Artigo: Cultura da inovação pede equipes com olhares diversos
por Amanda Gasperini (*)
A transformação digital, independentemente da área, tem como premissa cultivar uma equipe com olhares diversos. Ao promover a troca de experiências e a cocriação de projetos, as equipes evoluem para acompanhar as necessidades de um mundo mais volátil, incerto, complexo e ambíguo, também chamado de BANI, que reflete a realidade instaurada desde o início da pandemia.
O isolamento social impactou os processos e demandou uma nova abordagem das empresas para lidar com este cenário. A estrutura organizacional passou por mudanças a fim de manter o fluxo de trabalho e de entrega de serviços e produtos aos clientes, com um desafio ainda maior: promover experiências capazes de surpreender durante toda a jornada de interação dos consumidores com as marcas. Para isso, a utilização correta dos dados foi o grande diferencial para gerar insights acionáveis ao negócio, integrando as áreas de produtos, marketing, inovação e negócios.
É o que ocorre, por exemplo, com as martechs, que utilizam tecnologias digitais e online no mercado de marketing para solucionar os novos desafios que o mundo corporativo exige, sempre orientadas por uma cultura data-driven, Ao tratar as informações e entender os comportamentos, as martechs ajudam a aumentar a relevância, conveniência e experiência dos consumidores com as marcas, além de promover mudanças nos modelos de negócios para engajar a audiência.
A tecnologia, que ajuda a transformar digitalmente todos os setores da economia, acelera o desenvolvimento de produtos e serviços, ao mesmo tempo em que abre oportunidades de trabalho para incentivar uma maior participação feminina em cargos de liderança. Em algumas martechs brasileiras, como acontece na Gauge, existe um equilíbrio entre o número de mulheres e homens em posições C-Level. Não se trata de priorizar um gênero em detrimento do outro, mas valorizar o potencial que a diversidade de olhares traz para a sociedade e para os negócios.
É cada vez mais relevante promover a mudança de cultura e repensar a representatividade das mulheres nos cargos de liderança. O estudo “Ganhos Econômicos da Inclusão de Gênero: Novos Mecanismos, Novas Evidências”, publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2018, aponta que países onde aumentou consideravelmente a participação feminina no mercado de trabalho desde 1990, como Irlanda, Brasil e República Dominicana, tiveram ganhos de produtividade maiores que nações onde essa participação ficou estagnada. O levantamento também mostra que ter mulheres na equipe leva a ganhos de produtividade entre funcionários homens, uma vez que agregam habilidades que poderão se complementar.
Na mesma linha, um estudo feito pela McKinsey, em 2019, comparando gênero e dados financeiros, mostrou que as companhias que possuem pelo menos uma mulher em seu time de executivos são mais lucrativas. Isso porque essas companhias têm 50% a mais de chance de ampliar a rentabilidade e 22% de crescer a média da margem Ebitda. A pesquisa analisou 700 empresas de capital aberto em seis países latino-americanos – Argentina, Chile, Colômbia, Panamá, Peru e Brasil – e apontou que 64% das que possuíam mulheres em cargos executivos , entre 2014 e 2018, subiram a mediana da margem Ebitda em comparação com 43% que não possuíam lideranças femininas.
Se a equidade de gênero reflete na cidadania, na inclusão e no sucesso dos negócios, o que falta para mudar a visão e o comportamento do mercado? Em um mundo cada vez mais digital, é impossível pensar a cultura da inovação sem equipes com olhares diversos. Ao promover este debate e criar oportunidades para que pessoas com ideias diferentes dialoguem, discordem e reflitam sobre as necessidades internas ou do cliente, abrimos um espaço para que os colaboradores se sintam mais engajados e felizes.
Dessa forma, as corporações estimulam o senso de pertencimento, a criatividade e a inovação. O resultado será a atração e retenção de talentos em empresas mais lucrativas e competitivas, que priorizam profissionais de mentes inquietas, que enxergam barreiras como oportunidade para transformar o trabalho e mudar percepções, adaptando-se aos desafios dos clientes para criar experiências que agreguem valor às marcas.
(*) Amanda Gasperini, Head de Marketing Analytics (data, media & martech) na Gauge, do Grupo Stefanini, e vice-presidente do Comitê de Mensuração do IAB Brasil.