Mathilde Rohr parece dormir

O texto a seguir é uma crônica qualquer semelhança com a realidade é pura coinsidência. Éo olhar da jornalista sobre a Rua que reside tantas famílias bacanas e trabalhadoras

O silêncio tem sido constante nestes últimos dias na Rua Mathilde, ‘Dotro Lado’ da cidade. Do lado de cá do rio, tantas famílias residem e criam seus filhos com o olhar num futuro ainda incerto.
É, de uns dias pra cá a rua tá mais silenciosa, as esquinas estão desocupadas. Há um clima de suspense no ar e um medo reprimido nos meninos que passavam o dia todo a procura de uma sombra para apertar o seu beque e ficavam o dia todo de papo pro ar.
Parece que agora a rua é de todos, como antigamente, que bonito que era, sem as casas do lado direito, as crianças corriam para árvore perto da casa de seu Zozolo para se balançar, a Regina Célia Ciciliote e a Mathilde era quase uma rua só, e todos na sua ingenuidade se balançavam, brincavam de pique e pega, amarelinha e queimada, “ô poco antigo” este tempo que não volta mais. Por um instante, hoje as crianças estão felizes, correndo, andando de bicicleta e patins pra lá e pra cá, brincam puras e inocentes. Um suspense no ar, elas não sabem de nada e os seus pais se entretêm na esperança de dias felizes.
Dizem que há o toque de recolher depois das 21h e mais jovens em breve vão se deitar. O aviso foi dado no último velório, entre os dedos, nas mãos cruzadas do corpo do jovem, uma bala de revólver, colocada por alguém que prometeu se vingar de cada gota de sangue dele derramado. Ô tristeza meu Deus, dos seus irmãos, de sua mãe, de nossa Rua e de tantas outras mães que ainda vão chorar.
A guerra do tráfico não perdoa e mata sem piedade, com hora agendada ou na oportunidade. E por aqui, a gente fica sem saber o que vai acontecer nos próximos dias, na próxima madrugada, ou quem sabe, meio dia.
Quem entra na vida já tem as regras e sabe que é preciso segui-las, uma hora a casa cai, e não tem lamento, nem arrependimento. Seja num fundo de um camburão algemado, numa cela escura deixado, numa pedra fria estirado ou num caixão de papelão. O sujeito tem que ser macho, muito macho, ou mulher com coragem até… É o jogo do poder, do ter a qualquer custo. A morte está no percurso.
Aonde de fato querem chegar, almejam alcançar mais fama, poder, carro, tênis de marca, cordões de ouro, relógios caros, dinheiro, mulheres, prazer, será?
A gente fica por aqui torcendo para que eles não se machuquem e nem machuquem ninguém, torcendo que encontrem um bom motivo para um risco tão perigoso pois estão na mira pra qualquer instante. Vida longa para todos!
O território já tem dono, foi o aviso dado, e outro aviso foi passado naquele cortejo lento, daquele menino sangue bom, outros vão se deitar no mesmo chão.
A guerra não tem fim, e, parece já ter começado. As armas já estão com suas munições e engatilhadas, praticamente, e, provavelmente, o soldado já foi chamado pra próxima vítima que será o alvo a qualquer instante.
Daqui, da Mathilde silenciosa, fica uma preocupação, mais famílias vão chorar nessa disputa por um território já demarcado. Vamos ficar contando as horas para que tudo isso tenha um final menos triste pra quem mora por aqui, às margens de uma mina perigosa. Somos solidários às dores, aos gritos, ao medo, somos solidários a todos e respeitamos as escolhas, em silêncio. Cada um segue a sua vida, o seu destino. A gente só quer o bem e contar histórias felizes. A dor já tem o seu preço, vira notícia, não tem jeito.

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