7 DIAS: As aulas começam em Piúma amanhã, com a ausência do amado professor Carlson, que ensinou muito mais que conteúdos

O ano letivo no Espírito Santo começa no dia 05 de fevereiro nas escolas estaduais e nas municipais também. Em Piúma, o ano de 2024 inicia com um vazio na sala dos professores das Escolas Manoel dos Santos Pedroza e Lacerda de Aguiar e nas salas de aulas das referidas escolas.

ESPECIAL

Neste domingo faz 7 dias que o renomado professor História/ Geografia/ Inglês, Carlson Cruz faleceu depois de sofrer um infarto fulminante, na porta de sua casa, quando chegava de uma breve caminhada. Ele que deixou a sua marca na vida de milhares de alunos e na vida de muitas pessoas que tiveram a honra de conviver com ele. Em especial sua esposa, a costureira, Luciana Pereira Cruz, os filhos: os marinheiros, Thiago e Marcelo Pereira de Oliveira e os netos; Gabriel Ferreira de Oliveira, Sofia Carneiro de Oliveira e o bebê, Arthur Pereira Rosa Costa.

O Jornal Espírito Santo Notícias presta uma homenagem ao mestre que, certamente, se estivesse aqui estaria ansioso para chegar logo amanhã e retornar ao trabalho que ele amava: ministrar aulas, promover ensino-aprendizado. Carlson deixa muitas saudades, era um ser humano magnífico que registrou a história neste plano, deixa um legado especial. Um professor que amou e se entregou a profissão, um estudioso nato, formado em diversas faculdades. Cursou História, Geografia, Pedagogia, fazia Letras atualmente, ensinava inglês e possuía diversas especializações. Em Piúma lecionou em várias escolas e também foi diretor da Escola do Céu Azul.

Carlson era natural de Cachoeiro de Itapemirim, filho do ferroviário, Cleuso Cruz e a professora, Ruth Figueiró Cruz. Gostava muito de artes, tinha um gosto peculiar pela cultura, fotografia, história e música clássica. Antes da câmera digital, e do celular mais potente, ele tinha aquelas máquinas profissionais, adorava tecnologia. Era uma pessoa muito culta, eclético. Fluminense roxo, quando tinha jogo do tricolor, ele colocava o telão na garagem da casa dele para assistir junto com o irmão e com os filhos, quando estavam na cidade. Um homem dedicado a família e a esposa. Gostava de fazer surpresas para Luciana quando retornava da escola.

De hábitos simples, era caseiro, não era uma pessoa de sair para festas, farras nunca, os únicos lugares que ele vinha eram reuniões sociais, “aqui em casa e na casa da irmã dele, Carli. Ele tinha alguns problemas de saúde, algumas restrições. Era diabético, hipertenso e algumas outras questões, mas sempre tratava. Era muito disciplinado, algo admirável. Quando o médico falou que ele não podia mais consumir isso ou aquilo, sal, ele literalmente cortou tudo da alimentação dele, só comia o que o médico falava: legumes, coisas in naturas, nada industrializado. Ele tinha um rigor muito grande com a questão de alimentação, água, suco, não bebia bebida alcóolica, era uma pessoa extremamente disciplinada, uma pessoa muito correta com as coisas dele. Era tudo na régua. Se 2 x 2 são 4, erfa quatro, não tinha curva com ele, era o que era”, ressaltou a advogada Tais, filha do corretor Nelson Aves e Conceição Aparecida da Costa Carmo Alves, vizinhos e amigos há muito tempo.

AMOR PARA A VIDA TODA

O amor foi o sentimento que uniu Luciana a Carlson há quase 30 anos. Eles se conheceram no antigo Rosa Mar, bairro em que moravam em Piúma, hoje Jardim Maily. Ela é de Iconha, mas moravam em frente quando se conheceram. Ela era separada. “Quando ele chegou a Piúma e eu morava no prédio. O amigo dele subindo as escadas olhou para mim e falou: ‘Carlson, você vai casar com esta menina, ele falou ‘Deus me livre – não quero relacionamento não’. A gente foi se conhecendo, eu tinha paixão pela mãe dele a qual eu chamava de mãe. Quando eu fazia comida na minha casa, falava para ele chamar mãe para vir almoçar aqui. E começamos a nos conhecer”.

Carlson e Luciana, um vivia para o outro. Ele tinha verdadeira devoção pela esposa e pelos dois filhos, viviam muito bem. “Vivemos 28 anos, o tempo todo junto. Casa, passeios, viagens. Nunca dormimos uma noite sem nos falar. Ele adorava me fazer surpresas. Quando chegava da escola, um pouquinho mais tarde eu ficava preocupada. Ele colocava as mãos para trás e me pedia: ‘coloque as mãos para frente e feche os olhos. Aqui filha, eu trouxe costelinha de porco que eu sei que você gosta. Eu trouxe dourado’. Quando ele chegava cheio de sacolas eu falava. Já vem você com a sua Cleusisse. O pai dele se chamava Cleuso. Pensa numa pessoa que gostava de comprar, de agradar, ele foi um exemplo de pessoa. Ele foi o maior da minha vida e será para sempre”, garantiu a viúva.

Destacou Luciana que o maior orgulho do marido era ver os filhos encaminhados e bem sucedidos, tinha preocupação com o futuro dos meninos e com maestria de um mestre, ensinou os caminhos. Os dois são marinheiros.

EXEMPLO PARA OS FILHOS

Muito temente a Deus, o filho, Marcelo salientou que o momento é difícil, porém Deus está confortando de forma sobrenatural. “Por nós mesmo, a gente não fica forte, somos fortes por causa do senhor Jesus que vai nos guardando e nos acolhendo. Jesus disse que iria, mas deixaria o consolador para nós aqui na terra”.

Sobre o pai, o marinheiro disse que ele era bem crítico e assim o ensinou a ser. Dava força e incentivava, até mesmo quando era provado, como ocorreu em um dos testes na Escola da Marinha. “A gente saia de moto daqui numa CG pequena e ia até Vila Velha, para escola de Aprendiz Da Marinha do ES, chegava lá com as costas doendo. No dia da prova de corrida, física, o camarada que estava aplicando falava que eu não ia conseguir, só que meu pai sempre acreditou e me incentivava. E hoje já são 20 anos que estou na Marinha. Era um grande orgulho dele, eu e meu irmão estarmos na Marinha”.

Saber que o pai era um bom conselheiro e um exemplo de profissional orgulha muito Marcelo. “Foi bonito ouvir de ex-alunos dizendo que ele era uma pessoa que aconselhava a crescer, a andar mais longe. É bonito de você saber o amor que ele tinha pela pedagogia, pelo ensino. Por mais que haja diversidades atualmente, mesmo assim o fogo sagrado era aceso no coração dele. Ele amava o que ele fazia. Ele amava instruir, ensinar”.

Thiago, também filho, assegurou que o pai foi uma pessoa incrível na vida dele. “Ele foi uma pessoa que me incentivou muito, se hoje estou onde estou é graças a ele, ele quem deu o caminho para mim e para meu irmão, fez de tudo por nós. Eu só tenho lembranças boas, vou sentir muita falta, e vou honrar o nome e a memória dele. É uma perda irreparável. Ele me passou vários exemplos de liderança. Ele é o meu exemplo, me ensinou a vida”, comentou.

QUERIDO NA FAMÍLIA

Para a irmã, a também professora Carly Cruz, a morte dos pais é dolorosa, mas se lida com uma certa naturalidade, porque fica no subentendido que eles vão primeiro. “Falar do meu irmão, é falar de parte de mim. A perda dos meus pais foi dolorosa, mas a morte do meu irmão é de uma tristeza ímpar. Ele era o caçula, ia fazer 60 anos, já estávamos combinando a festa para comemorar”, contou Carly que frisou. “O hábito dele era estudar, ler. Ele nunca foi muito de esportes, por conta das restrições dele”.

O irmão Cleuso registrou a enorme perda para a família, que foi o falecimento prematuro do querido e amado irmão. “Foi um ótimo irmão, filho, esposo e pai. Deixa um legado de amizade, trabalho e zelo com a família, amigos e alunos. Estamos consternados com o seu falecimento”, disse.

“Meu irmão…Você se foi e deixou um hiato muito grande…A dor e a saudade a cada dia se expandem mais. Aqui meu irmão, deixaste o seu legado. Esposa, filhos e netos amparados…Vá em paz, tá tudo certo, o grande Pai celestial o chamou para fazer no exército Celeste o que brilhantemente fizeste aqui na terra. Carlson Cruz, PRESENTE”, declarou a irmã Maria Júlia Cruz.

INESQUECÍVEL NAS ESCOLAS

A Pedagoga, Silvana Martins Bourguignon, conta que trabalhou com Carlson Cruz no ano de 2023 e dividia com ele a rotina de trabalho e as confidências dos bastidores do corre-corre escolar. “Carlson era um professor daqueles que a gente vê nos filmes de Hollywood e nos livros de Paulo Freire, que queria transformar o mundo por meio da educação, que acreditava no melhor do ser humano e que lutava pelos profissionais da educação. Apesar das dificuldades, o grande mestre tinha prazer em realizar projetos, aulas diferenciadas e planejar viagens de estudos, tudo isso para tornar o processo de ensino e aprendizagem prazeroso e atrativo para crianças e adolescentes”, recorda a pedagoga. Um dos casos mais marcantes para a amiga e colega de trabalho, Silvana Martins Bourguignon, foi a viagem de estudos a Vitória. “Carlson sempre pensava em estratégias de atrair a atenção dos alunos e não se importava com o trabalho extraclasse que isso demandava. Durante um roteiro de estudos que passava pelo Museu da Vale e Convento da Penha, na região da grande Vitória, ele e sua esposa preparam um lanche especial pensando em alegrar a viagem, além de contar com o apoio da escola na confecção de refeições para que todos pudessem viajar sem se preocupar com custo extra. A gente via nos detalhes o amor, a dedicação e, principalmente, a vocação de Carlson para o magistério. A passagem de Carlson deixa na comunidade escolar e no nosso Município um vazio, mas seu legado e exemplo de resiliência e protagonismo nos deixam um exemplo a ser seguido”.

Deila Lorencini Checon é diretora da Escola Manoel dos Santos Pedroza, onde o professor atuou no ano de 2023. Ela assegurou que ele era super dedicado ao fazer na escola e ao ensino e vida social dos alunos. “Ele se preocupava sempre em mostrar algo novo, de promover viagens de estudo. Muitas vezes, até tirando o dinheiro do próprio bolso para oferecer oportunidades aos alunos. Lanches diferenciados em salas de aula, nas viagens, ele tinha essa grande preocupação com o aluno. Não tinha hora ruim para ele. É difícil de falar. Ele era muito parceiro em tudo que a gente fazia na escola, ele estava sempre disposto a ajudar”.

Lacerda de Aguiar

A ex-diretora do Lacerda de Aguiar, Valéria Marcondes afirmou que Carlson era um professor nato, dono de um conhecimento gigante que compartilhava com alunos e colegas de trabalho. “Conhecimento só tem valor quando distribuído, analisado para favorecer a reflexão e criar sentimento de pertencimento, transformando pessoas para iluminar o mundo. Professor, a você toda nossa gratidão, por nos permitir muito acreditar em um mundo com equidade. Foi um prazer conviver e aprender com você’, enfatizou.