Artigo: De geração para geração: o que muda no processo de ensino-aprendizagem?
*por Alvaro Luis Cruz
Recentemente, um embate que começou nas redes sociais ganhou repercussão nacional e, de repente, ser ou não ser cringe era a questão. Cringe, para a geração Z, são pessoas, atitudes ou coisas fora de moda, ultrapassadas ou constrangedoras, como alguns hábitos dos millennials. Sem entrar no mérito se tomar café ou rir com “hahaha” é cringe ou não, o fato é que as diferenças entre as gerações trazem para o centro do sistema educacional a necessidade de entender como elas aprendem de formas diferente e porquê.
Quem nasceu entre 1940 e 1960, por exemplo, pertence à chamada geração baby boomer. Nascidos após a Segunda Guerra Mundial, na vida adulta foram os primeiros a crescer em contato com a televisão tendo no veículo a fonte principal para se informar. Para eles, o processo de ensino-aprendizagem precisa ter um raciocínio mais linear, com começo, meio e fim.
Já para os nascidos entre 1960 a 1980, a geração X, ficou marcada pelos questionamentos dos costumes e viu nascer os primeiros computadores. Por isso, passam a priorizar formatos híbridos, valorizando a flexibilidade e a aprendizagem colaborativa.
Depois disso e até 1995, vieram os chamados millennials, ou geração y, que acompanharam o boom tecnológico e a expansão da internet. Justamente por estarem mais integrados e familiarizados com os dispositivos móveis, estão acostumados com um grande fluxo de informações e, sendo multitarefas, preferem aprender de maneira mais informal.
Nascidos entre 1996 e 2010 temos a geração z, conhecidos como nativos digitais. Conectados, consomem informação principalmente via smartphones e preferem conteúdos em vídeos curtos, fotos e jogos interativos, aprendem de múltiplas maneiras, são multifocais e convergem em diferentes plataformas e apresentam raciocínio não-linear.
A partir de 2010 temos a geração alpha, a primeira 100% conectada. Formada pelos filhos dos millennials, pertencem a um mundo tecnológico e conectado desde os primeiros meses de vida. Para eles, o digital e a “vida real” são uma única coisa. Com isso, as formas de se relacionar, aprender e experimentar são totalmente novas.
Os alphas têm na tecnologia uma extensão de sua forma de conhecer o mundo e por estarem constantemente expostos a animações, aplicativos e jogos interativos, dificilmente se adaptam ao modo tradicional de ensino. A tecnologia na educação, portanto, passa a ser fundamental. Mais independentes e com um potencial maior de resolver problemas que seus pais e avós, eles apresentam uma forma de aprendizado mais horizontal e, apesar do grande contato com tecnologia, preferem ensino personalizado, e educação híbrida que possam aplicar em situações do cotidiano.
Toda essa tecnologia que cerca os nascidos na geração alpha acaba influenciando diretamente no desenvolvimento deles, que dão muito mais valor às experiências do que a objetos e bens materiais.
Seja para brincar ou escolher o que assistir no computador, tudo é motivo para interagir, inventar e conectar sempre.
Com a pandemia de covid-19, o mundo deve acompanhar o nascimento de uma nova geração, a geração p (p de pandemia). São crianças nascidas ou que viveram a infância em isolamento social e, por isso, tiveram que experimentar um aprendizado altamente tecnológico e remoto. As crianças dessa geração vão demandar um ensino muito interativo, prático, mão na massa, com metodologias ativas e presença indispensável da tecnologia.
Enfim, as crianças estão vivendo um modelo de escola muito diferente do que nós vivemos e, se daqui a alguns anos também serão chamadas de cringe não se sabe. O certo é que de baby boomers a geração P, todas as gerações trazem uma nova forma de olhar o mundo, se transformam e modificam a sociedade.
Alvaro Luis Cruz é vice-presidente do Educacional – Ecossistema de Tecnologia e Inovação.