Artigo: Resiliência na travessia: precauções contra a Covid-19 é urgente para quem tem mais de 60
Cristiane Felipe*
De repente a vida ficou diferente. A rotina foi quebrada pela imposição do distanciamento social, medida adotada para a contenção do avanço da propagação da Covid-19. Diante dessa nova situação, cada um de nós se viu em meio ao desafio de reinventar seu cotidiano, ação necessária para a nossa preservação, para a segurança da população, e também para garantir a saúde daqueles que, por exercerem atividades essenciais para a sociedade, não puderam aderir ao recolhimento.
A espécie humana não convive bem com situações de isolamento: o homem é um ser social, pois depende das inter-relações com os outros seres para dar sentido à sua existência. Não por acaso, na maioria dos países, a pena máxima aplicada pela sociedade contra aqueles que descumpram os preceitos legais é a privação da liberdade. “É impossível ser feliz sozinho”, filosofava Tom Jobim.
Dentre os mais afetados por essa nova configuração da realidade está a população com idade acima de 60 anos. Considerada a faixa etária mais vulnerável aos impactos da doença, é sobre ela que recaem as mais rigorosas precauções. Como lidar com mais este desafio tornou-se questão premente. Os idosos necessitam, portanto, de uma atenção maior por parte do estado e também daqueles por eles responsáveis diretamente.
Resiliência deve ser a palavra de ordem nesse novo contexto. Tal qual o “velho marinheiro”, do samba de Paulinho da Viola, é hora de tocar o barco devagar em meio à tempestade. E os cuidados com as saúdes devem compor a ordem do dia.
Pesquisa informal realizada pela Liga Solidária com pessoas acima de 60 anos revelou que 68% dos entrevistados deixaram de praticar atividades físicas nos últimos quatro meses. Trata-se de um dado extremamente preocupante, pois a rotina de exercícios físicos é um dos principais meios para se prevenir a ansiedade e a depressão.
A adoção de tarefas diversificadas no dia a dia tende a amenizar as agruras desta “travessia”. Cuidar de plantas, fazer atividades manuais e físicas (adequadas à condição de cada um), cozinhar ou experimentar alguma nova habilidade artesanal podem trazer significativos benefícios nestes dias de isolamento. Para aquelas pessoas com dificuldades de leitura, há hoje a facilidade dos audiolivros. Vários jornais também trazem a comodidade de poderem ser ouvidos. E há ainda uma diversidade de podcasts disponibilizados na internet.
Após a leitura, por que não a escrita? Relatos sobre sentimentos, experiências, o próprio cotidiano e a criação de um diário são exercícios excelentes tanto para a memória como para manterem a saúde mental. E para o contato com os familiares, as vídeo conferências são o método mais seguro. Não deixe de trocar afetos, mesmo que virtualmente.
Com o recrudescimento do número de novos casos, o que tem suscitado a revisão das medidas atuais tornando-as mais rigorosas, a atenção aos princípios de isolamento e atenção à saúde (sobretudo nestes dias de tendência à maior aglomeração, devido aos festejos de fim de ano) deve ser ainda mais criteriosa.
Sobre a Liga Solidária
A Liga Solidária, fundada em 1923 como Liga das Senhoras Católicas de São Paulo, é uma organização da sociedade civil (OSC) sem fins lucrativos. A Liga desenvolve programas de educação, longevidade e cidadania que beneficiam cerca de 13 mil crianças, adolescentes, adultos e idosos em situação de alta vulnerabilidade, na capital de São Paulo.
*Cristiane Felipe, Especialista em Longevidade na Liga Solidária, organização social sem fins lucrativos que atua em São Paulo