ARTIGO – A COR DA MINHA BANDEIRA
Nelson Morghetti Júnior (*)
Nos últimos meses, em relação à atuação dos órgãos de investigação e poder judiciário, estamos presenciando uma verdadeira “caça às bruxas” generalizada, onde todos os lados, com a arrogância peculiar de quem tenta impor sua verdade, sem piedade, condena ao “limbo” toda ação que contraria seu ponto de vista.
Dizer que o Poder Judiciário é tendencioso, ou persegue apenas Lula (que já não detém o poder) e deixou seus principais opositores (protegidos com o manto do mandato) fora da “chibata”, é, com o perdão da imposição de minha verdade, visão míope.
Ora, a democracia que vivemos, em alguns aspectos, possui regra construída no jogo de balcão, arquitetada de forma a criar uma redoma protetora em favor de agentes públicos inescrupulosos (cujas bandeiras atingem todas as cores) os quais, convenhamos, não dão à mínima para as milhares de vítimas que sucumbem diante da falta de políticas públicas que possibilitariam resgatar cidadania e dignidade humana se colocadas em prática. Isso é fato!
Sendo um pouco mais objetivo, deve ser destacado que o modelo defendido por todos os governantes nas últimas décadas de construção de nossa democracia permite que o Presidente da República seja protegido e intocável em relação a crimes que não se relacionam com o mandato, assim como o colegiado congressista também só é atingido se se deixar tocar.
Triste é observar a miopia exteriorizada por pessoas que insistem em dizer que ninguém mexe com Michel Temer, Aécio Neves, e outras figurinhas mais (que também não merecem respeito), que sustentam o status de detentores de mandato eletivo, e que apenas o Lula é vítima de uma conspiração, onde está sendo atacado apenas porque está bem nas pesquisas e que se não participar do processo eleitoral será um golpe.
Ora, convenhamos!
Míope a visão apresentada, uma vez que centenas são os políticos, das diversas “alcateias” registradas no TSE, que estão sendo investigados, destacando que tantos outros já foram denunciados e outro bocado já foi condenado, e não é ético surgir com um clichê do tipo copiou/colou para sustentar um argumento de inocência ou perseguição que já não mais se sustenta.
O que deveria ser destacado é que após quase 15 anos no Poder (PT), esse cidadão “santificado” (Lula), junto com as demais peças de destaque de seu tabuleiro, mesmo com condições (ficaram 14 anos no poder) mantiveram incólumes as regras nefastas que mantém hereditariamente no poder verdadeiras raposas que, também míopes, não percebem o mal que fazem a si mesmos ou à suas próprias famílias.
Quando a democracia agoniza, não há vencedores ou perdedores… todos somos perdedores!
A coerência do discurso apaixonado (e ser apaixonado não é crime, mas ao contrário, demonstra a disposição de lutar pelo que se acredita) seria incorruptível se ao invés de santificar um lado e condenar ao mais profundo limbo seu antagônico, houvesse um pouco mais de honestidade em quem o defende.
Existem milhares de “apaixonados” que seguem o confortável caminho da miopia, mas que na simetria da filosofia narcisista, refletem-se desonestos tanto quanto aqueles que apedrejam, uma vez que buscam de forma cômoda uma base de informação construída na multiplicidade de mídia existente para condenar agentes públicos (que em regra são mesmo corruptos) apenas porque não pertencem ao mesmo grupo político que defendem.
O discurso da hipocrisia se destaca pelo fato de em um momento, quando interessa, esses agentes são santos, como no caso do temer ao ser indicado como vice da chapa do PT, e no outro, devido à perda do poder, são demônios, cujo único objetivo é condenar o povo à miséria.
Há de se destacar que as verdades defendidas nessas teorias que se conflitam, em regra, são construídas em terreno pantanoso, pois nascem de fofocas, no ouvir dizer, na rede mundial de computadores (que é por demais importante nestes tempos pós-industrial) e a própria grande mídia, mas que são informações absorvidas sem o mínimo de análise crítica que possam permitir a sustentação de uma tese de inocência ou mesmo de culpa.
Outro destaque que demonstra a falta de razão ao se defender o lula, hoje cidadão comum, que comprovadamente desonrou o povo brasileiro, é o fato de que a mesma fonte que sustenta toda essa ira contra o Poder Judiciário (fofocas, ouvir dizer,…) é a mesma utilizada como base para condenar sem o menor pudor as personalidades que se contrapõem ao jogo de poder da bandeira que defendem, cuja cor é semelhante ao sangue das milhares de vítimas que surge diuturnamente por falta de comprometimento com o que é público.
Talvez sendo também míope em minha posição, e se assim for ofereço minhas mais sinceras desculpas, acredito que o justo, o ético, o que construiria um caminho melhor para nossa democracia, seria reconhecer a culpa dos culpados, sejam quais forem, e lutar para erradicar de nossa democracia toda e qualquer metástase que a consome, quer sejam pessoas ou regras que as sustentam no Poder de forma intocável.
As mesmas regras combatidas por esses oradores de plantão que defendem lula e toda e qualquer personalidade corrupta que compôs o governo do PT, convenhamos, são as mesas regras que por longos quatorze anos o modelo petista assegurou imutável no ordenamento, sendo que o foco da inspiração dessa manutenção foi e continua sendo unicamente a conveniência da manutenção da política de balcão, à custa da miséria de um povo que, convenhamos, merece respeito.
Justo, porém, destacar que essa prática ultrapassa a cor vermelha, para ser acolhida pela grande maioria dos políticos que compõe os partidos registrados no TSE e, consequentemente, os Poderes quanto conquistados em sufrágio.
Contudo, a coerência nos exige dizer que o PT não é lula e nem seus comparsas, e sim dizer que a militância que o compõe é digna de respeito porque acredita na proposta programática de seus estatutos, sendo que de certo, se dependesse dessa e de outras tantas militâncias das demais siglas existentes, nosso País exteriorizaria o gigantismo declarado em seu hino.
Eu ainda acredito que desfrutaremos de uma democracia plena, mas esse caminho terá que ser construído a “quatro mãos”, com coerência de todos nós, onde a bandeira a ser seguida não pode e não deve ter qualquer outra cor senão o conjunto composto de verde amarelo azul e banco.
Não há que se impor verdades que na intimidade da consciência de cada um, não surja um raciocínio que constrange, que envergonhe, pois, o único juiz que efetivamente não se pode enganar, é aquele que se encontra em nosso próprio íntimo, em nossa consciência, sendo certo que toda e qualquer imposição de ideias, em detrimento dos diversos saberes existentes, não legitima ninguém.
A bandeira a ser ostentada por todos que acreditam que nossa Nação é gigante pela própria natureza deve destacar as cores que representam nosso país, e para sermos coerentes em nossos discursos, temos que destacar acima de tudo a ética e a moral que elevam o caráter daqueles que ajudam a escrever a boa história, e não apenas passam por ela.
Essa é a cor da bandeira que, em minha opinião, deveríamos defender!
(*) Advogado (DOCTUM), acadêmico de Filosofia (UFES) e Pós-Graduado em Educação em Direitos Humanos (UFES)