OPINIÃO: tenho culpa, e o pecado é meu!
Em 2016, quando vivi um stresse além da medida, polticamente falando, fui diagnosticada pré-diabética, e recusei acreditar. Em 2020, já estava diabética e não me tratei. Em 22 também, em 23, não teve jeito.
Havia marcado salão de beleza, impreterivelmente, para hoje, 28 de novembro de 2023. Seria logo após a consulta com a dra. Ivina, a nossa médica da Unidade de Saúde da Família, do nosso querido e amado bairro Niterói.
Então, estava certa que ia fazer sobrancelhas, pintar os cabelos, fazer uma hidratação, cortar as pontas e fazer as unhas. Iria fazer compras à tarde: o material de construção para o muro da nossa casa, bermudas, roupas de academia, camisetas e presentes já antecipando o natal.
Hoje eu só me dedicaria a uma pauta, já tinha combinado com a estagiária, faríamos uma matéria sobre reservas para o réveillon. De quebra, iríamos trabalhar o canal novo do Youtube. Mas, tudo caiu por terra.
Antes de chegar ao consultório, peguei os exames no Laboratório, perguntei pelo Bruno e deixei um elogio. Que moço bonito e gentil.
Segui à unidade Jackson Pereira, conversei com todos os funcionários e pacientes. Quando chamada para a triagem, fui toda boba achando que estava tudo bem. A pressão estava ótima 12 x 8. O peso, havia emagrecido de julho para hoje, 5kg. Fiquei feliz, pouco tempo – a glicose estava 242. A mesma que amanheceu, algo estava muito errado. Na semana passada, por dois dias eu fui ao hospital, 467 e 470.
E não deu outra, a médica foi enfática: “vou aumentar a dose do Glifage, e agora, infelizmente, vamos entrar com a insulina. Os exames: melhoraram em alguns quesitos: colesterol está dentro do permitido, triglicerídeos, a vitamina D está boa e você não tem mais anemia. Mas o diabetes está descontrolado”.
Que tiro!
Dra. Ivina foi educada, gentil, e ainda me deixou com uma ponta de esperança, me disse que, seu fizer a dieta direitinho, for boa moça e seguir as orientações, eu posso regular a glicemia e parar com a insulina, mas, se não tomar os remédios e não fizer a dieta como deve ser feita, a dose pode aumentar. E, com esta doença, outras estão bem próximas.
A consulta terminou e eu fui para a farmácia com o isopor pegar as insulinas, as fitas, as lancetas, os outros remédios. Era como se o chão tivesse aberto numa imensa cratera, e eu tivesse caído de cabeça. Confesso que senti vontade de chorar. O salão passou a não ser mais importante para esta tarde de terça-feira.
Eu vim para casa retirar a roupa do varal porque o tempo fechou. E o meu tempo se fechou, completamente. Tudo está nebuloso, há medo, angustia, arrependimento dos excessos que cometi. Das cervejas que bebi, do pudim que comi.
Estou sem chão, ainda. Dia 19 consultarei com uma endocrinologista, e até lá, não me chame pra beber, não me chame pra comer. Eu sei que é fim de ano e as guloseimas estarão a postos nas mesas, mas, eu não tenho mais opção. Os prazeres se tornaram pesadelos.
E agora, eu confesso: Ai de nós se não tivéssemos uma unidade de saúde no bairro e uma equipe tão comprometida e pronta para nos orientar e cuidar. A quem reclame da saúde, e eu, neste momento, só tenho gratidão.
A pauta caiu, o cabelo está branco, as sobrancelhas não estão belas, as unhas, melhor não comentar. Hoje, eu ainda estou me recuperando da trágica notícia que a médica me deu, na maior elegância.
Eu saí de lá, mais uma vez, com vergonha, de sido tão fraca e tão desobediente. Eu tenho culpa e o pecado é só meu, cometi com a gula e meus olhos.
Quantos vão morrer amputados, cegos, infartados ou com AVC, insuficiência renal e sei lá mais o quê? O diabetes é fatal e a gente não se dá conta que ele chega em silêncio, e mata. Agora, me dê licença que eu vou lanchar: uma crepioca e uma caneca de café, sem açúcar. Tá servido “tá servida”?