LUTO: João Carlos Abrahão morre aos 85 anos
Irmão do segundo prefeito do Piúma, João Carlos Abrahão, deixa uma memória na cidade com a sua participação no desenvolvimento comercial de Piúma
O comerciante aposentado, João Carlos Abrahão, 85 anos, faleceu na manhã desta terça-feira, 05, no Hospital Nossa Senhora da Conceição em Piúma, vítima de uma pneumonia.
O corpo foi conduzido a Vitória para ser embalsamado e poder aguardar a chegada da única filha que reside nos Estados Unidos da América – EUA.
O velório está marcado para quarta-feira, 06, na Igreja Católica São Pedro, na Praça Alcides Abrahão, praça que recebe o nome do irmão dele, o segundo prefeito de Piúma. O sepultamento está previsto para quinta-feira, 07, no cemitério local, no centro da cidade. O jornal prestará uma singela homenagem a esse comerciante que ajudou muito no desenvolvimento da cidade. Foi dele o primeiro automóvel, a primeira radio vitrola, bem como a primeira televisão na cidade que ainda era uma pequena vila.
Seu João Abrahão é pai de João Carlos, filho de uma família tradicional que veio do Líbano para o litoral.
A cidade está de luto com a perda desse comerciante que marcou o município com sua participação no crescimento comercial.
Lembranças
Deusiana Abrahão, sobrinha do seu João Carlos recebeu o jornal na casa do tio, o comerciante, João Carlos Abrahão e contou um pouco da história da família, que retrata também um pouco das memórias do balneário de Piúma.
Além de comerciante, também era fazendeiro, criava gado no Vale do Orobó, cultivou plantações de arroz abastecendo algumas cidades do Sul do ES. Era muito amigo de José da Palma, figura lendária na cidade que segundo consta teve 42 filhos.
Vale registrar que, a Família Abrahão, vinda de Beirute/ Bayrut em 1911, foi uma das que mais influenciaram no processo de colonização de Piúma. Os patriarcas da Família Abrahão sofreram fortes influências dos familiares que já residiram algum tempo nos Estados Unidos da América, seguiram viagem rumo ao Brasil, onde passaram pelo Porto de Santos e prosseguiram desembarcando no Rio de Janeiro. Após ficarem alguns meses no Rio se deslocaram para o Espírito Santo, onde residiram em Anchieta, Alfredo Chaves e por final, em Piúma, onde desenvolveram atividades que influenciaram no crescimento do município.
Comerciante era muito namorador
A viúva de João Carlos Abrahão, Natalina Taylor relembra momentos de muitas felicidades com o esposo com quem passou 20 bons anos casada João Carlos era irmão do segundo prefeito da cidade, eleito em 1971, Alcides Abrahão, que ganhou como homenagem uma Praça em frente ao pequeno cais no Porto. Foi também vereador por três vezes no município de Iconha onde presidiu a casa de leis. Alcides era filho de João Abrahão, além de político foi comerciante, possuiu a primeira soverteria, em 1950, e a primeira farmácia em 1945. O avô, João Abrahão teve 20 netos, nove filhos de Vanderlina, três de Maria Dolores, seis de Alcides, um de João Carlos e um de Jamile.
De acordo com a sobrinha Desiana, um dos primeiros comércios da cidade foi a Casa João Abrahão que comercializava secos e molhados, em atacado e varejo. A Casão João Abrahão ficava localizada na Avenida principal da Cidade, onde hoje está situada a Igreja Mundial, em frente ao Laboratório Dr. Anibal Mathias. A Casa Abrahão foi fundada em1917 pelo pai do seu João Carlos. “Foi da Família Abrahão a primeira televisão do município em 1966 e o primeiro carro. Em 1938, ele João Carlos comprou um rádio a bateria, o primeiro da Vila de Piúma. Por ser comerciante e fazendeiro, o pai de seu João Carlos podia proporcionar aos filhos boas condições de vida. As filhas ostentavam bicicletas novas. “Antes de mais nada, ele foi uma pessoa amiga, um tio maravilhoso e também contribuiu muito no município. Na verdade, os filhos dos meus avós nasceram aqui em Piúma, tio João nasceu aqui. Meus avós vieram do Líbano. Fica uma saudade que não é possível medir, o coração está aos pedaços”.
Muito triste a esposa fala do grande companheiro
A dona de casa, Natalina Taylor Abrahão, 54 anos, estava ainda sob o efeito de medicamentos, quando recebeu a Reportagem em sua casa. Casada a 20 anos com João Carlos ela contou um pouco sobre a pessoa do companheiro que namorou durante 10 anos e depois se casou, com a presença de poucos convidados, pois ele não queria que todos na cidade soubessem. Inclusive ela deixou escapar que o tabelião do município, o senhor Arnoldo, chegou a brindar dizendo que, o dia que João Carlos se casasse ele andaria de cueca pelas ruas, depois ele não cumpriu a promessa, ficou cabisbaixo e meio que escondido, pois o casamento se efetivou. Natalina não teve filhos com João Carlos, mas ele teve uma filha com uma mulher com teve um relacionamento.
Ele era simpático, um galanteador, adorava viajar, curtiu a vida o quanto pode. Teve muitas namoradas, mas só se casou com Natalina. “Segunda ele passou mal e o levei para o hospital, sentado na cadeira do papai ele ainda conversou com Dr. Cesar lembrando do primeiro radiovitrola que ele comprou do padrasto de Dr. Cesar. Como imaginar que ele fosse falecer tão rápido”.
Sobre a paixão por João Carlos, Natalina preferiu não tornar público a história – “Nós namoramos 70 dias, ele terminou comigo, depois combinamos de ficar sem compromisso, quando num dado dia João me aperta, chega com uma folhinha, vamos marcar o casamento, que até então ele já estava se envolvendo com outra. Era muito namorador”.
Natalina relembrou partes da história com muitas saudades. “Marcamos o casamento para seis meses depois e ele disse: “se aparecer alguém no casamento eu não caso, ele não queria que convidasse ninguém. Eu disse como que eu não convido nem papai nem mamãe, não sou filha de chocadeira João, pelo amor de Deus e ele se aparecer alguém eu não caso. Arnoldo falava que se João casasse ele ia andar de cueca na rua, a gente só via cabecinha de bem escondidinha. Tinha um amigo de Vitória que falava que se João cassasse ele ia andar a nado no Rio, um dia eu falei você não atravessou a nado, e ele disse, vocês não me convidaram. Vivemos milhares de momentos especiais, viajamos muito, caminhamos muito, era muita paixão. Casamos em 2007. Era um homem muito bom, integro, meu coração está partido em mil pedaços. Eu chamava ele de meu turquinho e ele de coronel. Eu era dura com ele, tinha de botar na linha”, disse a companheira.
O namoro de Natalina com João durou 10 anos, eles ficaram casados 20 anos. Amor e paixão que durou duas década
O primeiro automóvel da cidade de Piúma pertenceu a João Carlos Abrahão.
Um dos primeiros comércios de Piúma, a Casa João Abrahão
Seu João Carlos Abrahão e o grande amigo, Zé da Palma, na fazenda no Vale do Orobó, onde criava gado.
Familiares desembarcando no Trapiche em Piúma, chegando do Líbano
O primeiro radioeletrola da cidade adquirida pelo comerciante João Carlos Abrahão.
O comerciante mandou fazer um busto dele em vida.