OPINIÃO: não me culpe se virar manchete
O texto é de opinião e se você não concorda, nos envie a sua opinião que publicamos também.
Meu Deus! Que perda irreparável! Inacreditável! Que Deus conforte os amigos e familiares. Vai deixar saudades, não consigo acreditar, a ficha não caiu.
Certamente você que me ler já leu esta mensagem algumas vezes na sua vida e também já escreveu para alguém, um texto semelhante.
O sentimento é igual para todos que perdem.
Dor que corta a alma, que despedaça, que leva junto parte da gente, já fiz um poema com estas palavras… Dor! E para os que ficam, saudades.
Mas vamos falar de um assunto que muitos não falam em casa. O álcool e o perigo dele nas nossas vidas. Os malefícios são incontáveis.
Numa roda de bar, o assunto gira em torno de várias pautas, enquanto aguardam a próxima cerveja. As garrafas se esvaziam e se empilham sobre as mesas de bar: o político preso, o vereador que emplacou a filha secretária de Saúde, o café com gosto de palha, a gravidez da vizinha, relacionamentos, o clássico de domingo, quem é que vai pagar a conta do que se bebeu ou dos problemas que se acumularam na vida. O papo é longo.
A cerveja é presente nos lares, nas festas, na solidão, na comemoração do título do time do coração. Ela é presente sempre, seja num fim de tarde, na sexta é de lei. Entretanto, no momento de descontração, de fuga da realidade, raro encontrar quem debata algo que está exatamente ali, dissimulado: o preocupante aumento no número de casos de alcoolismo e de mortes causadas, por isso, no Brasil.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o álcool é apontando como o maior responsável por mortes de brasileiros entre 15 e 19 anos, seja em acidentes ou por paradas cardíacas. No Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os dados registram aumento crescente no consumo de bebidas alcoólicas nesta faixa etária.
O IBGE revelou em 2016 que, pouco mais da metade dos alunos do 9º ano já experimentaram bebida alcoólica. O número equivale a 1,5 milhão de adolescentes de 13 ou 14 anos.
E os seus pais estão sabendo, ou bebem em casa junto?
Outro dia, aqui bem pertinho de nós, uma aluna de 14 anos chegou à escola onde estuda, bêbada.Havia descido do ônibus em um bairro, comprou a bebida, encontrou amigas, beberam e foram estudar. A escola, não sei o que fez, se chamou o Conselho Tutelar, se chamou os pais, não sei qual foi o desfecho deste enredo.
Segundo o psiquiatra Gabriel Monich Jorge, o adolescente tem maior fragilidade com relação à condição clínica. “Ele vai ter mecanismos de não conseguir manter o estado orgânico preservado. Ele pode ter uma condição de desmaios ou coma, né? Ou uma parada cardiorrespiratória, porque o álcool é um sedativo e, com o passar do uso, ele começa a ficar mais lento. Ele também pode ter um quadro depressivo com o uso excessivo do álcool”.
A psicóloga Romi Campos Shneider Aquino afirma que, quase sempre, os pais ignoram o risco do consumo de álcool e não percebem que as práticas que eles adotam em casa influenciam no que o filho vai fazer.
“Com 10 anos, foi meu primeiro contato com o álcool. Na minha casa tinha várias bebidas alcoólicas, na estante. Eram presentes de amigos. E tinha um licor, parecido com café com leite. Achei bonito. Falei: “deve ser bom”. Provei e gostei. A partir daí, a barreira do ‘por que que as pessoas bebem?’ acabou”, conta um homem a uma reportagem.
O homem afirma que tentou o suicídio, ainda na adolescência, em razão do álcool. “Estava desesperado, sozinho. Eu me lembro de pensar que ninguém mais me queria por perto. Eu morava em uma curva, logo depois de uma reta. Eu pensava que se eu deitasse aqui, sem iluminação, vai vir um carro, passa por cima e resolve meus problemas”. Um conhecido, no entanto, reconheceu-lhe e o salvou.
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Na nossa carne
A minha família em Presidente Kennedy é muito conhecida pelo sobrenome: Sedano. É muito raro, nas famílias dos Sedanos, você não encontrar um que não beba, ou que não seja alcoólatra. A bebida predileta é a cachaça mesmo. Eu tive dois irmãos que beberam muito, um inclusive era alcoólatra, mas graças a Deus ele decidiu parar de beber.
O outro bebeu a vida toda sem perceber, bebeu o casamento, a mulher o atura, bebeu os filhos – o maior é dependente químico e sofre depressão, o menor também tem problemas… Graças a Deus ele, por pouco, não morreu, teve diversos problemas com o coração, ficou muito doente e no leito da morte, compreendeu que precisava tomar uma decisão, reconheceu a Jesus como seu salvador e decidiu servi-lo, abandonando o álcool e outras atitudes que estavam junto. É um novo homem, fragmentado, tentado se reconstruir.
Eu perdi o meu pai com câncer no pulmão oriundo do cigarro, e o fígado dele, eu não sei como ficou. Sei que parte das terras que herdamos ele colocou fora pagando venda, bebidas e sustentando amantes. Eu perdi tios e primos. Delson, primo querido, foi tão cedo. Tirino, bebeu tanto que passou pela terra sem ser notado, é lembrado apenas pelos porres. Tio Neneu bebeu, tio Franço bebeu… e todos morreram.
Eu confesso que gosto de cachaça, gosto mesmo da amarelinha, mais velha, gosto de vinho e já escrevi inúmeros poemas sob o efeito. A cerveja, eu bebo no máximo três latões numa determinada ocasião e já sei que preciso dormir. Já vivi os tempos da juventude, dos excessos e da euforia. Já tomei conhaque Dreia no lugar de café pela manhã após o Mimoreta. Já bati de moto chapada e não morri. Estou aqui para escrever para você, com limitações, com equívocos de ortografia, vícios de linguagem, pleonasmos e metáforas.
Que prazer desgraçado! Beber para festejar, beber para afogar as mágoas, beber para chorar, beber para seduzir, beber para morrer.
Morrer na estrada, na pista, na rodovia. Morrer de cirrose, e morrer pelo excesso de álcool no organismo, se suicidar. É fato que, 80 pessoas morrem no trânsito a cada 100 acidentes com bêbados ao volante, e os motoristas estão entre 18 e 30 anos, são dados estatísticos.
E a violência está sempre atrelada ao álcool. Quantos crimes, tapas, disparos em discussões idiotas, quantas vítimas? Quantos atropelamentos com morte.
Semana passada foram três pessoas aqui no sul do Estado que tentaram o suicídio depois de beber e, um bêbado, por pouco, não quebrou uma ambulância toda que foi chamada para socorrê-lo.
Contudo, meus queridos leitores, a gente, como jornalista, não pode dizer que um jovem morreu de cirrose hepática, que teve complicações por conta do álcool. Não, já somos ameaçados a ser processado.
a quantos jovens estão bêbados com a chave do carro nas mãos. Quantos estão com o copo na mão?
O álcool é um prazer paradoxal, é uma desgraça. Ele destrói as famílias. Milhares de lares estão espatifados, crianças sendo abusadas por bêbados que dormem com as mães delas, mulheres espancadas por bêbados fracassados, desempregados, agressivos, machos, milhares de mortos no trânsito, hospitais superlotados de pessoas estraçalhadas, o alcoolismo é um problema de saúde pública.
E eu como jornalista solicito ao Governo, aos gestores da políticas de enfrentamento a este problema; mais campanhas publicitárias e menos glamour com as marcas das cervejas e os drinks.
Precisamos resgatar a família, cuidar das pessoas, abrir o debate na escola e parar de tapar o sol com a peneira. Se uma pessoa está bebendo, ela pode estar sofrendo e não sabendo pedir ajuda.
“Lu, você me fez voltar há 37 anos. Meu pai era alcoólatra, ele bebia tudo que tinha pela frente. Ele já havia vendido o nosso botijão de gás, os nossos animais que a gente criava, galinhas, porco.Um belo dia chegou o compadre dele, com um papel branco na mão, eu me lembro, eu estava embaixo do varal, minha mãe estendendo roupas, e ele falou assim: comadre, Toninho vendeu a casa pra mim. Mamãe riu e falou: como assim, vendeu a casa? Ele tinha vendido nossa casa com tudo dentro. Nós só pudemos sair e nós fomos morar em um cômodo de 4 X 4, eu, minha mãe e mais quatro irmãos. Ele destruiu toda uma história toda uma vida que eles construíram. Minha mãe trabalhava em três empregos para fazer a casinha que fizeram juntos e o álcool o fez beber até a nossa casa. Isso eu não vou esquecer. Se eu morrer com 100 anos, eu não vou esquecer nunca, nós fomos despejados da nossa própria casa, do nosso cantinho”…
Eu lamento muito pelos nossos jovens, pelos nossos adolescentes, pelos nossos pais, tios e nossos amigos. Se não consegue beber e parar, não beba! Se vai dirigir, não beba. Não me culpe se virar manchete!
PS.: Não precisa me defender nas redes sociais, os urubus gostam de carniça. Quando eu escrevo um texto que agrada, poucos elogiam, quando desagrada, eu viro saco de pancada. Tô acostumada.