FOI HÁ 47 ANOS, MAS PARECE TER SIDO ONTEM
O texto é de opinião, do nosso colaborador José Alberto Valiati
27 de março de 1956. Nessa data, nasceu um menino em Inhaúma e seus pais, Américo Valiati Baptista e Elvira Pereira Baptista, deram-lhe o nome de João Bosco. Desde criança, já demonstrava grande interesse pelos estudos. A própria mãe era a professora da comunidade e ele estudou com ela até o terceiro ano. O quarto, porém, cursou em Duas Barras. Sempre foi exemplo de conduta e aprendizado. Amava o conhecimento e seus pais o matricularam no Instituto Padre Anchieta em Cachoeiro de Itapemirim em regime de internato. Naquele tempo, o primeiro ano era de admissão e os outros quatro do ginasial. Muito querido pelos padres e pelos colegas, se tornou já de início um grande líder. O esporte em que se destacou foi o futebol, e quem lembra dele, sabe muito bem que se tratou de um craque e um flamenguista doído. Terminado o período no IPA, iniciou o segundo grau, naquele tempo denominado Científico, também em Cachoeiro. Foram três anos de aprimoração estudantil e mais uma vez um exemplo para todos. Científico completo, era preciso decidir o futuro. Foi aí que começou estudar com afinco para tentar uma vaga de trabalho em uma agência bancária. Para cobrir as despesas, trabalhou de ajudante de pedreiro e serrador e andava a pé até o serviço para economizar o seu dinheirinho. Prestou exames para o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Coroando seu esforço, passou nos dois concursos. Em pouco tempo, foi chamado para trabalhar na CEF de Linhares. Chegando lá e juntamente com mais três conhecidos, alugaram uma república para morarem. Mesmo bem novo, apenas com 20 anos, já tinha um emprego certo. Seus pais eram só alegria ao verem a conquista do filho. Aí chegou o mês de novembro. Estavam ansiosos para verem o rapaz, pois no dia 15 viria votar. (naquela época a eleição era na data da Proclamação da República). Votou, passou o dia com a família e no outro dia pela manhã foi a pé até Duas Barras para tomar o ônibus. Sua mãe só entrou dentro de casa após perdê-lo de vista. A época ela comentou que achou estranha a despedida dele, mas pensou que era impressão de mãe. Infelizmente, quatro dias depois chegou a triste notícia: dos quatro moradores daquela casa, três sofreram um grave acidente de carro entre Linhares e São Mateus e morreram. Nesse momento, minha falecida irmã, Maria Áurea e um primo chegaram onde eu e meu irmão estudávamos no colégio dos padres Salesianos em Boa Esperança, hoje Vargem Alta, para nos buscarem. Nos disseram que era para passarmos um final de semana em casa. Faltava somente uma semana para entrarmos de férias e eu fiquei desconfiado. Ela chorando nos contou o ocorrido. Chegando em casa, encontramos muita gente esperando o corpo e mamãe em desespero. Nesse momento presenciei a cena mais triste de minha vida. Quando foi aberto o caixão, o rosto do meu irmão estava envolto com faixas. A parte de trás da cabeça foi arrancada. Imaginem como foi para mamãe vendo seu filho morto e não poder contemplar-lhe a face? Centenas de amigos nos acompanharam no cortejo fúnebre e mamãe chorou a morte dele por anos, até o falecimento precoce de papai que narrarei em outro capítulo.
Bem gente, não foi fácil escrever este texto e não consegui conter as lágrimas, mas ficou para nós os exemplos dele de dedicação e superação, afinal foi há 47 anos, mas parece ter sido ontem.
(José Alberto Valiati – 20/11/2023)