Delegado de Piúma é transferido após investigação por abordagem excessiva a motoboy
Polícia Civil instaura investigações administrativa e criminal sobre o caso; novo delegado assume a delegacia de Piúma
A Polícia Civil do Espírito Santo confirmou a transferência do delegado David Santana Gomes, que era titular da Delegacia de Piúma, após a abertura de investigações para apurar sua conduta em um caso de agressão contra um motoboy, ocorrido no início de setembro. No Diário Oficial do Espírito Santo, já consta a transferência, justificada como uma ‘melhor distribuição do nosso efetivo, visando alcançar melhores resultados e maior eficiência.’ A agressão foi registrada por câmeras de segurança, e desde então, a Corregedoria da Polícia Civil conduz uma investigação tanto na esfera administrativa quanto criminal. O novo responsável pela Delegacia de Piúma será o delegado Vitor Alano Alves de Oliveira.
Agora, David Gomes passa a atuar na Central de Teleflagrantes. De acordo com a nota oficial emitida pela Polícia Civil (PCES), a investigação tem como objetivo verificar possíveis irregularidades cometidas pelo delegado, que podem culminar na instauração de um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), além de um Inquérito Policial (IP) para apuração criminal.
Relembre o caso
O fato que motivou as investigações ocorreu em 4 de setembro de 2024, quando o delegado David Santana Gomes foi flagrado agredindo o motoboy Wellington Abreu dos Santos em frente a uma distribuidora de bebidas em Piúma, no sul do Espírito Santo. As imagens das câmeras de segurança mostram o delegado desferindo um tapa no rosto de Wellington, após uma breve conversa. A agressão ocorreu em plena luz do dia, e outros dois policiais que estavam no local não intervieram no ato, acompanhando a abordagem.
Nas gravações, é possível ver o delegado e o motoboy se aproximando para uma conversa rápida. Poucos segundos depois, o delegado atinge o motoboy com um tapa no rosto e o retira do campo de visão da câmera. Não há registros visuais de o que ocorreu após o motoboy ser levado para fora do alcance da câmera, gerando questionamentos sobre o tratamento recebido por Wellington.
A Polícia Civil informou que a Corregedoria já havia instaurado uma Investigação Sumária (IS) para apurar “possíveis irregularidades” e que a apuração ocorre tanto no âmbito administrativo quanto criminal. Se forem comprovadas infrações, o delegado pode ser responsabilizado disciplinarmente e criminalmente.
Versão do delegado
Em resposta às acusações, o delegado David Gomes negou qualquer irregularidade e afirmou que as imagens divulgadas não retratam a totalidade dos fatos. Segundo ele, a ação foi uma resposta a uma provocação do motoboy, que teria insinuado estar armado. David afirmou que, ao abordar o motoboy, deu voz de comando para que a bolsa que ele carregava fosse colocada em cima de uma mesa, a fim de proceder a uma revista. O delegado reforçou que a resistência do rapaz à abordagem o levou a usar força física para “anular um possível perigo iminente.”
O delegado declarou ainda que, ao revistar a bolsa do motoboy, constatou que o objeto dentro da bolsa era um grampeador, não uma arma. Após a revista, segundo o delegado, houve uma conversa entre ambos, onde o motoboy se desculpou pela situação e o delegado teria retribuído as desculpas. Contudo, alguns dias depois, Wellington registrou um boletim de ocorrência relatando os fatos sob outra perspectiva, o que gerou mais tensão em torno do caso.
David Santana Gomes, que ingressou na Polícia Civil em 2012, já esteve envolvido em outros episódios de controvérsia. Em 2014, ele foi acusado de abuso de autoridade por algemar dois seguranças de uma boate em Guarapari, e em 2020, foi afastado de suas funções após ser encontrado em uma casa com drogas durante uma operação não informada aos seus superiores.
Versão da vítima
O advogado Guilherme Fontes Ornellas, que representa Wellington Abreu dos Santos, repudiou as declarações do delegado e afirmou que as imagens fornecidas à Corregedoria estão completas e não sofreram edições. Segundo ele, o motoboy estava em seu horário de trabalho, uniformizado, e aguardava sua próxima entrega quando foi abordado e agredido sem justificativa.
A defesa de Wellington destacou que, além da agressão, o motoboy agora também é vítima de calúnia, uma vez que o delegado apresentou justificativas falsas para a sua conduta. O advogado afirmou que toda a investigação está sendo acompanhada de perto pela defesa de Wellington e que espera uma punição exemplar ao delegado.
Guilherme ainda frisou que o caso de seu cliente é emblemático, pois envolve um trabalhador sendo agredido enquanto desempenhava suas funções. Ele garantiu que todas as provas e vídeos já foram encaminhados às autoridades competentes para garantir que a justiça seja feita.
Investigações em andamento
O caso segue sendo investigado pela Corregedoria da Polícia Civil, que prometeu rigor na apuração dos fatos. A conclusão da Investigação Sumária poderá resultar na abertura de um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), dependendo dos resultados encontrados. Paralelamente, o Inquérito Policial também está em andamento para averiguar a responsabilidade criminal do delegado David Gomes.