Tratamento do morto é o que difere o preço
Até morto tem tratamento. Os preços variam de acordo com o serviço contratado.
É hábito dizer que o trabalho alheio é caro, mas normalmente, a pessoa não tem a menor ideia de como é o processo de execução do trabalho do outro. O tema aqui é o preço de um determinado funeral: R$50 mil. Caro, não?! Pois é, mas tudo depende da qualidade dos materiais usados e de que tipos de homenagens o falecido vai receber. Para termos um parâmetro dessas diferenças, vamos dar dois exemplos. Apenas o caixão do cantor Cristiano Araújo custou esse valor que citamos acima! Isso sem contabilizarmos traslado, preparação do cadáver e ornamentação do local do velório. Enquanto que num funeral completo de uma pessoa de baixa renda, bancado pela prefeitura pode custar menos que R$2 mil.
A Reportagem conversou com o empresário, Rosiano Salles Coutinho, que exerce essa atividade há 15 anos. Coutinho conta que já dormiu e acordou com mortos e não tem hora para trabalhar. Já se emocionou algumas vezes, principalmente, quando cuidou do funeral da avó, de um grande amigo e de cachorrinho de estimação.
Segundo Rosiano, o valor vai depender do tratamento do cadáver. Existem pessoas que acreditam que, quando vão a uma funerária estão comprando as flores, o caixão e a remoção, mas o serviço do agente é muito maior, além de não ter hora para atender o cliente. “Muita gente diz que o caixão é caro e não é o caixão que é caro, é o serviço funerário que é feito. O caixão varia de R$960, já com encargos sociais. Com o serviço funeral completo pode se chegar até R$3 mil. Até porque não tem como comprar só o caixão, pois o corpo tem que ser tratado e preparado para velório. Hoje não existem mais vazamentos em velórios, como era comum antigamente”.
Rosiano explica que para um profissional trabalhar nesse ramo, precisa de produtos adequados para cada situação que venha acontecer no corpo. “Se cortar a pele de uma pessoa que já morreu, vai sangrar, porque o sangue está presente nos vasos. Uma pessoa raspar a barba com a navalha e der um corte pequeno, também vai sangrar. Por isso usamos um pequeno bastão com um produto que é super caro e aplicamos naquela região. O valor que o cliente paga e acha caro é o tratamento do morto”, frisou.
O tratamento é diferenciado se o corpo passar por necropsia, que é a passagem do corpo pelo Instituto Médico Legal – IML ou ao Serviço de Verificação de Órgãos – SVO. (O corpo segue ao IML quando é morto em situação de violência, acidente, homicídio, queda…E para o SVO quanto tem morte natural).
O IML e o SVO fazem a necrópsia e entregam o cadáver a família que precisa contratar uma funerária para fazer todo o serviço. É exatamente na hora que a família está desesperada e precisa de um profissional.
O trabalho dos profissionais que cuidam de mortos é muito criterioso e envolve sempre situações de muitas emoções. Um corpo vítima de um acidente, por exemplo, exige muito do profissional que o prepara de modo que a família consiga ver o rosto perfeito. Mesmo esse estando despedaçado, é feito todo um trabalho cuidadoso que pode demorar horas. “Dá muito trabalho preparar um rosto, se a família tiver paciência a gente resolve, se for um caso assistencial é mais difícil porque não é custeado pelo pacote pago pelas prefeituras”, disse.
Ele já dormiu e acordou com defuntos
O empresário, que é mais conhecido como Rosiano da Funerária Monte Aghá, em Piúma confessou que em 2004, quando começou a atuar no ramo, morria de medo de caixão e de gente morta. E para piorar a situação, ele foi residir em uma casa, logo no início. Nessa casa havia dois quartos usados para guardar as urnas funerárias, e o local onde arrumava os corpos era na parte debaixo. Às vezes ele tinha a impressão que quando ia dormir, o morto iria bater com um pedaço de pau no assoalho e isso era desesperador. “Eu tinha medo de caixão, morria de medo de gente morta. Depois que eu comecei a trabalhar, comecei a conviver com aquilo e passou. Eu arrumava os defuntos debaixo da casa, em um porão e à noite o medo aumentava. O mostruário era na casa, só uma porta separava, eu morava junto com a funerária”, contou.
Cachorro também tem funeral
Rosiano também faz funeral de animais, em especial de cães. Na Funerária dele ele já velou um cachorro de estimação da família. Mas ele tem caixão especifico para cães. Se uma família tiver condições de contratar o serviço, ele atende normalmente.
Foto: Rosiano / Luciana Maximo
Legenda: Rosiano frisou que o tratamento do corpo é que difere no preço do funeral