Cartunista Ricardo Ferraz ganha visibilidade internacional ao ilustrar cartilha que traz releitura da Organização Internacional do Trabalho

Os desenhos de Ricardo chegaram a Genebra e foram também para Libéria, depois da tradução em inglês, realizada pela Organização Internacional do Trabalho

Ricardo Ferraz é autor dos dois livros, Bullyng e Visão e Revisão – Conceito e Pré-conceito

Para quem ainda não conhece a história de envolvimento do cartunista da pequena cidadezinha da Bahia – Lajedão, Ricardo Ferraz – radicado em Cachoeiro, desde os 14 anos, quando fugia da pobreza e da falta de expectativas futuras, uma vez que, a pessoa com deficiência era tratada como inválida, Ferraz saiu em busca de sobrevivência e alcançou o reconhecimento nacional e internacional.

Para quem ainda não conhece a história do cartunista, ele vive em Cachoeiro de Itapemirim

Uma história cheia de nuances, onde o papel que embrulhava pão era tela de sua arte, o carvão e o pincel. Ricardo deu a volta e transformou dor em reflexão, e a mudança e o reconhecimento vieram.

Aos cinco de idade Ricardo contraiu a poliomielite, época em que morava no campo. O pai tinha uma fazenda próxima a Lajedão, depois ele se mudou para a cidade onde passou toda a infância e parte da pré-adolescência. “Mas a minha chegada a Cachoeiro não foi flores, passei muito aperto. Engraxei sapatos por muito tempo e até que fui convidado para morar e trabalhar na Casa do Estudante. Eu agradeço muito à Casa do Estudante, onde eu fui morar em 1968, na época de chumbo, da repressão, lá tive todo apoio. Voltei a estudar. Meu primeiro emprego foi lá, vendendo passe escolar, lá conquistei minha visibilidade como estudante e, tão logo fui presidente do Grêmio do Liceu. Tive uma votação expressiva para presidente do Grêmio em 1977”.

Ricardo lembra que o trabalho dele como cartunista conseguiu visibilidade somente em 1981 – Ano escolhido pela Organização das Nações Unidas – ONU como Ano Internacional das Pessoas com Deficiência, tendo como tema central, Participação “Plena e Igualdade”. Pois bem, era como frisou Ricardo, quase uma utopia, pois naquela época era raro se falar em inclusão social e outros conceitos de cidadania. A sociedade desconhecia o potencial da pessoa com deficiência, tinha uma visão assistencialista e paternalista. “O ano foi o principal articulador do movimento das pessoas com deficiência, na época falar em inclusão, acessibilidade e direitos era utopia. E eu não conhecia bem a realidade das pessoas com deficiência, tive que subir todos os morros da cidade a procura destas pessoas para criar um grupo, mas eu me deparei foi com o quadro do extremo da segregação, como naquela época não tinha um canal para denunciar aquele flagelo humano que eu presenciei, eu encontrei no cartum o meu veículo para colocar a boca no trombone. O humor e a crítica foram fundamentais, desde 1981 que eu venho abordando esta temática da exclusão social através do cartum”.

Destacou Ricardo que o trabalho, de uma forma quixotesca, ele levou para as exposições e foi ganhando visibilidade. “Há mais de 40 anos que eu venho fazendo exposições pelo Brasil e alguns outros países e, na época, a sociedade não entendia muito a minha proposta, achava que eu era um cartunista problemático, e o meu trabalho era temático. Hoje, em tempo do debate sobre a inclusão, a sociedade amadureceu muito. Atualmente vejo meu trabalho sendo debatido em escolas, universidades, em palestras, finalmente, a sociedade entendeu o meu recado. Eu não estava falando de deficiência, eu estava falando de cidadania plena. Acreditamos que, com a sociedade com a visão de se colocar no lugar do outro, há a esperança que a mesma mude os conceitos, assim a gente elimina o pré-conceito, esta doença da humanidade”.
Com humor Ricardo sempre frisa. “Tenho experiência de cadeira, ou seja, de muletas, sempre falo, tenho minha experiência física, minha vivência, militância, minha indignação com o pré-conceito e a minha arte como instrumento de transformação. O trabalho, com o tempo, ganhou visibilidade não só no Brasil, como mundo afora. O trabalho está sendo utilizado pela ONU através das suas agências no mundo inteiro, agora na OIT – Organização Internacional do Trabalho, a arte venceu todas as barreiras, as fronteiras, mostrando que ela é universal. Fico muito feliz por esta conquista, por esta visibilidade, que é o meu combustível sustentável para seguir nesta luta acreditando que é possível. Eu tenho um sonho, hoje eu posso falar, sim, nós podemos”.

A cartilha

Ricardo Ferraz é autor de diversas obras, rompeu as fronteiras do Brasil e chegou a Genebra e a Libéria também foi alcançada com os cartuns que ilustram a cartilha da entidade “Espaço da Cidadania em São Paulo”.

Ao Jornal o cartunista contou que ficou surpreso quando foi convidado a fazer o trabalho para a Instituição paulista, o foco da abordagem foi empregabilidade da pessoa com deficiência, e os limites impostos pelo mercado de trabalho.

O tema acabou ganhando um reforço de pesso internacional quando a OIT com sede em Genebra – Suíça fez a tradução do trabalho em inglês e a cartilha chegou a Libéria, onde um artista fez uma releitura para a realidade daquele país.

O trabalho foi realizado no ano passado, mas como a temática é sempre contemporânea e atual, o cartunista divulgou o trabalho nesta semana, em suas redes sociais, e o jornal foi em busca de mais informações sobre esta nova conquista do cartunista.

“Tive o privilégio de ilustrar uma cartilha para a entidade “Espaço da Cidadania”(SP), com foco na empregabilidade da pessoa com deficiência, a cartilha foi divulgada na Libéria – África, onde a arte foi recriada por artista local, adaptando a cultura daquele país, sem perder a essência! Que bom que a arte tem língua universal”!

Vinhetas

O cartunista é vencedor de quatro concursos de vinhetas da Rede Globo Televisão que realizou sete, o primeiro em 2001 com um cartum que retrata a dificuldade de cadeirantes e pessoas com limitações subir ou descer uma escada. Ele foi pioneiro no Brasil a abordar o tema acessibilidade em um cartum em uma vinheta de televisão. O plim-plim de Ricardo ganhou o mundo.

Ricardo se dedica ao cartum há mais de 50 anos e já ultrapassou as fronteiras do Brasil com diversos trabalhos e exposições. A cada trabalho reconhecido é como se fosse uma nova oportunidade de ampliar o debate.

Nesta semana, o cartunista também publicou um trabalho fazendo uma analogia ao direito de votar, chamou atenção para a acessibilidade com uma dose de humor necessária. “Não confunda “orgulhoso” não aceitar solidariedade com passar uma “procuração” para alguém se apossar dos seus Direitos Constitucionais! Cidadania plena! Isso é Inclusão Social! Ele não pára, a arte está presente em toda a sua história.

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