Música para surdos: websérie inédita no país reúne 12 compositores e inverte a lógica na tela

Assessoria de Comunicação
19/10/2023
4 minutos e 24 segundos

O projeto vai ao ar no YouTube nesta sexta (20), às 19 horas, com 12 episódios

Idealizada e dirigida pela produtora cultural e compositora linharense Bella Nogueira, Mãos à Obra é uma websérie com a participação de 12 artistas, completamente voltada para contemplar a população surda. O projeto vai ao ar no YouTube nesta sexta (20), às 19 horas, com 12 episódios, no canal do projeto.

Na tela, pela primeira vez em uma produção audiovisual do país, a intérprete de Libras é protagonista. Ela, no espaço maior do enquadramento, interpreta as composições do elenco, que, desta vez, aparece no canto menor da imagem. Nessa inversão de dimensões, ganha o público surdo, que raramente tem visibilidade ampla dos profissionais especializados na Língua Brasileira de Sinais. A série foi projetada para o consumo ideal da comunidade surda, estimada em cerca de 5% da população brasileira, segundo o IBGE (2021).

Pedagoga e intérprete-tradutora de Libras há mais de 15 anos, Karina Zonzini é a responsável pela execução na telona.

Os artistas convidados para esta primeira edição do projeto e suas respectivas composições são: Ada Koffi (Sem Limites), Alinne Garruth (Cara), Amaro Lima (Dia Clarinho), banda Auri (Lar), Brunu Chico (Kriptonita), Dan Abranches (Nó), Daniel Silva (Pela Janela), Eloá Puri (Trovão), Érika Nasser (Camburi), Nano Viana (Surto-Mudo), Novelo (Ciclos) e Vitu (Despedida).

Os compositores convidados, em cada um dos 12 episódios, começam anunciando suas próprias músicas em Libras.

“Conheci a Karina Zonzini em 2020, na pandemia. Ao me conectar virtualmente a ela e desenvolver um trabalho ao seu lado, me espantei: era a primeira vez que eu fazia alguma coisa na minha carreira com uma intérprete de Libras. Foi um choque de realidade e, a partir desse momento, mergulhei, estudei e me encantei com a história da comunidade surda. Repeti para mim mesma: nunca mais vou produzir algo sem que possa também me dedicar à acessibilidade”, conta Bella Nogueira.

Além dos episódios principais, o público também terá acesso a materiais extras da série, como depoimentos do elenco, da intérprete, da diretora do Mãos à Obra e mais. O destaque vai para “O Manifesto”, peça na qual os participantes atuam, de forma leve e divertida, para ilustrar a realidade dos intérpretes de Libras em produções audiovisuais.

Bella Nogueira, na concepção do projeto, optou por trabalhar todo o material em preto e branco, com algumas inserções em azul (cor do orgulho e da identidade surda) na produção. A ideia, segundo a idealizadora, é remover da tela as distrações visuais.

Mãe Surda – A cantora e compositora Ada Koffi conta que sempre sonhou em produzir um clipe apenas com a intérprete de Libras na tela. A mãe dela é surda, o que deixou o convite do Mãos à Obra ainda mais especial.

“A felicidade de saber que minha mãe vai poder compreender uma obra minha, um single meu. Minha mãe, dona Gisela, que me ensinou quase tudo que eu sei hoje, uma mulher muito forte, mesmo com todos os desafios que enfrentou. Batalhar por acesso é algo que eu carrego desde criança”, revela Ada.

Inclusão é prioridade – Tudo começou em maio de 2020, quando a compositora e produtora cultural Bella Nogueira criou, durante a pandemia, o Canal Explicanção – primeiro canal digital independente do Brasil a focar em acessibilidade e traduzir as obras de compositores para a comunidade surda. A profissional parceira e voluntária foi exatamente a intérprete Karina Zonzini, fundadora do Instituto Surdo Mundo, em São Paulo.

Produto idealizado pela produtora Nogueira Produções, capitaneada por Bella, nos últimos três anos o Explicanção desenvolveu quadros, documentários, webséries, um podcast e um festival – o Exfest -, sempre ladeando com equivalência acessibilidade e música. Mais de 40 artistas do ES tiveram seus trabalhos interpretados em Libras.

“Nos últimos anos fizemos um trabalho muito bonito, de oferecer a mais de quarenta artistas do nosso Estado a oportunidade de serem consumidos e conhecidos pelo público surdo por meio do canal, do nosso festival, entre outras produções. E a gente sabe que, muitas vezes, artistas independentes não têm condições de colocar um intérprete no show, no videoclipe… Por isso, a gente faz esse papel para eles com muito carinho e, nessa produção em especial, vamos fazer isso em um formato inédito e provocador, para gerar reflexão mesmo, jogar luz ao tema e na necessidade do nosso setor ser mais comprometido com esse público”, pontua Bella.