#Elasquelutam Violência contra mulheres negras em campanhas
O fenômeno da violência política sexista, por ter a ver com as relações de gênero, está associado ao machismo, é o que afirma Marlise Matos, do departamento de Ciência Política da UFMG. Foi possível perceber isso, de forma mais explícita, no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. Porém agora essa realidade fragmentou-se em múltiplos públicos, provocando um agravamento do processo.
A violência eleitoral é o ato violento direcionado a candidatos no período entre a campanha eleitoral até a posse das eleitas, com foco em interferir diretamente no resultado de um pleito. A realidade da violência eleitoral, principalmente contra mulheres negras, é mais cruel ainda, pois a violência de gênero vem acompanhada de racismo.
O artigo “Feminicídio Eleitoral”, de Felipe Borba, doutor em Ciência Política pelo IESP-UERJ e Ary Jorge Aguiar Nogueira, pesquisador da UNIRIO, afirma que, no senso comum da sociedade, as mulheres são objetos de política, e não sujeitas nativas de política. A violência política de gênero é a resposta ao interesse em manter um Estado governado por homens para as mulheres que pretendem alargar o sentido da experiência democrática ao ocupar espaços que historicamente não lhes pertencem. E a resposta será ainda mais enfática se estas mulheres forem feministas antirracistas.
Exemplos concretos da violência sofrida por mulheres negras no contexto eleitoral foram os ataques sofridos pelas pré-candidatas Renata Souza (PSOL) e Lindinalva de Paula (PT). Ambas as transmissões, ocorridas nos dias 20 e 22 de agosto, foram interferidas por xingamentos e vídeos ofensivos.
Renata de Souza, deputada estadual do Rio de Janeiro, teve o evento virtual de sua pré-candidatura à prefeitura interrompido por alguns instantes na noite de 20 de agosto. Em tal ocasião, a live que apresentava as propostas da sua plataforma “Rio de Gente”, foi invadida pela imagem de uma pessoa mascarada – lembrando o personagem do filme V de Vingança – e diversos xingamentos dirigidos às mulheres que acompanhavam o evento.
Dois dias depois, em 22 de agosto, o mesmo aconteceu no evento de promoção da plenária de Lindalva de Paula, pré-candidata à vereadora de Salvador. O Egbé da Preta – como foi chamado o encontro virtual – foi atacado por dois perfis que veicularam imagens pornográficas e saudações fascistas.
Nas redes sociais, frente a tais tentativas de silenciamento e intimidação, ambas as candidatas denunciaram e chamaram atenção para a necessidade de ações que protejam as candidatas, que se materializa no debate da Lei Geral de Proteção de dados – que foi o tema da nossa última edição.
De acordo com a União Parlamentar Internacional (IPU), 82% das parlamentares já foram vítimas de comentários sexistas, intimidações, ameaças e vazamentos de dados pessoais. Contudo, a violência política de gênero não está presente somente nos espaços de poder. A violência contra mulheres, especialmente mulheres negras, na política não pertence exclusivamente às cidades grandes ou capitais. Pelo contrário, em cidades e comunidades pequenas, afastadas e distantes do olhar público são onde essas mulheres não têm instrumentos para se blindar contra opressões sociais, raciais e de gênero.
O caso mais recente no Brasil é de Sandra Silva, “Tia Sandra” como gostava de ser chamada. A pré-candidata a vereadora no município de Magé foi encontrada morta em um rio na baixada fluminense, no estado do Rio de Janeiro. Conforme a delegacia de homicídios da baixada fluminense (DHBF), uma das linhas de investigação é de que o crime esteja ligado ao fato eleitoral. Sabemos que o estado do Rio de Janeiro é a unidade da federação que concentra o maior número de homicídios por violência política eleitoral.
No entanto, “Tia Sandra” não é a única e os casos de violência política de gênero se espalham Brasil afora. Renya Carla, atual prefeita de Passira, Pernambuco, teve seu carro alvejado com 5 tiros em 2016 durante sua campanha eleitoral. Diversas mulheres eleitas e candidatas em todo o mundo relatam casos frequentes de violência política de gênero. Isso ocorre porque vivemos em um contexto que tolera a violência contra as mulheres, e as mulheres negras são as mais vulneráveis porque carregam em sua existência opressões de gênero, raça e classe.
Aqui na #Elas sabemos que é preciso aumentar a presença de mulheres na tomada de decisão para quebrar esse ciclo! A população brasileira é 51% feminina, mas só 15% das cadeiras do parlamento são ocupadas por mulheres. Dentre esses 15%, apenas 2% pertencem a mulheres negras (IBGE). A luta é longa! Especialmente em um cenário político de difícil acesso para aquelas que não são herdeiras e que não fazem parte de esquemas políticos.
Mas sabemos que melhorias são possíveis! Exemplo disso é a Bolívia, que foi o primeiro país latino-americano a punir violência de gênero política, e o México que já aprovou uma lei de paridade de gênero que abrange todos os poderes (Legislativo, Judiciário e Executivo) em níveis municipais, estaduais e federal (Eleitas).
Marielle Franco, Presente!
Tia Sandra, Presente!
O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a cota financeira para candidatos e candidatas negros e negras seja aplicada já nas eleições deste ano. No mês passado, o Tribunal Superior Eleitoral aprovou a destinação proporcional de recursos do Fundo Eleitoral a candidatos negros e brancos, porém, devido à proximidade das eleições municipais, a corte havia decidido que a regra seria aplicada apenas em 2022.
Em entrevista, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, afirma que 9 dos 12 países que melhor enfrentaram a pandemia são dirigidos por mulheres. Ainda assim, o confinamento as expõe à violência familiar e elas sofrem mais a crise econômica que os homens.
A Lei Geral de Proteção de Dados deve entrar em vigor nos próximos dias. Esta reportagem traz reflexões sobre as incertezas em relação à norma e seu impacto na campanha eleitoral.
Mulheres no esporte 1: A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou diárias e premiações iguais a homens e mulheres nas seleções brasileiras.
Mulheres no esporte 2: Maya Gabeira, surfista brasileira, estabeleceu o novo recorde mundial da maior onda já surfada por uma mulher: 22,4 metros.