BRASÍLIA: é muito cacique para pouco índio
Jordan L.Alves – Doutorando e Mestre em Linguagem, Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF
Não há brasileiro que olhe para Brasília com, no mínimo, desconfiança. No meu caso, desapontamento, vergonha, mas, ao mesmo tempo, esperança de dias melhores.
Essa semana as manchetes dos principais jornais estamparam a prisão em flagrante do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), assinada pelo ministro Alexandre de Moraes do STF. Silveira é conhecido por muitos por surfar na onda bolsonarista e na radicalização da politica nacional. É mais do mesmo, a típica figura escroque da política brasileira. O mesmo deputado tenta barrar uma investigação do Ministério Público sobre gastos escusos da verba que tem direito como deputado. Em nome da família, dos bons costumes e da tradição setores nacionais concederam a figuras como Silveira o status de deputado (aquele que produz as leis)… – perdoem-me, mas nada mais bizarro!
Silveira foi preso por atentar contra a Segurança Nacional e contra o Estado Democrático de Direito ao ameaçar a Suprema Corte deste país e pregar o AI5. Para os desmemorizados, o AI5 foi o Ato Institucional mais duro da Ditadura Civil Militar que prendeu políticos e fechou as casas de leis. Além da barbárie das falas, podemos constatar em Silveira o desconhecimento da nossa própria história, afinal, é um escárnio um deputado pedir o fechamento da casa que ele foi eleito democraticamente para atuar.
O STF reafirmou a decisão de Moraes com unanimidade e, logo depois, a Câmara dos Deputados confirmou o veredito. É importante lembrar que cabe a uma democracia o livre exercício do pensamento, mas nunca o ataque interno ao sistema democrático. A decisão, mesmo que política, reforça a ideia de que as instituições estão em constante perigo e não cabe proselitismo político nesta hora. Seja da esquerda ou da direita qualquer ataque a democracia deve ser considerado um ataque a própria sociedade brasileira. É um crime contra a pátria.
Não escondo o que penso, na verdade, nunca escondi, portanto, que o STF faça de Silveira exemplo para os demais deputados e senadores deste país. É preciso lembra-los que eles são funcionários públicos, que nós pagamos salários absurdos e esperamos, no mínimo, ações legais e atuações éticas. Não cabe mais neste país ataques, rasteiras ou gritos contra nossa recente democracia. Aos que não concordam comigo sintam-se à vontade, afinal, o Estado Democrático Direito que eu defendo cabe o contraditório e o pluralismo de analises e pensamento, diferente do Brasil de Silveira.