Assembleia Legislativa sedia a mostra “Olhar Neurodiverso”

No Pilotis da Assembleia Legislativa, uma mostra de arte expressa os sentimentos de quem apresenta diagnóstico de autismo, Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), dislexia, ansiedade, depressão, entre outros. A exposição vai até sexta-feira (21) e traz trabalhos de pintura, desenho, fotografia e instalações. 

São 20 obras feitas por 10 estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) que enfrentam barreiras sociais e buscam o seu espaço na sociedade.  Aluna do 4º período do curso de Arquitetura e Urbanismo, Mey Pedra Ribeiro Gonçalves, 27 anos, expõe cinco peças na mostra intitulada “Olhar Neurodiverso”. 

Em um dos trabalhos, ela pintou, em preto e verde, a figura de uma pessoa irritada com uma das mãos tentando esconder o rosto e a outra dando a impressão de querer segurar algo muito doloroso que ameaça extravasar o peito. 

Ela contou que foi diagnosticada com autismo (grau baixo), TDAH e dislexia e expressa, na pintura, o quanto é difícil ouvir desde criança as pessoas dizerem “você é fracassada, jamais conseguirá realizar alguma coisa na vida.” 

Para Mey, há muito preconceito e boa parte da sociedade pensa que o neurodivergente é menos capaz do que as pessoas supostamente normais. “Você acaba levando isso para você, começa a ouvir essas vozes na sua cabeça e fica repetindo essas vozes mentalmente, o que te deixa muito pra baixo e sem saber o que é real e o que não é”, explicou. 

Outra peça assinada por Mey é o quadro “Fragmentado”, pintura em que mostra uma face estressada e uma cabeça quebrada em vários pedaços, dando a ideia de um jogo desmontado que precisa ser juntado.  

A universitária disse que sofre de sobrecarga sensorial e mental, o que exige dela esforço dobrado em relação ao padrão normal das pessoas para fazer coisas consideradas simples. 

“No final do dia parece que a cabeça vai explodir porque fico com muita informação na mente e acabo me sobrecarregando, daí busquei  transformar isso em arte”,  afirmou. 

De acordo com Mey, a arte é uma forma de ela ter voz,  porque normalmente as pessoas neurodivergentes são invisíveis para a maioria da população. “A faculdade na Ufes tem me ajudado muito também a interagir com as pessoas, a quebrar essa barreira. Eu estou conseguindo falar com vocês (da Web Ales), mas (se fosse) antes de entrar para a Ufes, acredito que não conseguiria”, completou. 

Ansiedade 

A produtora da mostra, Deborah Corrêa, tem diagnóstico de ansiedade e apresenta na exposição a obra  “Teias de ansiedade”, compostas por duas máscaras, sendo uma em tom escuro e outra mais claro, sustentadas por fios de lã, que remetem a teias de aranha. 

“Minha intenção com esse trabalho é mostrar que há esperança para os transtornos de ansiedade, que a gente pode, pelo menos, aprender a conviver com essa situação, entendendo o que está por trás da ansiedade”, explicou. 

Deborah considerou “significativa” a montagem da exposição na Ales por se tratar de um espaço político e por onde transitam muitas pessoas. “Como sou produtora da galeria da Ufes pretendo levar essa mostra para a universidade após o encerramento aqui na Ales. Será a oportunidade de nosso trabalho ser visto também pelos estudantes e professores”, adiantou.  

A exposição não dispõe de mediação, mas os visitantes podem acessar mais informações sobre os trabalhos por meio de QR Code. A produtora orienta os interessados em adquirir alguma obra a entrarem no Instagram @coletivo_atipicamente. “Lá temos também algumas peças produzidas que ficaram de fora do que estamos mostrando aqui”, disse Deborah. 

Psicologia 

Segundo a psicóloga Wanessa Gonçalves, é importante a iniciativa de se promover uma exposição com a temática da neurodivergência, pois, em sua opinião, pode ajudar as pessoas nessa condição a vencer barreiras e preconceitos. 

“É uma oportunidade de as pessoas neurotípicas, ou seja, as que não apresentam neurodivergência, conhecerem melhor esse assunto, vencendo os preconceitos”, observou. 

Para Wanessa, a mostra é uma prova de que a neurodiversidade pode ser uma fonte de talentos e de criatividade no universo artístico. “A exposição é um espaço seguro e acolhedor para eles (os neurodivergentes) expressarem suas experiências, vivências e visões do mundo por meio da arte”, pontuou. 

Serviço 

Exposição “Olhar Neurodiverso”
Onde: Pilotis da Ales 
Quando: até sexta-feira (21/06)
Horário: 7 às 19 horas 

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