ENTREVISTA: secretário de Saúde de Piúma fala sobre a não compra dos testes rápidos e responde as denúncias

Há muita fofoca na rua, muito boato, muito fake News, muita maldade, politicagem, acusações ao secretário de Saúde de Piúma, inveja, acertos e desacertos. O jornal conversou com Alexandre Marconi pelo WhatsApp e perguntou tudo que tem chegado a redação. Se você tiver interesse nas respostas, tenha paciência que a entrevista é gigante

O secretário de Saúde de Piúma, Alexandre Marconi respondeu a inúmeras perguntas do jornal sobre diversas dúvidas da população e de pessoas mal intencionadas. Entre os questionamentos, por que não foram comprados testes rápidos como Anchieta e Kennedy para pelo menos testar os servidores da saúde e os parentes das pessoas que contraíram o novo coronavírus?  E a compra do álcool em gel denunciada pelo vereador Jonas Miranda com indícios de superfaturamento? Questionou também sobre as doações da Samarco e o armazenamento do álcool doado. O Vereador Eliezer Dias afirmou ao jornal que a Saúde tem R$5 milhões para gastar somente com o Covid19 e não comprou testes nem para os servidores da saúde. Veja esta e outras indagações e confira nas respostas de Alexandre.

Jornal: A Prefeitura de Piúma comprou testes rápidos para o Covid19?

Alexandre: Temos os testes, mas não compramos.

Jornal: Testou as famílias dos parentes das pessoas que foram infectadas e os vereadores?

Alexandre: Não é este o protocolo do Estado e do Ministério da Saúde. Os testes rápidos não detectam assintomáticos. Apenas sintomáticos após sete dias. Hoje (sexta-feira) apenas um vereador atendia as condições para ser testado.

Jornal: Vamos supor que tenha apenas um com suspeitas Jorge Miranda – Bernadete e Gustavo são grupos de risco e Jonas tem com sintomas… Testa ou não?

Alexandre: Nós não temos cinco vereadores suspeitos, o presidente da Casa está na enfermaria da Santa Casa porque foi até um pneumologista particular e a tomografia computadorizada apesentou uma alteração no pulmão, que fez com que ele fosse encaminhado ao Hospital, mas com todos os sintomas vitais adequados: saturando bem, respirando bem, sem dificuldades respiratória, sem nenhum sinal de sintoma que alertasse, mas devido ao exame de imagem ele foi enviado ao serviço de isolamento na enfermaria, passa bem. O teste já havia sido coletado, tanto no hospital de Piúma quanto em Anchieta. Estava esperando o resultado.

Jornal: Quantos vereadores estão com suspeitas em Piúma?

Dois apresentam sintomas, um foi testado porque atende a norma técnica 29, não podemos testar quem a gente quiser, só podemos testar o que a nota técnica 29 preconiza. Um que atende foi testado e o outro ainda não estava no dia bom de coleta, além de estar assintomático, senão o exame dá indetectável, ele falso negativa, um possível caso positivo, o que é pior que um caso positivo.

Jornal: Mas Jorge deu entrada no Hospital de Piúma antes de ir ao PA de Anchieta?

Alexandre: Jorge deu sim entrada no Hospital na semana passada, mas todas as queixas dele focal não tinham relação com síndrome respiratória. Nós avaliamos todos os Baus –  todos os atendimentos, nós já tínhamos ciência da condição dele mas era sempre hipertensão, stress, nervosismo, uma dor especifica, mas nenhuma condicional de síndrome gripal. Analisamos o BAU e ele não relatava nem febre, nem dificuldade respiratória, nem um qualquer outro sintoma de gripe. Ele evoluiu para uma característica da doença com discrepância. Segunda-feira ele coletou em Anchieta o material foi enviado para nós, na quarta-feira ele recebeu uma visita da equipe nossa que cuida de casos suspeitos, ele foi monitorado, os sinais vitais estavam todos ótimos, saturando bem sem dificuldades respiratória, a escuta estava boa, a família agradeceu, nesta ocasião continuamos a orientação e esperamos o resultado. Por conta deles, a esposa o levou a Cachoeiro e o que o RX não mostra o que a tomografia mostra. Na verdade antecipou a ida dele a Cachoeiro, antecipou o resultado e a rotina normal dos municípios só haveriam se por acaso ele agravasse os sinais e sintomas.

Jornal: Quem deve testar?

Será seguida a Nota Técnica da Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo nº29/2020, na qual estabelece como critérios: o diagnóstico laboratorial para Covid19 será através de coleta Swab para execução RT-PCR no período do 4 ao 7º dia dos sintomas, para indivíduos sintomáticos, será realizado teste rápido, destinado ao prognóstico cabendo em todos os casos a notificação, seguido do monitoramento por equipe multiprofissional.

Existem critérios para testagem, não é porque nós não queremos testar (estado, federação da saúde e município). Se nós testarmos no dia errado uma pessoa irregular, nós vamos falso negativar um paciente doente. Eu testo no dia errado, o paciente está com a doença e o exame vai dizer que ele não está com a doença. É o caso da família de Gustavo (vereador). Não é porque um ente da família ficou doente que nós testamos toda a família. Isto não existe, na teoria epidemiológica.

Jornal: E o que é feito dentro do serviço epidemiológico com pacientes suspeitos ou confirmados?

Alexandre: Nossa equipe pega o caso, estuda toda árvore epidemiológica da família e faz uma definição em quem teve contato primário, secundário, terciário. Dentro desta árvore epidemiológica nós sabemos quem vai ser contato periculosidade e quem não é e então, dividimos os grupos. Quem teve contato afetivo, quem não teve, separamos estes grupos, identificamos os nomes estudamos os pacientes de risco, já incluímos também os do grupo de risco. Começamos a abordagem com cada um membro da família. Se a pessoa não entrar no quadro, não testa, mas se evoluir para o quadro, testa.

Jornal: Quando um parente próximo positiva e o familiar teve contato, a orientação imediata é isolamento?

Alexandre: Tivemos duas famílias grandes em Piúma que teve parentes contaminados, fizemos a identificação familiar, verificamos quem tinha possibilidade de contato primário com contágio próximo. O fato de ter passado por ele, ou pelo mesmo local por onde passou o infectado, não significa ainda que esteja contaminado.

Temos ainda o diagnóstico por dedução, que é outra ferramenta. O primeiro ponto é isolar todos, depois analisar o caso, se for contaminado o esposa, a analisamos- primeiro passo, a esposa testa, se ela negativar já desativa vários testes, porque a esposa negativou. Se a esposa positivou, fazemos a busca ativa nos contatos próximos. Com quem a esposa teve contato próximo. Estuda todos, alguém sintomatizou, testa, não sintomatizou, isola. Tem grupo de risco ou mais de 45 anos? Testa. Tem todos os critérios que estamos atendendo. Estamos sendo muito coerentes com o Ministério.

Jornal: Assintomático testa?

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Sintomático respiratório vai para o diagnóstico clínico, pela Unidade de Saúde, ou Hospitalar e, se o médico ver que ele tem sintoma gripal, imediatamente é notificado e vai para o diagnóstico laboratorial. Ou ele vai para o isolamento domiciliar, ou internação, depende se ele for sintomático respiratório grave ou leve, ou espera em casa o diagnóstico laboratorial.

Posteriormente tem duas prerrogativas: ou ele é sintomático entre o 4º e 7º dia, ou após o 7º dia. Se ele é sintomático, testa na técnica de PCR que é o Swab, só este vai detectar a doença nesta fase. Se ele está sintomático após o 7º dia, testa no teste rápido que nós temos aqui, que vai dizer se ele teve a doença ou tem.

A Nota Técnica 29 traz ainda a observação: somente será considerado apto a coleta de exames laboratoriais indivíduos após o 4º dia de manifestação clínica, logo, assintomático, não testa. Exemplo: Jorge Miranda positivou, eu posso testar todos da família que não tem sintomas? Não! E então voltamos ao que diz a nota técnica da SESA. (Secretaria de Estado da Saúde).

Seguimos o plano, dentro da ciência, obedecendo os protocolos da SESA, OMS e MS – (Secretaria Estadual de Saúde, Organização Mundial da Saúde e Ministério da Saúde). Trabalhamos em conjunto, o que é certo.

Doação da Samarco

O secretário de Saúde de Piúma também respondeu questionamentos relacionados as doações da Samarco. Uma vez que chegou a redação do jornal suposições de que Piúma estaria comprando Equipamentos de Proteção Individual- EPIs, álcool em gel e álcool 70 com valores superfaturados e sem ter necessidade, uma vez que teria recebido doações.

No Espírito Santo, os municípios de Anchieta, Guarapari e Piúma, vizinhos do Complexo de Ubu, receberam os kits de saúde para auxiliar no combate ao novo coronavírus.

Os produtos e equipamentos vão auxiliar, principalmente, os profissionais que atuam na linha de frente nas unidades de saúde. Serão destinados cerca de 88 mil máscaras cirúrgicas, 67 mil toucas, 33 mil pares de luvas látex, 4,7 mil capotes descartáveis, 2,5 mil litros de álcool gel 70%, 6,5 mil litros de álcool 70% desinfetante, 288 óculos de segurança e 160 termômetros. Os testes rápidos estarão disponíveis nas próximas semanas.

 Alexandre foi enfático, falou também de outras doações.

 _ A primeira doação recebemos diretamente do Ministério da Saúde, recebemos o repasse da Sesa de kits, recebemos da Samarco uma primeira etapa e agora vamos receber mais 2.500 máscaras para a doarmos a população, o Fórum doou o fundo de pena pecuniária. Muitas das vezes a pessoa ver uma foto com três pilhas de álcool e acha que tem álcool para a população toda e nem é álcool para desinfecção de mão, é álcool para desinfecção de bancadas e para uso nas unidades de saúde e hospitalar, que é o álcool que a Samarco doou.

A Samarco fez doação de álcool a 70% líquido para desinfecção de superfície, não é para assepsia das mãos. Este álcool é destinado a todas as secretarias, hospital e 10 unidades de saúde.

As doações ocorrem em momentos diferentes: você compra em um determinado momento e a Samarco diz que vai te dar em outro momento, apesar de serem produtos diferentes você não vai suspender a compra porque a Samarco prometeu em te dar uma quantidade de álcool. A Samarco doou um quantidade pequena de máscaras de dupla proteção, esta que está sendo utilizada somente para profissionais que não estão tendo contato direto com síndrome respiratória e álcool de proteção.

Jornal: O armazenamento do álcool está em lugar errado?

A redação recebeu também informação de que o álcool está sendo guardada em local indevido e que pode gerar um problema.

Alexandre- O rumor que se dá para o estoque ele não bate com o ciclo farmacêutico, que e aquisição, armazenamento, distribuição e dispensação. No protocolo de distribuição diz como fazemos, na verdade, a secretaria, ao contrário de outros municípios, que cada secretaria um compra o que utiliza, nós estamos distribuindo para todas as secretarias. Centralizei no almoxarifado da Secretaria para ter o maior controle na dispensação. Hoje eu tenho 50 garrafas de álcool de 5 litros, exemplo, amanhã você vem conferir não tem nada, e aí, o controle está sendo mais efetivo. Nós distribuímos para todos…

O álcool não está no lugar errado, ele está no almoxarifado. Se ele vai estar no prédio da administração, ou na Farmácia, ou no almoxarifado da prefeitura antiga o álcool é inflamável, onde ele tiver. Ele está armazenado adequadamente. A legislação diz para um produto inflamável é que tem de ter extintor, um plano de saída de emergência. Só que eu não consigo ir a um terreno vazio colocar este álcool, é impossível. Mas em qualquer galpão ele é inflamável, não vai mudar a característica química do produto.  

R$ 5 MILHÕES PARA GASTAR COM COVID19

A Reportagem perguntou ao secretário se a Secretaria de Saúde tem R$ milhões para gastar com Covid19, como afirmou o vereador Eliezer Dias, quando diz que a Prefeitura não compra os testes rápidos porque não quer…

Alexandre- Realmente nós não compramos o teste. Nós não compramos porque o Município tem uma cota orçamentária bem diferente de Anchieta e Presidente Kennedy.

A questão não é essa, a questão é que nós somos extremamente coerentes com a Nota Técnica do Estado. Entenda, eu sou secretário de Saúde, porém sou farmacêutico, minha área, imunologia clínica.

Houve um município que comprou 1.000 testes rápidos a aproximadamente R$150.00, exemplo. E os testes de acordo com a nota técnica não são para testar todo mundo, você só consegue uma confiabilidade adequada no teste se estiver na fase correta dos sintomas, não dá para você testar as cegas. Nenhum estado faz isso, não é porque o estado é maldoso ou não quer testar, quer omitir e Alexandre pensa assim. É porque se eu testar as cegas o que vai acontecer? O município que gastou mil testes para achar sete profissionais assintomáticos, de mil para achar sete, quanto passaram por falso negativo por ter sido coletado no momento inadequado, esta preocupação inclusive é do secretário de estado. Você gasta mil testes rápidos para testar todos os profissionais da saúde que estão assintomáticos sem critério nenhum e você diz para a pessoa que ela negativou, mas ela tem a doença porque testou no período inadequado. Então, o profissional de saúde se acha seguro e sai do estado de alerta dele. Ele vai abraça o filho, e está portando a doença. Epidemiologicamente isto é muito perigoso, é o falso negativo. O falso negativo é mais perigoso do que o positivo. Lembrando que o positivo perigoso sintomatiza, ele vai evoluir e a gente vai cuidar. O falso negativo muitas das vezes ele vai passar a sintomático. Ele vai ficar achando que não tem a doença, porém espalhando-a para aqueles que ele mais ama. Isto na verdade não está na nota técnica. Mesmo que eu compre mil testes, eu tenho que testar o que diz a nota técnica, eu sou coerente com a teoria.

A teoria é clara – está assintomático no 7º dia em diante eu testo com teste rápido. Está sintomático até o 4º dia eu testo com o teste rápido. Piúma comprou teste? Não.

Estado enviou mais 220 testes

Alexandre- Piúma confiou no Estado e esperou enviar e enviaram aquela cota pequena de 20. Só que o secretário Estadual tinha me garantido que ia mandar e mandou mais 220 testes. Estes 220 testes no critério da nota técnica ele me dura um tempo adequado. 220 ou 1000 testes fora da nota técnica não dura uma semana. Testar as cegas é ir contra a nota técnica do estado. Essa é a questão. E eu me preocupo com isso. Você acha que de mil testes realizados só sete profissionais foram identificados com a doença, quantos foram negativados, mas que estavam positivos e circularam espalhando a doença? Epidemiologicamente isto está incorreto.

Resumindo, 220 testes nós recebemos, já usamos uns 20, as empresas que tem agora testes rápidos pronta-entrega estão vendendo o mínimo de 10 mil testes por lotes, melhor preço que se consegue a R$145.00. 10 mil testes R$1.450 milhão. Tem outra questão, o município que fizer isto vai ter de testar o profissional em massa, pelo menos a cada sete dias. Eu tenho 400 e poucos funcionários na linha de frente da saúde, a cada sete dias eu tenho que testar 400 e poucos da área da saúde. Não existe município que tenha perna para fazer isso, vejo isso muito mais político do que técnico-cientifico.

A população eu consigo testar ela com padrão outro, o PCR, que o feito com cotonete no nariz e traz 98% de confiabilidade. A população não tem que se preocupar. Ela teoricamente não vai ser testada com teste rápido, será testada com padrão ouro. Teste rápido é direcionado para profissionais da saúde e da segurança pública, só que também com os critérios.

Existe uma discussão muito grande, porque foram vários municípios que compraram o teste rápido. Eu não estou acusando nenhum município, eu não sei como eles vão usar o protocolo do teste rápido, estou explanando uma opinião de alguns secretários e o que é teoria sanitária dos nossos técnicos, do infectologista dizem. Nós abordamos esta discussão entre outros profissionais a nível nacional. Eu posso estar enganado, mas o que o município vizinho fez foi testar todos os profissionais, mas não sei qual tipo de teste ele comprou, teria que avaliar. O teste que tem no mercado hoje é o IGG que só detecta a doença no 7º dia em diante. E se eu te testo no 5º e você está com a doença, aí você Luciana Máximo tem filha pequena está liberada, mamãe negativou, vou te abraçar e te beijar. Essa a discussão.

Jornal – A secretaria pode comprar a vontade com dispensa de licitação? Chegou a redação que a Secretaria de Saúde está fazendo farra nas compras.

Alexandre: O decreto presidencial dar margem para você comprar facilmente. Nós com o entendimento jurídico nosso vamos tocar o processo da forma mais segura possível. Na hora que houver uma auditoria, porque haverá em todos os municípios, o Ministério do Tribunal de Contas já deixou muito claro isso, precisamos estar mais resguardado possível. Nós estamos com dificuldades nos orçamentos, tem empresa que não está respondendo, porque não tem leito hospitalar pra comprar, não tem bomba de fusão, o fornecedor nem responde, até a cópia do e-mail da não resposta estamos colocando no processo para atestar que as vezes só conseguimos dois orçamentos, os processos estão muito bem instruídos como manda a instrução normativa do município, todas com transparência no portal, a indagação da compra do álcool pelo vereador Jonas, ele explicou a compra, mas ele esqueceu de falar da lei principal do capitalismo, que é a lei da procura e da oferta. Há 35 ou 40 dias antes da compra dele na drogaria o valor não era o mesmo. Esta denúncia foi aceita pelo Ministério Público estou respondendo muito bem embasado, como eu recebi o vereador aqui, eu disse para ele. Eu estou à disposição, sou um ordenador de despesa, não vou fazer nada errado porque senão quando sair daqui ficarei a vida toda respondendo processo. Estamos dando transparência ao processo, vou enviar uma cópia a cada vereador que apure-se e se investigue. Agora, se a empresa praticou um outro valor de mercado, ela terá de se responsabilizar. Eu enviei um outro oficio pedindo explicações para a empresa, não paguei, segurei o pagamento.  É uma empresa grande, eu não comprei de terceiros como alguns municípios compraram, comprei direto do fabricante, para dar mais transparência. Como eu conversei com os vereadores: ou a gente se alinha e para de se atacar, ou vamos em busca de proteger o município, ou vamos ficar neste sistema de ataque e defesa.

Todos falam que tem que comprar testes rápidos, concordo que tem que comprar testes rápidos, mas se eu comprar R$1.400 milhões de testes rápidos, eu vou ser acusado de ladrão, ou de um bom secretário? Esta é uma preocupação muito grande.