OPINIÃO: DROGA, PRAZER E VIOLÊNCIA
Odmar Péricles Nascimento, sociólogo – foto abertura do artigo disponivel em: https://direitodiario.com.br/
Acompanhei série de reportagens ao longo dessa semana, acerca das ocorrências de violências nas comunidades periféricas na Grande Vitória, com foco nas evidências do tráfico de drogas. Evidências, aliás, também do ponto de vista econômico-financeiro.
Creio que tenha faltado à mesma dimensão nas mídias de tevê e impressas, sobre o que motiva o crescimento da disputa dos pontos-de-vendas das drogas: a enorme procura, o consumo, vício e circulação de enormes quantidades de dinheiro; que alimenta a extensa cadeia de produção, embalagens camufladas, transporte, distribuição e corrupção, antes de atingir locais de comércio ilegal e clandestino.
Não foi dito mas é o CONSUMO QUE BANCA, SUSTENTA E PROMOVE a violência do tráfico de drogas. E impunemente.
De origem pobres e desfavorecidos, a maioria daqueles que se submetem às leis do tráfico, buscam tão somente ganhar algum dinheiro, além das vaidades do porte acintoso de armas, imposição do medo, lealdade e dose extra de coragem para enfrentar rivais e confrontar a polícia.
Consumidores não ficam expostos. Combinam a compra, recebem e pagam suas mercadorias. Sequer sobem a ladeira, são os motoboys que fazem os trajetos de entregas e recebimentos. Se mantido a fidelidade e o toma-lá-dá-cá pagando em cash, nada se altera e o fluxo se mantém.
Consumidores têm ainda a seu favor a legislação branda. Traficante, mesmo os meninos que se envolvem fácil, pagam com a vida ou prisão.
Mas que cara tem esse tal consumidor? Acha que são os “noias”, aqueles zumbis miseráveis vistos na tevê em baixo de pontes e viadutos da cidade? Ou sabe daqueles instalados nos metros quadrados mais caros e luxuosos da metropolitana?
A droga invadiu recintos importantes, famílias, relações, ambientes profissionais e institucionais, inclusive com responsabilidades de fiscalização, controle, julgo e penalizações. Extratos sociais empreendedores, meios culturais e políticos. Nada está fora do radar dos negócios de entorpecentes.
Para o consumidor a droga é parte do seu lazer, do prazer, da festa. Comemora a vida assim, custando a vida dos desgraçados da sorte, que lhe servem o ópio.
No morro a droga é outra coisa, faz parte do sistema financeiro distribuído entre colaboradores, famílias, comércio local. E não haveria cizânia entre o prazer do usuário e o fomento dos “negócios da boca”, caso a violência ficasse fora disso, e não se manifestasse como cabo-de-guerra, que estoura do lado mais frágil.
Mas e aí, como fica? O que acontece em seguida? Bem, faz tempo que nada acontece que mude essa prosa. Questão de classe, status. Veja quais estão nas prisões, e quais estão passando temporada nas clínicas de reabilitação.