Revolta no campo: Pais denunciam abandono e descaso com fechamento de escolas rurais em Rio Novo do Sul
Gestão municipal enfrenta críticas por ignorar condições das comunidades e impor decisões que prejudicam crianças e famílias do interior. Tribunal de Contas e Prefeitura são acusados de priorizar números em detrimento da realidade do campo.
O anúncio do fechamento de quatro escolas na zona rural de Rio Novo do Sul gerou revolta e protestos. Segundo a Prefeitura, a medida atende a um Termo de Ajustamento de Gestão (TAG) firmado com o Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCE-ES), visando centralizar os alunos em escolas maiores e, supostamente, mais estruturadas. No entanto, a decisão ignora as necessidades das comunidades rurais e expõe crianças e famílias a condições insustentáveis de transporte e ensino.
As instituições afetadas, EPEIEF Alto Muno Novo, EMPEIEF Princesa, EMUEF Cachoeirinha e EMPEIEF Ivo Menegardo, atendem 153 alunos que serão remanejados para unidades distantes e, em muitos casos, sem infraestrutura adequada para recebê-los. Para os moradores, a decisão é um exemplo claro de abandono do campo por uma gestão que desconhece ou ignora a realidade das comunidades rurais.
Comunidade em alerta: “Vergonhoso fechar escolas do campo”
Kátia Polonini Madergan, agricultora da comunidade de Monte Alegre, afirma que as escolas fechadas possuem infraestrutura adequada e que a decisão vai contra o bem-estar das crianças. “Este ano passou por uma reforma, foi pintado, está climatizado com ar-condicionado, quintal. O prefeito assinou o TAG em Vitória para a centralização das escolas, e isso implica no bem-estar dos nossos filhos. Deveria se preocupar com o crescimento do município e construir uma creche no interior para ajudar os pais que precisam trabalhar”, criticou.
A agricultora classificou a proposta como desgastante e prejudicial para as famílias. “Em vez do município nos ajudar, está nos prejudicando. Nós estamos revoltados. É vergonhosa a proposta de fechamento das escolas do campo”, disse.
Transporte escolar precário e inseguro
Entre as principais queixas está o transporte escolar, que pais relatam ser inadequado para atender à demanda gerada pelo fechamento das escolas. Geovani Sangiorgio, produtor rural e pai de alunos em Princesa, destacou as dificuldades enfrentadas pelas famílias. “As crianças do pré, com quatro anos, vão ter que sair de casa às seis da manhã, pegar estrada ruim e chegar só meio-dia ou uma hora de volta. É inviável”, afirmou.
Geovani também criticou a condição dos veículos usados no transporte escolar. “A empresa contratada pela prefeitura coloca carros precários, que não passariam em vistoria. Já tivemos casos de crianças ficando no meio da estrada porque o veículo quebrou. Colocam até 14 crianças em uma Kombi, quando o limite é 12. Como confiar nesse transporte para crianças tão pequenas?” questionou.
Comunidade rural abandonada
João Martins, morador de Cachoeirinha, lamentou as decisões que, segundo ele, refletem o descaso das autoridades com as áreas rurais. “Esse é o último tiro mortal no homem do campo. Nossos jovens já não querem mais ficar no campo, porque são tratados com desprezo. Crianças de quatro anos vão ter que enfrentar transporte precário e estradas ruins para estudar. Como o prefeito pode justificar isso como melhoria?”, desabafou.
Tribunal de Contas: eficiência ou insensibilidade?
Em nota, o TCE-ES esclareceu que não determina o fechamento de escolas, mas orienta os municípios no reordenamento da rede de ensino para garantir eficiência na aplicação dos recursos públicos. Entre os objetivos do TAG estão o fim de turmas multisseriadas e a melhoria da infraestrutura das escolas que receberão os alunos. O Tribunal também destacou que o município tem a obrigação de garantir transporte escolar seguro e acessível para todos os estudantes.
Prefeitura sob pressão: justificativas não convencem
A Prefeitura de Rio Novo do Sul justificou a assinatura do TAG como uma imposição do TCE-ES, alertando que o descumprimento resultaria em multas ao município. No entanto, a medida foi recebida com ceticismo pelas comunidades afetadas, que questionam a ausência de planejamento.
“Ainda estão planejando como será o transporte e a estrutura das escolas que vão receber as crianças. Fecharam primeiro e agora tentam achar uma solução”, denunciou Geovani Sangiorgio.
Pais e moradores pedem que os representantes públicos defendam os interesses das comunidades rurais. “Nós precisamos de gente com coragem. Bom pastor cuida das suas ovelhas. Vamos para Vitória fazer um manifesto. Isso não é atitude de quem se preocupa com a educação no campo”, declarou João Martins.
Mobilização cresce
Enquanto as autoridades mantêm a decisão, agricultores e pais de alunos organizam ações para tentar reverter a situação. “Se nada for feito, seremos obrigados a levar nossas crianças para estudar em municípios vizinhos. Pelo menos lá, a estrutura e as estradas oferecem mais segurança”, concluiu Geovani.
O futuro do estudo das crianças e das comunidades do campo continua em jogo, enquanto a resistência cresce frente às decisões administrativas que, segundo os moradores, priorizam números em detrimento da qualidade de vida e da educação.