Novas árvores para novos frutos: política em pauta
Pelo bem de Piúma devemos quebrar o círculo vicioso da política local: chega de ver o “bonde passando”
A primeira coisa que precisamos ter clareza é: a política e a gestão pública não são para beneficiar os eleitos e seus cabos eleitorais, mas sim os eleitores, habitantes do município, quem nele investe ou mantém imóveis.
Desde que me entendo por gente, ganha as eleições em Piúma quem mais promete emprego, o que tem gerado um alto custo pago pelos piumenses por décadas. Basta olhar para a infraestrutura de Piúma e comparar com demais cidades do Espírito Santo. O fato é que Piúma parou no tempo. Não foi por falta de recursos, parou porque elegemos aqueles que já se provavam incompetentes para mudar a realidade socioeconômica da cidade.
Você sabia que Piúma teve uma oportunidade de ouro desperdiçada? Foi uma oportunidade de se desenvolver como nunca antes, mas a desperdiçamos entregando a prefeitura nas mãos de quem já havia demonstrado ser incompetente. Essa oportunidade ocorreu entre 2013 e 2016, quando Samuel Zuqui foi prefeito. Piúma recebeu a maior receita anual de sua história. Foram, entre 2013 e 2016, mais de R$307 milhões. Se compararmos o quanto Piúma recebeu em gestão anterior, em 2009, com o que recebeu em 2014, o aumento foi de quase 42.9%.
Em 2009 a receita disponível nas mãos do prefeito era de quase R$39 milhões. Zuqui teve, só, em 2014 quase de R$91 milhões. Esses recursos eram repasses dos Governos Federais e Estaduais e não havia sido mérito de nenhum agente político local. O fato é que essa oportunidade foi desperdiçada pela incapacidade de gestão do prefeito da época e de sua equipe “técnica” que batia cabeça e pouco fazia.
Se tivéssemos tido na época um gestor eficiente, muita coisa teria mudado. Um desenvolvimento sustentável teríamos implementado. O caminho escolhido pelo então prefeito foi torrar maior parte dos recursos com folha de pagamento: nunca tivemos tantos cargos comissionados, gente despreparadas assumindo funções que deveriam ser estratégicas. A situação era tão estarrecedora que tivemos três pessoas ocupando a mesma função ao mesmo momento, o que só foi resolvido depois de denúncias realizadas nas redes sociais. Eram tantas as suspeitas de irregularidades que um grupo chegou a produzir um dossiê com dezenas de denúncias que foi entregue na Câmara dos Vereadores para ser analisado. Nunca tal dossiê foi apreciado pelos vereadores. O fato é que se na gestão anterior a Samuel, em 2012, a Câmara recebeu da Prefeitura R$1,6 milhão. Samuel repassou quase o dobro em 2013, o total de cerca de 4$2,4 milhões. Os vereadores até contrataram mais cabos eleitorais. Com tal benefício, como ficar contra o prefeito? O fato era que esse “agrado” dado pelo prefeito à Câmara daria para ter construído cerca de 200 casas populares nos quatro anos, seriam 200 famílias e cerca de 800 pessoas beneficiadas diretamente com uma casa. Mas a opção foi “torrar o dinheiro” sem claros benefícios para a cidade. Os quatro anos se passaram e a cidade continuou a mesma. Depois disso, outro velho político, Ricardo Costa, assumiu e, ainda que os recursos não fossem tão grandes, também se mostrou incompetente.
Mas todos os vereadores se calavam na (indi)gestão? Não, claro. Uns “gatos pingados” de vereadores realizavam constantes denúncias em relação a práticas suspeitas e a falta de informações. Há vídeos no YouTube que demonstram o presidente da Câmara da época fazendo séria denúncias de desvio de recursos na saúde, prática que supostamente envolvia a esposa do então prefeito. O ex-prefeito Samuel Zuqui e seu secretariado negavam-se a dar informações. A situação se agravou de tal modo que um mandado de segurança foi protocolado para obter informações. O que não foi respeitado pelo prefeito.
Em 2010 Piúma teve gasto de R$23,3 milhões com pessoal. Já em 2015 esse valor foi de R$41,8 milhões. Não foi uma ampliação por motivos de concursos, tratava-se de promessas de campanhas sendo cumpridas. Bastamos recordar quem eram os secretários municipais e quem ocupava outros cargos comissionais para juntar os pontinhos. Praticamente dobrou-se os gastos com pessoal. Não estou dizendo que o prefeito não deva contratar novos funcionários, mas esses devem ser qualificados e dar retorno para o município, o que não aconteceu. Salários de Secretários e de Prefeito foram aumentados de forma escandalosa. Muito dinheiro nos cofres públicos e a cidade suja e uma gestão marcada por greves de professores, greves de garis, greves de profissionais da secretaria de obras (teve até secretário sendo acusado de chamar os profissionais de favelados e prefeito defendendo-o. O vídeo está no YouTube). Teve também a “farra dos carros da Prefeitura”, tendo funcionários e secretários denunciados nas redes sociais por supostos usos indevidos dos carros da municipalidade. Manifestações de estudantes universitários que ficavam sem ônibus para ir para a faculdade. Denúncias dos gastos exorbitantes com bandas de músicas durante o verão. A gestão 2012 a 2016 torrou fortunas com shows enquanto muitos atendimentos de saúde precisavam ser realizados em Cachoeiro de Itapemirim por falta de condições de atendimento no hospital de Piúma. Torração de dinheiro público com o consórcio da saúde foi motivo de diversas denúncias verbais na Câmara dos Vereadores e nas redes sociais. E o desperdício de recursos com o caso de uma sub-secretaria ter sido indevidamente ocupado três pessoas ao mesmo tempo por, pelo menos três meses? Fato que só mudou após denúncias nas redes sociais. Tínhamos dinheiro em caixa, mas não tínhamos um prefeito competente para mudar a história de Piúma.
Enquanto se gastou R$41,8 milhões em 2015 com folha de pagamento, apenas R$13,2 milhões foram investidos em equipamentos e obras. Mesmo sem tantos recursos, em gestão anterior a de Samuel, em 2011, haviam sido investidos cerca de R$10 milhões em equipamentos e obras. É bom esclarecer que só em 2015 Piúma recebeu mais de R$23,2 milhões de reais em Royalties, sendo o 4ª município que mais recebeu esse recurso naquele ano, ficando atrás apenas de Presidente Kennedy, Itapemirim e de Marataízes. Em 2010 esse valor era praticamente 3 vezes menor. Deveríamos ter tido, ao menos, 3 vezes mais obras realizadas. Só com os Royalties Samuel teve em mãos um valor superior a R$69 milhões nos 4 anos. Nunca isso havia acontecido na história piumense e numca mais aconteceu. Perdemos o bonde…
Não podemos mais uma vez rifar nosso futuro. O nosso passado foi comprometido e precisamos aprender com nossos erros. Erramos por reeleger velhos políticos que não foram capazes de promover o desenvolvimento social e cultural do município.
Está claro que precisamos fazer outras escolhas para tomarmos outros rumos. Não se colhe fruto diferente plantando as mesmas árvores! Mas a mudança que Piúma precisa não será conquistada de forma tão simples, isso por dois motivos que se complementam: a) há muitos que desejam aquela Piúma que torrou recursos com cargos comissionados, na esperança de serem os beneficiados (muitos são figurinhas repetidas) e; b) porque os velhos políticos fazem promessas de emprego a cada pessoa que encontram nas ruas (só nessa época, pois nos outros períodos ignoram o povo). Num município com poucas oportunidades de desenvolvimento profissional (por culpa desses mesmos políticos) é comum os eleitores se agarrarem a essas promessas.
Por outro lado, a mudança deve partir da consciência de cada um de nós. Não devemos deixar os erros do passado se repetirem. Vamos pensar nos nossos filhos, sobrinhos e netos que vivem e viverão em Piúma. Se hoje as pessoas trocam seus votos por promessas de emprego foi porque no passado votamos nos que hoje voltam a pedir votos. Se novamente votarmos nesses velhos políticos, no futuro próximo serão nossos filhos, sobrinhos e netos que dependerão de trocar seus votos por emprego ou favores.
Os velhos políticos são os responsáveis por não termos hoje uma cidade com boa infraestrutura, com considerável desenvolvimento econômico, sobretudo turístico. Quantas vezes o trabalhador viu seus filhos dormirem com fome? Quantas pessoas tiveram que deixar Piúma para que pudessem ter melhores condições de trabalho?
A situação de Piúma, e dos piumenses, poderia ser diferente hoje se não tivéssemos desperdiçado oportunidades de escolhermos novos gestores. O fato é que não podemos mudar o passado, mas podemos transformar nosso futuro com as nossas escolhas de hoje.
Creio que não podemos deixar o bonde continuar passando e Piúma ficar para trás. Pelo bem de Piúma devemos quebrar o círculo vicioso da política local. Vamos deixar para trás o passado e àqueles que o representa. Façamos algo novo hoje para termos um novo futuro!
Cristiano Bodart
Cristiano das Neves Bodart é cientista Social, mestre em Planejamento Regional e Gestão de Cidades e doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo.