“Uol” revela que, ator de Piúma, na novela “Bambolê”, escondeu a AIDS para continuar trabalhando
Na verdade, a matéria do “Uol” diz que, o ator, cantor e compositor, Guido Brunini, nasceu em Piúma e, em homenagem à sua brilhante carreira, uma Avenida da Cidade ganha seu nome.
A matéria veiculada nesta quinta-feira, 16, em um dos maiores portais de notícias, “Uol”, cuja manchete “Morte precoce: Ator da Globo escondeu doença para continuar trabalhando” faz uma belíssima homenagem ao neto do seu Guido Brunini Pezzodipane, um dos fundadores da cidade de Piúma. Uma história sensacional, que, sem dúvida, a narrativa compõe um livro.
Segundo o “Uol”, “um dos atores da novela da Globo “Bambolê” (1987), que está em reprise no canal Viva, teve seu primeiro e único trabalho na trama. Durante as gravações da novela, Guido Brunini (1965-1995), intérprete de Júlio, contraiu o vírus HIV.
Mesmo doente, tentou continuar a carreira artística e investiu na área musical. Apesar de esconder os sintomas para continuar trabalhando, não resistiu e morreu em 1995.
A Reportagem do Jornal “Espírito Santo Notícias” conversou com a irmã de Guido, a psicóloga Liege Brunini, que ficou muito emocionada com a notícia do Uol e compartilhou com nosso veículo. “Ele tinha intercorrências diante da baixa imunidade. A febre presente, era uma delas. Essa febre é uma febre constante, da doença mesmo, todo final do dia ela se apresentava, e a AIDS nada mais é que a baixa imunidade, o paciente pode ser afetado por diversos problemas de saúde, como uma herpes zoster, pneumonia, tuberculose, enfim, cada um desenvolve de um jeito. O Guido conseguiu se manter bem, fisicamente, durante muito tempo. Ele se descobriu soropositivo em 1990 e faleceu em 1995, os dois últimos anos de vida dele é que foram mais difíceis. Ele não conseguiu pegar o coquetel, só tomou o AZT. Nós montamos um quarto hospitalar para ele, em casa, e ele conseguiu viver com qualidade e com a presença dos familiares”.
Os anos de 1990 não foram fáceis para as pessoas que eram soro positivo. O cantor Renato Russo faleceu um ano depois do Guido. “Quando Renato Russo foi no sepultamento do meu irmão, ele levou uma violeta, muito carinhoso, ficou até o final, mas ele já estava soropositivo e não nos contou, um ano depois revelou para minha mãe e ficou doente, faleceu, não resistiu”, lembrou Liege.
Na época, a doença era considerada uma peste, e ninguém sabia como se contraia de fato, as pessoas não tinham conhecimento, achavam que pegava com um beijo, separavam copos, talheres, pratos. Era chamada de câncer gay. “Muitos hemofílicos morreram por conta da transmissão de sangue. Hoje a medicina está avançada, pessoas vivem com qualidade de vida. Existem pacientes que vivem com a doença há 20 anos. Mas, enfim, a gente sempre abraçou a causa e levantou bandeira”.
Para a irmã, orgulhosa do artista e da pessoa que foi, o Guido Brunini era uma pessoa especial “Talentoso, carismático e sensível, deixou um legado incrível de um trabalho inesquecível. Ele nunca será esquecido por quem compreende, ama e senti sua arte. Saudade eterna”.
“Bambolê”
Guido Brunini estreou na televisão em 1987, na novela “Bambolê”, representando o personagem Júlio: um jovem animado, que gostava de música e estava sempre acompanhado do seu violão. Na trama, namorou com Mara (Carla Daniel) e fazia parte do grupo de amigos de Yolanda (Thaís de Campos), Ana (Myrian Rios) e Cristina (Carla Marins).
Apesar de ter agradado o público, com o final da trama, Brunini não retornou para os estúdios da Globo. Aos 24 anos, durante a exibição da novela, descobriu que foi contaminado com o vírus HIV. O diagnóstico de Aids – uma doença que, na época, não podia ser controlada com medicamentos– mudou seus planos, e o artista decidiu investir no seu maior sonho: a carreira de cantor.
Primeiro, fez uma viagem para a Europa a fim de apresentar seu trabalho. No entanto, o projeto não funcionou. Por isso, retornou ao Brasil na intenção de lançar um CD e conseguiu um contrato com uma gravadora. Porém, com receio de que a empresa perdesse o interesse na produção da obra, ele escondeu os sintomas até quando foi possível.
Brunini morreu em 20 de fevereiro de 1995, aos 31 anos. Apesar dos esforços de sua família, seu CD nunca foi lançado para o público. Como forma de homenagear sua trajetória, a cidade de Piúma batizou uma rua com o seu nome”. (Uol)
O primo de Guido, Edmilson Masruha acredita que a vida é um mistério. “Acho que ele, provavelmente por saber, mesmo que no subconsciente, que não tinha tanto tempo de vida, intensificou o que o ser humano tem de melhor e distribuiu a quem, como nós, teve o privilégio de conviver e usufruir da presença dele… Guido sempre foi uma inspiração!!! O exemplo de simplicidade, carisma, gentileza, bondade, a pessoa carinhosa que ele sempre soube ser. Em mim, despertava admiração… É um irmão eterno que eu tenho!!! Um dos amores da minha vida!!!”
A música
A psicóloga e irmã de Guido, Liege Bruinini, frisou que o foco dele sempre foi a música, porém, como ele era muito bonito, com a altura de 1.85, sempre convidado para desfiles e circulava no meio artístico, foi modelo. “A figura de ator surge um pouco desta trajetória. Ele começa atuar mais focado em musicais, mas depois expande, porque as propostas começaram a chegar e, ele acreditava que teria uma projeção como cantor, como Fábio Junior, por exemplo que fez carreira na TV e na música”.
Em 1982, Guido Brunini participou do IX Fump – Festival Ubaense de Música Popular e garantiu o terceiro lugar com a música Saga de Eduardo Dussek e Luís Carlos Góes.
A mãe, Liana Brunini assegura que, encantado com a música, o filho não descansou enquanto não conseguiu gravar seu primeiro CD. Saiu da gravação direto para o hospital. Durante o show de lançamento, já estava muito doente, mas arranjava forças. “Ele saía do palco e a febre vinha. Saía arrasado, mas na hora de cantar conseguia superar tudo.” – conta a mãe, Liana Brunini.
Com receio de que a gravadora deixasse de investir em sua iniciante carreira de cantor, Guido não teve opção, omitiu a doença. Estava certo. Pronto no master, o CD Guido Brunini nunca foi lançado comercialmente pela “PolyGram”. “Liguei para lá, chorei, pedi, mas só consegui que fizessem mil discos, que comprei e vendi para amigos.” – conta Liana, a mãe do artista.
Ainda que não conseguisse lançar o CD comercialmente, emplacou duas de suas canções na trilha sonora de novelas da Globo: a música Frágil, em Sonho Meu (1993), e Imagens, em Pátria Minha (1994). Nesse período, começou a gravar o CD em estúdio e a realizar apresentações para o público. Entretanto, o avanço da doença, tornou o ofício difícil e as idas ao hospital cada vez mais frequentes.
Em 2022, o cantor Savio di Maio, que também é capixaba e soropositivo, lançou uma música intitulada “Guido Brunini”.
“Guido Brunini para mim, era beleza absoluta, por dentro, por fora, pelo talento, amizade, pelo amor que mantinha naquele peito lindo onde morava o coração mais generoso que eu conheci!!! A saudade que bate em quem o conheceu, não foi só por perder a presença de alguém que amamos, mas sim de alguém raro. Guido Brunini era um homem raro, e era o meu amor!! Sua Mãe, foi a melhor herança que poderia ter me deixado. Saudade eterna”, emocionou-se Naná Karabachian.
Guido nasce no Rio
Segundo a matéria do Uol, Guido Brunini, o ator, nasceu em Piúma, e desde a infância se interessou pela música. Liege disse que eles vinham muito à “Cidade das Conchas” por conta do avô e dos pais, mas Guido nasceu no Rio de Janeiro, onde faleceu. E tinha uma veia artística muito aflorada.
Para melhor compreender esta história, o avô de Liege, um dos fundadores da cidade de Piúma, se chamava Guido Brunini Pezzodipane, pai dos dois filhos: Guido Vieira Brunini e Yara Vieira Brunini Pezzodipane. Liege e Guido Vicente Smith Brunini são filhos de Guido Vieira Brunini e Liana Borges Smith.
Fotógrafo
Seu Guido Brunini Pezzodipane, avô do ator Guido Brunini era fotógrafo, numa época que a fotografia era revelada. “Ele era um homem muito inteligente, comerciante e visionário, conseguiu construir um império. Eu tenho muito orgulho dele. Todas as terras que comprou e os apartamentos no Rio foram com o trabalho dele”.
Por conta da profissão, o avô de Liege e Guido Brunini vivia se mudando de estado e cidade. Morou em Minas Gerais – Ubá, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Em 1970 ele faleceu quando o pai dela resolveu vir para Piúma. “Nós sempre frequentamos a cidade de Piúma, desde do ventre da minha mãe. Lembro-me muito bem, meu pai colocava um roupão, todo mundo entrava na Rural, pegávamos estrada de chão, até chegarmos em Piúma, era uma viagem muito longa e uma parte com muita erosão na estrada, e muita poeira. E a gente viveu esta época da infância e adolescência toda aí, a gente voltava para o Rio porque, na época, minha mãe e meu pai trabalhavam aqui. Depois, meu avô faleceu e meu pai teve que ir para Piúma para assumir os negócios dele, logo depois veio a separação dos meus pais. Meu pai ficou morando em Piúma e minha mãe no Rio. Minha Mãe era funcionária pública federal, mas todo ano, nas férias escolares, vínhamos visitar meu pai. Nós temos laços de grandes amizades em Piúma, minha tia Yara Brunini e meu primo Adyr Brunini é que escolheram morar em Piúma”.
Carreira curta e rica
O ator Guido Brunini, apesar de ter falecido aos 31 anos, deixou um rico material artístico, participou de várias peças teatrais e também musicais com Marisa Monte, regravou música de Renato Russo, fez parte do grupo teatral “Asdrúbal Trouxe o Trombone”, que revelou nomes de peso, como Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães.
Vale ressaltar que a veia artística está presente em toda a família Brunini. E a Avenida Guido Brunini, em Piúma é em homenagem ao fotógrafo, o avô do ator e da psicóloga Liege Brunini.