RESPEITE O FAZER JORNALISTICO: TODO JORNAL É IDEOLÓGICO
Jordan L.Alves, Doutorando e Mestre em Linguagem – Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF
Pós eleições de 2014 houve no Brasil uma grande polarização política, isso não significa que nunca existiu fato similar, pelo contrário. O Brasil sempre foi um país polarizado: europeu – índio, liberais-conservadores, Vargas-UDN, Ditadura – democratas, esquerda e direita. A história nacional sempre foi marcada pela dualidade de segmentos ideológicos-partidários.
Justamente pela radicalização da política em 2014 e, pela suposta democratização da liberdade de pensamento nas redes sociais, muitos acusam os veículos de comunicação de aparelhamento ideológico ou, em suas palavras, de reportagens e publicações ideológicas demais. Esse fato é demasiadamente interessante pra mim, pois pesquiso as relações de poder no discurso midiático.
Eu preciso lembrar aos desavisados que todo discurso, toda palavra e todo ato de linguagem são ideológicos, portanto, um jornal pode falar que é totalmente imparcial, mas em uma profunda analise conseguimos perceber suas doutrinas ideológicas. Isso não significa que o jornalista quer criar um campo ideológico e influenciar os seus leitores, não que isso não possa ser feito, mas, na maioria das vezes, as relações discursivas e, consequentemente, de poder são tão fortes que acabam escapando do controle do próprio autor.
Infelizmente, portanto, não há, para o dessabor de muitos, um veículo de comunicação neutro, imparcial, pois toda escrita está orientada sob uma orientação ideológica que provém da origem do autor, suas experiências, vivências, crenças e dogmas. Desta forma, acusar um veículo de comunicação de propaganda ideológica é assumir a mais profunda ignorância, pois as aulas de interpretação de texto não eram apenas para cumprir calendário escolar, mas para exercitar a profunda experiência como cidadão. Cidadania vai muito além de votar, significar interpretar a realidade que vivemos conforme nossas características e experiências pessoais.
O mais importante jornal deste país, Folha de SP, mantém uma orientação ideológica sim, não podemos negar, mas busca uma pluralidade de pensamentos, pois entende que suas páginas são vitrines das mais diversas formas de pensamentos. Nesse sentido, a Folha de SP, por exemplo, mantém colunas de personalidade e pesquisadores tanto da direita, quanto da esquerda. Dessa forma, não podemos julgar o jornal apenas pela coluna publicada com pensamentos de direita ou de esquerda, pois cada vertente tem seu espaço. O leitor desatento que analisa a coluna de vertente de esquerda pode pensar que as configurações e doutrinas do jornal são “esquerdistas”, “comunistas”, mas, na verdade, o jornal só oferece um espaço para o pluralismo de ideias, fato normal em um sistema democrático. O inverso também é verdadeiro, cabe lembrar.
Em suma, serei direto como sempre. Não cabe um jornal um discurso neutro, pois não há neutralidade na palavra, na linguagem e no discurso, portanto, não cobre algo que não é possível. Cabe a você, leitor, entender os posicionamentos jornalísticos e entendê-los, criticá-los, desaprová-los ou incentivá-los, pois o ato de falar impõe a dominação e cabe a você ser dominado ou a rebelião.