Caso Maria da Penha Santos Paracatu vai a Júri Popular nesta segunda-feira (11/03), em Alfredo Chaves/ES
O caso ocorreu em 1º de dezembro de 2022, quando a vítima desapareceu, em Iconha. Seu corpo foi encontrado depois de 2 meses, no interior de Alfredo Chaves.
“Maria da Penha” poderia ser tantas mulheres, de todos os cantos deste país continental. Mas, Maria da Penha Santos Paracatu, mãe de três filhos foi mais uma entre tantas mulheres que perdem a vida de maneira brutal: o feminicídio. A moradora de Iconha, além da triste coincidência de ter possivelmente sido vítima de seu parceiro, terá seu julgamento realizado nessa segunda-feira (11/03), a partir das 12h30, no Tribunal do Júri, no Fórum de Alfredo Chaves/ES.
O ex-companheiro da vítima está preso e confessou o crime em sede Policial. O homem levou a polícia até o corpo, no dia 21/01/2023, aproximadamente 50 dias após a data de registro do crime, que teria acontecido no dia 01/12/2022, que estava em uma região da mata fechada, no município de Alfredo Chaves.
A família habilitou como assistente de acusação o advogado criminalista Leonardo Roza Tonetto, que assistirá à Promotoria de Justiça de Alfredo Chaves na condução do rito processual de competência do Tribunal do Juri. “O acusado está respondendo por homicídio qualificado cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino (feminicídio) e ocultação de cadáver. Ele segue preso no CDP de Marataízes”, destacou.
Em entrevista exclusiva o jornal conversou os filhos da vítima. Para a filha mais nova, Jenaína Paracatu dos Santos, 20 anos, sua mãe, Maria da Penha Santos Paracatu, era um exemplo:
“mulher preta, pobre, mas que nunca utilizou dessa descrição para se vitimizar, muito pelo contrário. Seus adjetivos são inúmeros e não caberiam num texto. Forte, resiliente, amorosa, responsável, uma mãezona e tanto, extremamente cuidadosa e dedicada, amava cuidar dos idosos e sofria muito quando algum partia. Uma verdadeira amante dos animais, amava a Nininha, nossa gatinha que está conosco até hoje. Não existem palavras suficientes que possam descrever a minha mãe, nós como filhos podemos afirmar o quanto era uma mulher do bem, por onde passamos na rua as pessoas que a conheciam comentam só coisas boas dela, que era mulher educada, bonita, sorria para todos, sem diferença e por onde passava exalava amor”.
A filha mais velha, Monica Paracatu dos Santos, 31 anos, descreve de forma orgulhosa sua mãe:
“Como uma mulher forte, criou 4 filhos praticamente sozinha, mesmo ter perdido um filho vítima de um acidente de trânsito. Dizem que perder um filho é a maior dor na vida de uma mãe, mas quando acontece ao contrário elas não sabem como dói. Perder uma mãe é como perder o ninho, aprender a viver sem ela é difícil pois foi a única coisa que ela não nos ensinou. Eu me lembro de mamãe quando sinto o cheiro das flores, quando sinto o cheiro dos produtos de faxina grudado sna minha mão, quando sinto o cheiro de alho frito pela casa, quando sinto o cheiro de café pela manhã. Agora, são só lembranças. Como é doloroso saber que ela não está mais aqui”.
O filho Maiques Antonio Paracatu dos Santos, 27 anos, espera que o julgamento traga justiça ao crime que vitimou sua mãe de forma tão brutal:
“Perder uma mãe é perder o primeiro amor terreno, é perder um porto seguro abaixo de Deus, é tão ruim que não desejamos essa perda nem para os filhos do assassino de nossa mãe, ninguém deveria passar por isso nesse mundo. Por isso buscamos por justiça, Deus é o único que tem direito sobre nossa vida e nossa morte. Tudo que passa disso provém das trevas, esperamos em Deus e na justiça que tudo dê certo e que o acusado seja julgado, condenado e pague pelos seus crimes”.
Consultado pelo jornal, o advogado Ramon Bourguignon Gava, destaca que a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006) teve origem por causa dos números assustadores registrados à época e sua motivação foi o caso da farmacêutica cearense Maria da Penha Maia Fernandes, que ficou paraplégica após ser baleada pelo próprio marido nas costas enquanto dormia em 1983.
“São alarmantes os dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que revela que no ano de 2022, mesmo ano em que Maria da Penha Santos Paracatu foi morta, 18,6 milhões de mulheres brasileiras sofreram algum tipo de agressão, tendo como agressores parceiros e ex-parceiros”, destacou o advogado.