão vulneráveis estas pessoas estavam e como o medo era o braço forte imposto neste trabalho. Fiquei muito abalada por ter entrado e, com o meu nome, ter trazido muitos pra lá. Como eu fui cair nesta lábia! Fiquei mal comigo mesma e não podia simplesmente sair. Tinha que me disponibilizar, se necessário. Juntei-me a outros insatisfeitos e compomos um “grupinho de cozinha”, no Messenger, para discutir nossas idéias. Particularmente, podemos falar, criticar quem quer que seja. Isto não constitui um crime! Mas, tal sujeito manipulador, plantou uma pessoa neste grupo que veio com as perguntas que tínhamos, que fotografou parte da nossa conversa, convenientemente, e passou pro guru. Este ser nem hesitou em expô-la, inclusive com fotos, chamando-nos de criminosos, bandidos e eu, como a chefe da quadrilha (expressão dele). Fiquei chocada e me propus a aceitar um “hangout” para me posicionar, coisa que até então não havia feito. Nele, exponho tudo! Claro que o guru, que não aceita que definamos o trabalho dele como uma seita, ficou furioso. Ele podia ter uma atitude invasora, mas não podíamos nos defender. Mas o medo não faz parte do meu vocabulário, ainda mais já conhecendo o tipo. A partir daí, mais ameaças a mim e ao grupo. Nomes como burra velha, aquelazinha do Rio, bandida, criminosa, e por aí, foram-me atribuídos no Youtube. Criamos uma página chamada Revoltados Humanos, cujo objetivo era dar voz aos que estavam entalados com tantos bullings. Claro que isto enlouqueceu o homem. Vídeos quase diários ameaçando processos, incitando a agressividade dos que lá permaneciam. Era um comportamento habitual dele, depois vim a saber, pois bastava aparecer algum guru com algo inovador para ele procurar arrebentar a imagem dele nos vídeos. Somente ele era o correto! Culminou agora com um processo contra mim e contra outro componente, também presente no grupo e com influência na mídia. Tomei minhas providências, claro. Ao me inteirar do que se tratava, ficou bem claro que a intenção deste ser é dinheiro.

 

Jornal – Está correndo o processo?

 

  1. Erthal- Sim. Já foi marcada a primeira audiência conciliatória. Meus advogados estão estudando tudo. Mas o que importa é que a ideia de usar as pessoas, de manipulá-las pelo medo e de visar poder e grana, ficou bastante nítido. Não se trata de um processo moral, para defender uma honra. Na verdade, tudo o que prega para os ajoelhados, não aparece em sua conduta: “não se pode reagir a nada porque isto é uma atitude da personalidade; não se pode usar o mental ou se descontrolar porque seria do ego”, etc. Tudo o que ele faz e demonstra no processo. Sua vaidade foi afetada; seu ego foi dilacerado com os depoimentos vivos de tantos! Agora é esperar.

 

Jornal: Você acha que isto se assemelha ao desafio da Baleia Azul?

T.Erthal – Claro. Ambos despersonalizam o outro e impõem um poder capaz de levar a determinadas atitudes. É preciso deixar claro que as pessoas vão inocentes, em busca de algo mais espiritual e se deixam seduzir pelo tema. Uma vez lá dentro, fica mais difícil examinar de forma objetiva. Coisas incríveis como não fazer mamografia ou qualquer exame porque vai prejudicar, etc são colocados sem freio ou equilíbrio. Sabe um jogo de xadrez? Se você é uma peça, não pode saber qual é a estratégia. É preciso sair do tabuleiro e ver o jogo de cima. Foi o que fiz e tudo se tornou bem claro. É muito perigoso, se a pessoa não tem uma personalidade estruturada, uma estima adequada. Este guru em particular, mal conhece sobre personalidade e suas nuances. Não há formação na área humana para dar conta das consequências!

É um teatro apoteótico! Isto confirma a farsa do trabalho. Confunde não dominar com o mental, com se tornar incapaz de pensar por si mesmo. Para uma pessoa que se diz acima das dualidades, que veio para preparar pessoas para uma mudança de consciência, que não se agarra aos valores deste mundo, um processo visando uma enorme quantia não seria em si um contracenso? Acusações sem o menor sentido!

 

Jornal: Soube que ele chegou a ficar na sua casa por uns dias, é verdade?

 

  1. Erthal – Sim, por seis dias. Tudo para facilitar o curso e ajudar a ele que estava numa situação financeira difícil. O curso, inclusive, foi dado no meu consultório. E embora ele tenha se alavancado a partir daí, nada disso é considerado. Sua arrogância transcende os reconhecimentos. Existe uma máxima na Psicologia que diz que quando ajudamos alguém, o ajudado se sente inferiorizado por não ser capaz de fazê-lo sozinho. Como o outro é testemunha do seu próprio fracasso pretende destruir a fonte da ajuda, como se fosse destruir provas contra si mesmo. Uma atitude muito freqüente naqueles que não confiam no próprio taco! Não se trata mais da defesa de uma imagem visando a “pureza” de um trabalho, mas mais uma oportunidade de obter poder e grana de forma fácil. Fico me perguntando por que estes gurus não trabalham como todo mortal e ficam pendurados na internet tomando conta da vida dos outros. Acham realmente que tem um lugar privilegiado e precisam ser sustentados para ter espaço garantido? Fica a questão pros iniciantes. Alguém que se diz acima dos demais por achar que reúne condições evolutivas e usa meios desonestos para obter poder sobre os outros, já traz uma questão importante a ser pensada. Embate de idéias é necessário! Mas o que se vê, é embate de pessoas!

 

 

Jornal – Você não tem medo do que as pessoas vão pensar por ter entrado nessa, com a sua profissão?

 

  1. Erthal – Não. Como lhe disse antes, não sinto medo. Foi uma terrível experiência sim, mas tenho recursos suficientes para sair ilesa. Meu problema foi ter sido usada, o meu nome e o monte de pessoas que me seguem, para fins desonestos. Acabei convidando pessoas para entrar nesta furada. Mas me responsabilizo pelas consequências do meu ato, e vi que os que me seguem são pessoas muito bem estruturadas. A psicologia dá conta destes nós emocionais muito bem. Foi uma tremenda aprendizagem pra mim! Agora sou porta voz contra todo o sistema de controle sobre as pessoas.

 

 

Jornal- Suas considerações finais

 

T.Erthal – Concluo dizendo que permito que as pessoas saibam do que estou vivendo para que tenham uma visão mais crítica ao procurar seguir alguém. Seguir alguém já é em si um grave problema. Seguir alguma teoria ou prática precisa de mais vigilância. Este processo veio a calhar para que tudo seja colocado em pratos limpos numa mesa. Espero que as pessoas se espelhem aí e se recusem a seguir cegamente alguém. Esta foi a proposta para mostrar aqui o que de fato está acontecendo. Agradeço a você a oportunidade para isso ser viável.

 

O jogo Baleia Azul surgiu na Russa, os desafios levam ao suicídio

 

O termo jogo da Baleia Azul refere-se a um suposto fenômeno surgido em uma rede social russa, ligado ao aumento de suicídios de adolescentes. Acredita-se que o jogo esteja relacionado com mais de cem casos de suicídio pelo mundo, havendo fotos de feridas auto-infligidas compartilhadas em redes sociais, juntamente com as hashtags do jogo.

O jogo baseará-se entre a relação entre os desafiantes (também chamados jogadores, ou participantes) e os curadores (ou chamados de administradores). O jogo envolverá uma série de tarefas dadas pelos curadores que os jogadores deverão completar, normalmente uma por dia, algumas das quais envolvem automutilação. Algumas tarefas poderão ser dadas com antecedência, outras poderão ser repassadas pelos curadores no dia, sendo para última tarefa o suicídio. Acredita-se que o criador desta modalidade de jogo seja o russo Filipp Budeykin, que aliciava jovens e adolescentes para tais grupos de suicídio desde 2013.

 

 

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