Pausas para a Literatura • Pronome pessoal do caso reto
A liberdade que traz à tona sua espécie
O gosto dos dias sem clausura e amarras
O fino (sem) trato
O sinal emblemático mais forte que os demais
O sangue que corre em suas veias e seus cenários
Os alicerces que a enobrecem e evocam
A voz emudecida por tantos séculos
E o discurso que eleva seus contornos.
A tolerância que a convida
O mal enfrentado que abomina
O calor da paixão que avassala
A terra que produz a luta
O tempo quarado em seus quintais e esperanças
As certezas ditadas e não cridas
O não ouvido e inventado
Os quadris que cantam nas danças e nas ruas
A mente que traça sua nova perspectiva
O olhar que silencia e grita
O sorriso ensolarado que teima amanhecer
A lua que cruza seus espectros
E as estrelas bordadas no peito
A jornada que ampara e denuncia
O preço bem pago e maldito
Os desapegos que alinham os cenários
A ausência envelhecida perpetuada no espaço
Os preceitos e normas que anestesiam
o que brota de dentro.
E a teimosia reinante no riso frouxo
e nas alegrias escapadas dos jardins, das masmorras e dos templos.
Desamparos, procissões e balbúrdias
Cortes, agonias e nesgas
Pontes, agulhas e caos.
É ela que somos,
nela, compomos,
dela, parimos,
por ela, reinventamos a forma de paraíso.
E empoderamos o universo.
A mulher nascida, criada, reprimida, calada.
A mulher desinibida, audaciosa, inadequada.
A mulher do útero, coração, poesia e alma.
Artigo e gênero feminino,
adjetivo expressivo,
verbo preciso.
Ela: pronome reinventado.