Artigo: Quando o racismo será expulso dos estádios de futebol?

*por João Fortunato

Até onde vai o limite de tolerância da Fifa com o racismo? O que os seus dirigentes ainda esperam acontecer para tomar atitudes drásticas e definitivas contra este mal que só cresce? E os clubes de futebol? E os jogadores de futebol? Sim, eles mesmos: vítimas e amigos das vítimas, quando acontecerá o “basta ao racismo no futebol” de uma vez por todas? É verdade, são muitas as perguntas esperando respostas de diferentes atores, porém todos importantes e igualmente responsáveis por esta violência psicológica – e por vezes também física – cada vez mais presente nos palcos esportivos. É certo que se agirem juntos, com firmeza e seriedade, pode-se sim banir de vez esta praga que divide humanos pela cor da pele.

Para efeitos de resultados, é possível comparar este quadro com o da violência praticada pelos hooligans, torcedores ingleses que se espalhavam embriagados pelos estádios, armados com canivetes e socos ingleses, dentre outros instrumentos da luta de rua, para provocar confusões e espalhar brigas. Tratava-se de uma rotina, acontecia em qualquer partida de futebol do campeonato inglês. À época havia até certa tolerância das autoridades, que reduziam a gravidade do problema à rivalidade esportiva, como se fosse algo menor. Até que em 1985, no estádio de Heysel, na Bélgica, em partida válida pela final da Liga dos Campeões, entre o Liverpool (Inglaterra) e Juventus (Itália), a briga entre torcidas deixou como saldo 39 mortes e mais de 600 feridos. Embora a violência nos estádios da Europa fosse observada há tempos, as autoridades esperaram acontecer uma tragédia para a tomada de decisões firmes e cabais, envolvendo clubes e federações.

Os clubes ingleses foram suspensos de competições internacionais por cinco anos. O Liverpool levou dois anos adicionais. O que hoje se vê hoje nos estádios ingleses, onde se disputa o principal e mais valioso campeonato de futebol do mundo, é reflexo das punições e obrigações impostas pela Fifa e pelo governo inglês, sobretudo após a violência de Heysel. Qual será o extremo necessário nestas manifestações de racismo, que atravessam estádios sem qualquer tipo de contenção?

Recentemente, só para citar exemplo recente e local, na partida entre Corinthians e Boca Juniors, da Argentina, pela Copa Libertadores da América, realizada na Arena Itaquera, em São Paulo, torcedores argentinos simularam gestos de macaco para provocar os jogadores corintianos. Um torcedor foi preso, pagou fiança e foi libertado para, já em seu País, longe dos braços da lei brasileira, repetir seus gestos via redes sociais. A mesma manifestação aconteceu na partida de volta, no La Bombonera, estádio do Boca Juniors, nos arredores de Buenos Aires. Lá nenhum torcedor foi preso, nada aconteceu com o clube portenho e nem com a federação local. E nada também com a Conmebol. Ou seja, as vítimas que se virem com a dor!

Os jogadores brasileiros, em razão do desrespeito e da violência que se tornaram contumazes, principalmente em jogos pela América Latina, deveriam deixar o campo cada vez que percebessem manifestações racistas por parte das torcidas. Os clubes deveriam apoiar estas atitudes e, por sua vez, no campo político, pressionar a CBF para que faça o mesmo em relação à Conmebol e exija que esta puna com rigor os clubes cujos torcedores praticam atos e gestos racistas. O teor da pena deveria ser tão duro ao aplicado aos clubes ingleses em 1985. Advertência, multa ou jogo sem torcida já foram medidas tomadas à exaustão e com resultados praticamente nulos, tanto que o crime segue sendo cometido.  Se o ‘universo’ do futebol quer verdadeiramente acabar com o racismo fora e dentro dos campos – é, também acontece! – urge que se somem todos os interesses envolvidos e que decisões firmes e efetivas sejam definitivamente tomadas. A maquiagem que hoje persiste – um finge que pune e o outro finge que é punido – não muda em nada este quadro absurdo que atinge a população preta, que não precisa ter vínculo com o futebol para também se sentir como alvo!    

*João Fortunato, jornalista, professor universitário e mestre em comunicação e cultura midiática

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