BENÇA VÓ! Prosa & Café
A crônica é da jornalista Luciana Maximo, que neste domingo cuida da vovó, Dona Nalzira Siqueira. Ela é vizinha de dona Anelina e Seu Emilio a mais de 50 anos. Mesmo com a idde avançada, o hábito das visitas é mantido semanlamente.
“As pernas ainda doem?” Pergunta dona Anelina para dona Nalzira.
“E, eu é daqui pra baixo, não posso nem barrer casa. Dói aqui, dói as pernas. Os ossos doem todos. Não posso dar passada grande.”
“De primeiro não tinham essas dor”, diz vovó Nalzira, 93 anos.
“Passar pano na casa num guento mais…”
“E eu, mudava um guarda-roupa de lugar, agora, se quiser tem de pedir os outros…”
A prosa é de amigas de mais de 60 anos. “Eu tô toda doída parece que tomei uma surra de pau, não posso suspender os braços”, frisa vovó tentando levantar os braços.
Dona Anelina, 93 e seu Emílio, 88, são vizinhos na Regina Célia Ciciliote, no bairro Niterói, há mais de 50 anos.
O café está na mesa, broa de fubá, broinha, pão doce, torradas, roscas, pão de sal e Margarina. São 50 anos com visitas em dia, semanalmente, e muita prosa.
Neste mundo da idade avançada não tem mensagens, nem telefonemas, tem presença com recordações, saudações, respeito e memórias. Hábitos de uma vida toda.
A pauta são as lembranças, elas riem muito, mas o assunto principal são as dores. As vovós não falam da vida de ninguém, vovó insiste em dizer que Jorge Henrique entra na casa escondido pelo forro da casa.
“Que ideia sua, trepá pelo forro da casa. Bonito se ficasse pegado aí em cima. Que ideia é essa, rapaz… Ele é arteiro e quetinho”, adjetiva o bisneto que nem aqui quase vem.
E a tarde de domingo vai se embora devagar. O tempo firmou um pouco, os passarinhos estão na calçada atrás da canjiquinha que ela mandou comprar logo cedo. A garrafa de café está na mesa com a merenda. Hoje é o nosso dia de tomar conta da vovó. Na casa dela, ela se sente acolhida. É aqui que ela recebe os amigos e quem quiser prosear com ela, tomar uma caneca de café pode adentrar que a casa tambem é sua. Bença vó!