Anchieta-ES • A merendeira não pode ser a culpada

A merendeira foi demitida da escola de Anchieta onde os alunos passaram mal. Nas redes sociais o assunto causou indignação nos leitores. Há um advogado que deve entrar na justiça para defender a servidora sem ônus para ela

O caso envolvendo a Escola Municipal Padre José de Anchieta, no bairro Novo Horizonte em Anchieta/ES relacionado aos alunos internados no Hospital e Maternidade Anchieta (Mepes) e no Pronto Atendimento (PA) com suspeitas de intoxicação alimentar ganhou repercussão na mídia estadual. Com isso a Prefeitura se apressou em demitir a cozinheira, supondo que ela seja responsabilizada pelo fato de as crianças terem passado mal, na última sexta-feira 16.

Vale ressaltar que segundo, a prefeitura 27 alunos deram entrada nas duas unidades médicas com dores abdominais, diarreia e vomitando e num primeiro momento, a assessoria de Comunicação deu a entender que o fato das crianças passarem mal poderia está ligado a água. Em nota, a Prefeitura afirmou que estaria enviando coletas de água para análise.

Após o jornal Espírito Santo Notícias estampar na capa restos de comida encontrados na lixeira da escola e frango congelado ensacolado na mesma caçamba a Prefeitura então enviou outra nota à imprensa dizendo que os alimentos já haviam sido analisados. “Os alimentos servidos no dia 16 já foram analisados, com a presença do conselho de alimentação escolar, nutricionista e vigilância sanitária e foi constatado que estavam em perfeitas condições de consumo. A Prefeitura aguarda agora a análise da água coletada pela Cesan durante toda a noite de ontem e até a tarde de hoje, quando a última criança foi liberada a Prefeitura esteve presente dando todo o apoio às famílias. Lamentamos o ocorrido e lamentamos mais ainda que algumas pessoas tenham usado uma situação tão séria para tentarem tirar algum proveito político”.

Contudo, mesmo após a análise realizada pela Vigilância Sanitária, Conselho de Merenda e uma nutricionista e a nota da Prefeitura afirmar que nada de irregular foi encontrado, a secretária de Educação demitiu a merendeira.

A Reportagem conversou com a ex-secretária de Educação de Piúma, Lenilce Carvalho para ouvir a opinião dela, se a merendeira afastada teria responsabilidade em relação a comida servida na sexta-feira, 16, na escola de Anchieta. Lenilce foi enfática: “A merendeira não tem culpa de nada. Geralmente as merendeiras têm pouca formação, são pessoas mais humildes, elas devem passar por capacitações para adquirir mais conhecimentos. Muitas das vezes as administrações fazem remanejo de pessoas para a cozinha de escola, sem a devida qualificação. Muitas das vezes esse servidor não tem para onde ir, e acabam mandando para a escola. Não é mandar a merendeira embora que vai resolver o problema. É preciso apurar os fatos, e ver quem falhou, ela é só a ponta, tem de analisar todo o contexto”, assegurou Lenilce.

Nas redes sociais, os leitores estão indignados com a demissão da merendeira. Um advogado entrou em contato com o jornal solicitando as fotos tiradas no local onde a comida foi encontrada na lixeira. Ele disse que vai entrar com uma ação na justiça defendendo a merendeira gratuitamente, pois a demissão dela foi um ato covarde.

Pelo facebook Claudiane Athaíde Salarini expos a indignação dela: “O cúmulo do absurdo! Por acaso a merendeira é autônoma? Não recebe ordens? Que sacanagem”!

A cantora Zee Leila de Ponta da Fruta/ES questiona: “Cadê o diretor e a secretária, e todo um processo que envolve a preparação e armazenamento da merenda… Cadê os outros responsáveis”?

Luciano Bodart vai além. “Tomaram uma decisão horrível, a coitada da merendeira recebe ordens e a comida ela não traz de casa, tem que investigar e muito, vai saber se onde guarda esses alimentos não foi dedetizado e acabou contaminando com alguma coisa tóxica”.

De Piúma, Andrea Martins também se indignou. “A merendeira é subordinada, então quem tem quer ser afastado é o superior dela, cadê a justiça”?

 


Em Anchieta-ES pairam dúvidas

A situação de Anchieta não tem nenhuma relação com o caso de Kennedy. Porém, mesmo a prefeitura afirmando que não havia alimentos com data de validade vencida, convém ressaltar que, o que a reportagem encontrou na lixeira em frente à escola não eram alimentos ensacolados e crus, estavam cozidos, tanto o frango congelado, armazenado em saco plástico, quanto o saco com restos de alimentação cozidos e misturados. Arroz, feijão, carne moída, batalha palha e tomate.

Como os alimentos encontrados e fotografados pelo jornal não foram para análise, uma vez, a própria jornalista deixou no local, fica complicado realizar análises nos alimentos que podem ter causado o mal-estar nas crianças.

Mesmo com a presença da Polícia Militar no local, juntamente com a reportagem e o vereador Beto Caliman, bem como, com a senhora Vera Pereira quem testemunhou uma servidora da escola jogando na lixeira os sacos de alimentos, esse resto de comida nãos seguiram para nenhuma análise, já que a PM não tinha como armazenar os alimentos e a Polícia Civil só atenderia na segunda-feira.

Outra questão que precisa ainda ser entendida melhor é por que foram jogados fora os alimentos se não estavam estragados, como o frango por exemplo, que estava cozido, congelado e preparado para consumo.

 


A merenda envolve muitos fatores

A ex-secretária de Educação de Piúma, Lenilce Carvalho conversou com a reportagem e explicou que quando se tata de alimentação escolar, é preciso ter muito cuidado, pois envolve diversos fatores.

Na época em que ela foi secretária de Educação, a Prefeitura de Piúma transportava alimentação escolar em um caminhão comum, que era usado para carregar todos os tipos de coisas.

Preocupada com a segurança alimentar dos alunos ela solicitou ao prefeito que comprasse um caminhão baú refrigerado para que esses alimentos pudessem serem levados as escolas.

“É preciso averiguar o local onde os alimentos são guardados para serem distribuídos posteriormente as escolas. Na minha época comprei um caminhão baú refrigerado para transportar alimentos. O adquirido pela Prefeitura só tem essa finalidade e é usado até hoje. Além da dispensa da escola há todo um percurso a ser percorrido. Oferecemos cursos para os profissionais aprenderem como armazenar os alimentos. Fazíamos a per capita para sabermos a quantidade de alunos que consumiriam a merenda para não haver sobra.  A equipe da secretaria visitava as escolas para ver o armazenamento e também averiguar a data de validade. É preciso consumir primeiro os alimentos comprados primeiro. A carne e os legumes os cuidados devem ser redobrados. Reaproveitar alimentos é inadmissível, o calor é um sério risco, um alimento estragado pode contaminar outros, inclusive com bactérias que matam. Nem mesmo os alimentos que sobram de um turno para o outro, não pode fazer a mais nem a menos”.

Escolas do Estado – empresa terceirizada

Lenilce é pedagoga da Escola Estadual Professora Filomena Quitiba, em Piúma. Ela frisou que nas escolas do Estado a merenda é terceirizada e não há sobra alguma. No estado o sistema é outro, é uma empresa terceirizada, quando os alunos chegam a escola são recepcionados por um profissional que conta um a um. Depois esse profissional distribui as senhas de quem quer merendar e é repassado a cozinha, o quantitativo certo, os professores não têm direito de se alimentar dessa merenda. É feita com um acréscimo de 10% para aqueles que quiserem repetir, não há sobra de nada, o desperdício é zero”, afirmou a pedagoga.

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