CRÔNICA: adeus Max

Bebemos, comemos, nos divertimos e morremos

A foto que ilustra a crônica é da Padaria Pão de Mel, o local onde funcionou o Supermercado Valjoto, onde trabalhamos juntos, Max e nós

É, a notícia do acidente na BR 101, próximo ao trevo de acesso a cidade de Guarapari hoje me deixou muito arrasada. Cortou meu coração redigi-la. Eu tive de narrar os fatos que envolvem a morte de um amigo. Um amigo de antigamente.

É, lá pelos anos de 1993, 94, 95, a gente se esbarrou muitas vezes. No auge de nossa juventude. Trabalhamos juntos no mesmo Supermercado, o antigo Valjoto. Max no açougue comandava e eu na padaria, fazia todas as confeitarias.

O bom mesmo eram os fins de semana, mesmo a gente pocado de cansado, depois de muito trabalho dava um jeito de se divertir. Na época, era beber e fumar Free. Aliás, tinha uma amiga da turma que amava fumar maconha. Eu juro que tentei, fizemos um coquetel de bebidas quentes com cerveja, uma vez, bebemos e dei uma bolinha, foi o suficiente para querer entrar dentro de uma jarra e me esconder, pois eu jurava que a morte estava atrás de mim. Que doideira aquele baseado. Depois eu decidi andar pelos trilhos do trem do IBC ao Km 90, na escuridão. Mery sabe disso.

Eu não me lembro bem com quem Max namorava, eu estava recém separada de um relacionamento aprisionador de seis anos. Queria mesmo ficar leve e livre, tinha corpinho de gatinha, 20 poucos anos. Eu acho que ele já estava com Luciana, com quem teve o Max filho. Uma amiga também da mesma época.

Naquela época, eu decidi viver a vida e queria mais era beijar na boca. Que doideira que era. A gente fazia vaquinhas para comprar bebidas quentes, o tal do Cortezano e Vodka Orlof estavam super em alta. Carla, Cris, Vandinho, Wirlen – meu irmão de alma, Elias, Elizarinda, era tudo de bom. Selvinho com toda doideira dele e Maria gostavam da gente.

Todos trabalhávamos no mesmo supermercado e aos fins de semana, os churrascos intermináveis, sempre tinha um engraçadinho que furtava uma garrafa a mais de bebida e levava escondido. Eram coisas de jovens que tinham muita responsabilidade com o trabalho e respeito um para com o outro. Mas juízo pouco.

Os meninos respeitavam nossas particularidades. Eu, Wirlen, Vandinho e Nelsinho morávamos juntos. Eram muita raça de jalecos brancos no varal. Antes era eu e Wirlen. Depois veio Vandinho. Teve o tempo de Elias chegando com o seu despertador, o despertador era um relógio no formato de galo que cantava quando despertava e todos ficavam putos da vida. Ele também ficou com a gente um tempo quando se desentendia com a mulher ciumenta dele. A gente se pegou umas vezes.

Cabia todo mundo no mesmo apartamento de um quarto e sala, com uma sacadinha, uma cozinha e um quarto de bagunça. Não tinha falta de respeito com ninguém. Eles sabiam que a minha praia e a praia de Wirlen era a mesma, a gente surfava na mesma onda. Max estava no meio da gente. Não tinha esse papo de hetero e gay. Éramos irmãos. Éramos amigos…  

Hoje eu recebi a informação do acidente, e não quis ir ao local por causa da forte chuva e porque estava com Jorge e Agatha, enquanto Ana estava na escola. Não ia pegar BR com chuva e com duas crianças para apurar acidente. Graças a Deus não fui. Eu não sei como eu iria narrar ao vivo a morte do meu amigo dos tempos do Valjoto.

Muitos anos depois, 20 anos se passaram e nos encontramos em Piúma de novo. Outros tempos. Max estava evangélico, em outro casamento e tocava o açougue dele. Eu estava no relacionamento de muitos anos também, e com dois filhotes a tira colo. Max avô e casado e morando aqui. Realmente, o tempo passou.

Infelizmente, não temos fotos da época, se há, não sei quem as guardou. Que tempo.

E hoje, eu trago esta notícia, caminhoneiro residente em Piúma morre em acidente na BR 101. Que tristeza! Na véspera do Natal, nosso querido amigo dos tempos do Valjoto vai embora e deixa de luto a sua amada família e os seus amigos de sempre. Segue em paz, nós já bebemos, comemos, nos divertimos e morremos. A gente se esbarra, pode crer! Adeus Max!

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