Artigo: Droga, como o nome diz, uma droga!
*por Jussimar Almeida
Toda abordagem com a sociedade visando falar sobre tema drogas, torna-se por si só uma complicação. Inicialmente cabe-nos dizer que para evitar termos depreciativos, devemos rotular as pessoas como aquele que utiliza Substâncias Psico Ativas (SPAs), abreviadamente. No termo SPAs estão incluídos todos os tipos de substâncias químicas usadas, principalmente maconha, cocaína, crack, heroína e o álcool, que por vezes só consideramos o alcoolismo como um alcoólatra e não como um usuário de SPAs.
Dito isso surge uma multiplicidade de interessados pois o problema da drogadição envolve a sociedade, o usuário, os familiares e os governos municipais, estaduais e federal. Trata-se, portanto, de uma questão que atinge em cheio a nossa sociedade e que necessita de solução também de vários setores de governo tais como secretarias de saúde, educação, ação social, empregabilidade dentre outros, exigindo-se assim uma intersetorialidade nos governos, coisa difícil de existir entre nós.
Não se trata de responsabilizar os progenitores, mas a responsabilidade também é deles. Não se trata de responsabilizar a sociedade, mas o problema a envolve. Não se trata de responsabilizar os municípios, mas estes possuem responsabilidade, não se trata de responsabilizar o estado, porém este também é responsável. Assim, também chegaremos ao governo Federal, regido pela constituição que diz ser a saúde direito de todos e dever do Estado. Finalmente e deixei por último o cidadão usuário. Cabe-nos perguntar se ele é culpado ou vítima. Para confundir mais ainda este emaranhado que citei até agora, eu ouso responder que ele é tão vítima como culpado, pois a constituição também prevê a figura dos descaminhos como crime. E, se não fosse assim, a própria sociedade, através do Sistema Judiciário, prevê as internações compulsórias, que ocorrem por determinação de um Juiz.
Se focalizarmos sob o ponto de vista de necessidade de abordagens terapêuticas como tratamento, de pronto diríamos que tanto a pessoa identificada como usuário, como sua família merecem a tenção do sistema de saúde e o grupo deveria submeter-se a tratamento. Ocorre, porém, que se a saúde der conta de tratar o usuário e seus familiares e conseguirem resolver o problema, surge o primeiro empecilho que é onde esse ser humano que acabou de libertar-se do “vicio”, irá conseguir uma colocação para tornar-se sustentável para si e seus familiares? Questionamos também se esse ser humano, possui algum tipo de mão de obra qualificada, para ter espaço no mercado de trabalho. Também questionamos o estigma dos empresários, que além de necessitarem colaborar colocando tais pessoas em suas empresas, ainda possuem o pesso de inúmeros impostos e encargos que o governo cobra e não dá nenhuma contrapartida. Resta saber se o governo não poderia possuir programas para auxiliarem os empresários, desonerando suas folhas de encargos para cada pessoa que fosse tratada e estivesse apto a exercer uma profissão.
Até aqui mostrei um conjunto de fatores, que poderiam ajudar na solução desse problema, que mais lembra o “monstro das mil e uma faces” do que uma solução que esteja a caminho. Por outro lado, como a vida não para e os vários setores, não se sentam à mesa em busca de uma solução, o número de usuários cada vez mais aumenta, também na medida que o problema social aumenta. Porém como o problema social sem a droga também aumenta e não se vê luz no fundo do túnel já que, o jovem, o cidadão de meia idade e até os maiores de sessenta anos, vendo-se todos desvalidos e desamparados enveredam pelos caminhos que “aliviam” o sofrimento usando todo tipo de drogas e o álcool com mais força. Infelizmente sendo todas as Substâncias Psicoativas altamente provocadoras de dependenci o tratamento torna-se dispendioso e demorado, por existir a necessidade de reconstruir a personalidade dos atingidos e de seus familiares, que ainda não possuem ambientes adequados e financiamentos coerentes. Soluções paliativas não resolvem o problema tão complexo. O Espírito Santo conta hoje com uma rede de Clínicas de Tratamentos de Usuários de Drogas e de Saúde Mental, que tem sido o esteio a sustentar esta grave situação. Buscaram saída de internar usuários em crises agudas em Hospitais Gerais. Trata-se de um modelo que não prospera porque na fase aguda e na fissura que se segue ao inicio do tratamento, a permanência desses pacientes junto a pessoas tratando-se de pneumonia, gastrite, hepatite, hipertensão, diabetes e até mesmo gestantes, obviamente não é possível. Também as comunidades terapêuticas hoje enfrentam enormes dificuldades pois a abordagem não é qualificada, pois nessas comunidades faltam o psiquiatra, o psicólogo, a enfermeira, o técnico de enfermagem, a assistente social, o nutricionista, a arteterapeuta, o professor de educação física, o farmacêuticos, além de muitos outros profissionais de uma EQUIPE MULTIDISCIPLINAR, que só vemos nas CLÍNICAS DE TRATAMENTO DE USUÁRIOS DE DROGAS E DE SAÚDE MENTAL. Para cuidar deste ser que necessita amparo, amor, abrigo, carinho e reconstrução de sua personalidade destruída em seu valores, além de cuidados médicos de toda sorte de comorbidades tais como AIDS, SIFILIS, HEPATITE, DOENÇAS CARDIACAS, HIPERTENSÃO, DIABETES e outras inúmeras doenças mentais que acompanham as drogas tais como ansiedade, angustia, síndromes psicóticas, esquizofrenias, depressões graves, autoflagelamento, suicidas, homicidas e por aí vai, necessitamos de gente competente e que dificilmente resolve-se em regimes ambulatoriais somente nos CAPS, como pensam alguns.
O problema é mais que complexo, porém não dá para ficar dizendo: meus pêsames, seu ente querido partiu…
Só para que compreendam a dimensão da complexidade do problema a nível psíquico, deixo a informação de um importante autor americano sobre o papel do usuário em sua própria vida.
Conforme Erskine: “Scripts de vida englobam uma complexa rede de vias neurais formadas de pensamento, emoções, reações bioquímicas e fisiológicas, fantasias, padrões de relacionais e o importante processo de autorregulação homeostática do organismo” (Erskine, Script de Vida e Padrões de Apego, Prêmios Eric Berne, 2008-2020, pg. 281).
União de todos passando pelo usuário, pela família, pela sociedade (e aqui incluo religiões de um modo geral, polícia, corpo de bombeiros, Lions, promotorias, juízes e muito mais), governos municipais, estaduais e Federais e tudo o quanto mais puder ajudar, e, como observam ainda será pouco.
*Jussimar Almeida e articulista do Jornal