Desculpa aí… Os assassinos de Suzano não são vítimas também da tragédia?
Autores do massacre de Suzano, na Grande São Paulo, Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25, eram vizinhos inseparáveis, apesar da diferença de idade, e tinham uma série de características em comum. Extremamente calados, mesmo em um calor de 30 graus eles estavam sempre vestidos de preto, com jaqueta e capuz, e dividiam um mesmo hobby. Em uma lanhouse, a menos de um quilômetro de onde moravam, os rapazes apareciam três vezes por semana para jogar games pela internet — e quase nunca interagiam com os demais clientes.
A Reportagem do O Globo mostra claramente um pouco a personalidade dos rapazes assassinos/vítimas.
E no meio de tanta dor, talvez eu seja apedrejada por usar a palavra vítima aos jovens assassinos.
O Globo afirma que os jovens chamavam atenção não somente pela falta de interação com os demais, mas por causa de uma corrente com um pingente no formato de uma cruz de malta, com a suástica nazista no meio. Os dois se revezavam no uso do adereço.
Guilherme, o mais jovem dos atiradores, foi criado pelos avós maternos. Sua mãe é dependente química, e o pai também seria. De acordo com vizinhos, a avó de Guilherme faleceu em dezembro do ano passado.
E de repente aparecem tantas soluções para barbáries como a vivida em Suzano. Uma delas: fechar o portão da escola. Ah, e se eles decidem trocar o endereço e entrar na igreja? Num cinema, numa boate? Que tal armar o professor/? Se o mestre tivesse uma arma teria evitado… Cheguei a ler uma matéria neste aspecto. E se houvesse um guarda armado na porta da escola. Talvez fosse a primeira vítima no lugar da coordenadora.
Quantos adolescentes estranhos temos a nossa volta? Quantos pais se negam a ver o comportamento do filho? Quantos permitem o excesso de limites? Ah, e quantos se drogam e abandonam seus filhos?
Suzano abre um leque de reflexão. A tragédia de lá é minha, é nossa, é da educação, é do governo, é da Prefeitura, é das famílias!
Os assassinos deixaram pistas, rastros e não será difícil entender o que houve. E para que entender a motivação? Neste instante, não importa saber o que os fizeram matar e ferir tão ferozmente, é muita dor… É dor demais.
Mas, ainda quer saber, ainda que não importe tanto, onde conseguiram armas e munições? De onde veio a ideia da machadinha? Um atira, o outro degola… E o arco e flecha? Tudo decidido neste dia 13, antes de partirem para a concessionária e depois a escola. E por que o tio foi o primeiro? Nada vai justificar essa monstruosidade. Ah, sim, tem sim, você vai ver que tem…Tem mais explicações, e certamente, a família estará no centro das conclusões.
A família apressada e sem tempo para uma refeição junta, sem o celular nas mãos. A família que cede a todos os desejos, que nem se importa se a criança estudou direitinho na escola e fez as atividades… A família que não ver o menino de preto num calor de 40º. A menina triste e silenciosa, vítima do assédio, da violência, do macho da casa… Desculpa aí…
Luiz Henrique tinha um perfil no Facebook, a página não trazia informações pessoais. A foto de capa, porém, mostrava um soldado com um fuzil na mão. Havia ainda imagens de combates e de jogos de videogame de tiros. Ele também fazia parte de grupos com nomes como “Cidadão armado”, “Um amor: armas” e “Eu gosto de armas e não sou bandido”.
Será que os pais veem que o filho vê? Será que tem pais esses jovens solitários e doentes? Será ser pai, apenas engravidar a mãe e deixar o DNA na corrente sanguínea? Quem sabe é pai aquele que aparece de 15 em 15 dias e resolve dar uma voltinha na sorveteria…
Hum, eu não sou pai e nem mãe, não engravidei e nem tenho capacidade de engravidar. Não é papai?
Ora ora, enquanto não vem a próxima tragédia, que eu não sei, se será em uma escola, numa universidade, numa churrascaria, numa igreja, num cinema, numa boate, vamos continuar omissos, evitado os abraços, fechados no nosso egoísmo e trocando de celular, cada vez mais potente. Deixemos nossas crianças para os games, para as drogas, para as ruas, para as armas, para o mundo… E num velório coletivo, vamos chorar juntos a mesma dor e nos abraçar, e quem sabe, pensar, ah, aquele jovem, calado, solitário, que tem espinhas, ou que é negro, gordo, ou ‘viado’, não é assim que dizem, que se lasque!
Pelas famílias de Suzano, pelas famílias de Brumadinho, pelas famílias do Flamengo, por tantas famílias e pelo legado da Marielle, sejamos amor. Amor para respeitar, para enxergar e ouvir o grito de silêncio do outro. Amor que é o único sentimento capaz de nos unir de verdade, o ódio não, o ódio dilacera e multiplica dor…