“O poder do meu cabelo”, livro infantil de Ione Duarte busca fortalecer a identidade das crianças negras
A obra é uma narrativa sobre Vitória, uma menina que, com o apoio de sua mãe, descobre a força de sua identidade.
Já está circulando em diversos espaços “O Poder do meu Cabelo”, obra infantil da escritora capixaba Ione Duarte, ilustrada por Gió, é um lançamento da editora Nsoromma.
Um livro que merece ser muito mais que lido, degustado, “destrinchado”, que merece passar pelas mãos dos estudantes e dos leitores em geral. O tema é um sacode, é um convite, é uma oportunidade de reflexão.
Conta a autora que a narrativa perpassa pela própria história, a viveu na própria pele com a filha após ela sofrer racismo aos 5 anos. Foi a partir de então que criou estratégias para superar o trauma e enfrentar a situação.
Recentemente, o livro foi lançado no VIII Afrochaves durante Café Literário onde também lançou a obra Corpo de Lua, Coração de Sol com a também autora Fabíola Sampaio. E nos últimos dias 26, 27, 28 e 29 a escritora que é pedagoga e mestre em educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) participou do Seminário de Boas Práticas Pedagógicas da Rede Municipal de Cariacica com a obra.
Na última semana a escritora esteve com o livro em uma ação da pastoral operária em Flexal, Cariacica.
“Eu acredito no poder transformador da literatura. Foi com esse propósito que escrevi “O Poder do Meu Cabelo”, uma obra que busca oferecer às crianças negras um caminho para a valorização de sua identidade e autoestima”.
Força da identidade
A autora conta que o livro é uma narrativa sobre Vitória, uma menina que, com o apoio de sua mãe, descobre a força de sua identidade. Através das imagens de personalidades negras, da capoeira e do contato com sua ancestralidade, ela aprende a valorizar sua estética, suas escolhas, sua história e sua cultura, fortalecendo sua autoestima e se empoderando. Essa é a jornada de Vitória em busca da alegria em ser quem ela é.
“Escrever foi a forma mais potente que encontrei para enfrentar o racismo. Por muito tempo, ignorei minha ancestralidade e, sem entender a fundo, enfrentei situações que, na verdade, eram expressões de racismo. O racismo, muitas vezes, se disfarça em expectativas estéticas que reforçam padrões eurocentrados e limitam nossa autoaceitação”.
Para a escritora a obsessão com traços idealizados — como cabelos lisos, sem volume, narizes estreitos e peles com pouca melanina — impõe uma pressão imensa sobre as crianças negras. “Desde cedo, somos bombardeados por modelos que não representam a nossa realidade, o que força meninas, muitas vezes ainda pequenas, a iniciar tratamentos capilares com produtos inadequados para sua idade. Essa pressão estética é uma violência sutil, mas poderosa, que sufoca nossa identidade”.
Ione defende a tese que a sociedade precisa entender que as características físicas de homens e mulheres negros são heranças ancestrais. “Nossos traços contam histórias; são parte do que nos constitui como pessoas. No entanto, as crianças negras ainda são sacrificadas e desrespeitadas apenas por serem quem são, carregando um fardo desproporcional desde muito cedo”.
Continua a escritora: “Pensando nessas infâncias e nos sofrimentos causados às crianças negras que vivenciam episódios de racismo, apresento a história que minha filha e eu vivemos para que outras crianças possam reconhecer seu valor e sua identidade. É fundamental que conheçam sua história e sua ancestralidade, desvendando tantos fatos ocultos de nossa trajetória coletiva. Contar a verdadeira história dos nossos ancestrais e destacar personalidades negras, a cultura negra, intelectuais negros e a beleza negra é uma maneira de mostrar para as crianças o quanto somos potentes, bonitos e inteligentes”.
Poder transformador da Literatura
“Sou pedagoga e mestre em educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e acredito no poder transformador da literatura. Foi com esse propósito que escrevi “O Poder do Meu Cabelo”, uma obra que busca oferecer às crianças negras um caminho para a valorização de sua identidade e autoestima”.
Racismo
A história, narrada por Vitória, também aborda o momento em que a menina percebe o racismo direcionado ao seu corpo preto e o impacto dessa violência em sua vida. A narrativa explora as estratégias usadas pela mãe para apresentar a ela sua ancestralidade e ajudá-la a enxergar sua beleza e força interior. Nesse processo, as tranças, os penteados diversos e a capoeira tornam-se ferramentas essenciais de ressignificação. Além disso, o livro apresenta curiosidades sobre o continente africano, revelando sua riqueza cultural e histórica.
“Essa realidade é um reflexo de uma história dolorosa. Nossos ancestrais foram arrancados de suas terras, amontoados em navios no Continente Africano e trazidos à força para o Brasil, onde foram aprisionados nas senzalas. Após a abolição, não houve acolhimento: foram empurrados para as favelas e periferias e, hoje, empurrados para as prisões”.
Ausência de políticas públicas
A ausência de políticas públicas efetivas e de medidas de reparação histórica deixa nossa comunidade à deriva, perpetuando esse ciclo de marginalização.
“O racismo persiste de forma alarmante, escancarado em uma sociedade que ainda não aprendeu a respeitar as diferenças. Pessoas se sentem à vontade para praticá-lo, achando que o racismo é um “crime perfeito”, onde raramente há consequências para os há consequências para os agressores. Precisamos lembrar que, além do racismo, outras formas de desrespeito ainda permeiam nossas escolas, um espaço que deveria ser de aprendizado e crescimento.…”, finaliza.
Como adquirir a obra:
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