VAMOS PARAR DE HIPOCRISIA: a minha vontade é te mandar calar a boca!
O texto a seguir é longo e de opinião, você leitor, não é obrigado a ler até o fim, nem de concordar, mas é a minha opinião e o espaço está aberto para também escrever a sua opinião
Falar de estupro realmente não é tão fácil, as vítimas carregam na alma uma ferida aberta que a cicatrização dificilmente ocorre ou, ocorrerá. Entretanto, o tema não é tabu para não ser dialogado, ainda mais quando as vítimas não têm idade, de zero a 100 anos, há monstros capazes de praticar o crime utilizando das mais sórdidas maneiras: ameaças, espancamentos, torturas… Praticam este maldito crime, em pessoas indefesas, doentes e frágeis. O estuprador muitas das vezes escolhe a vítima e outras vezes, pratica pela sua crueldade, descontrole e pela loucura.
Há milhares de casos que ocorrem diariamente no mundo, dentro de casas, estes quando não praticados contra mulheres, as crianças são os alvos mais fáceis. São avôs, titios, irmãos mais velhos, pais, padrastos e primos, os mais comuns abusadores que se aproveitam da confiança das vítimas. Estes cruéis criminosos não temem a prisão, pois sabem que suas presas dificilmente terão força e coragem para denuncia-los.
Se o estupro for contra uma criança, acredite, um adulto futuro carregado de medo e ansiedade, poderá estar a sua volta. Estupro como diz o dicionário é realmente um crime que consiste em ter relações sexuais ou praticar atos libidinosos sem consentimento.
A socióloga e psicanalista Neide Lima foi corajosa para escrever uma história de uma mulher que consentiu estupros inconscientemente pelo desejo insano de encontrar o seu grande amor. Recebeu a morte após contrair DST e depois câncer.
Neide certamente sabia que o título da sua obra causaria um rebuliço na sociedade, ainda mais em tempos em que muitos querem distorcer os fatos e criar factoides para suas intransigências, delírios e intolerâncias. Em tempos em que líderes cultuam estuprador e torturador…
Neide, como afirma a professora da Universidade Federal do Espírito Santo, em Gênero e Lei Maria da Penha, dra. Catarina Cecin Cazele e também presidente da Associação Brasileira de Mulheres e Carreira Jurídica nos brinda com sua obra “Estupros Consentidos”: em busca do amor, uma história do tempo presente.
É, e dra. Catarina sabe bem o diz, “a temática é forte, séria e merece aprofundada reflexão. Sua narrativa é envolvente, assim como ela, uma mulher iluminada, apaixonada pela vida”.
E quer saber, nobres e caros leitores, dra. Catarina Cecim tem mesmo razão, o tema é forte. Imagine alguma mulher seria louca em consentir um estupro?
Eu mesma respondo esta desvairada pergunta. Não! Mas não é sim, senhoras e senhores. Imagine que eu já ouvi durante uma reportagem ao Acre, na boleia de uma carreta, um pai entregar uma filha de 13 anos a um caminhoneiro em troca de uma lata de salsicha.
Não é este estupro desta pobre menina, cujo pai consentiu de que Neide trata na sua obra, tão criticada sem ao menos ter sido lida ainda.
Também não é sobre a relação silenciosa e dolorida que muitas esposas se permitem ter com lágrimas nos olhos para que o seu homem não busque fora do casamento uma “xoxota” molhadinha e lhe satisfaça a qualquer jeito. Está ereto e é macho. Que se dane a sua falta de libido, senhora!
Não, a escritora quer dialogar sobre um tema, real, sobre as milhares de mulheres que deixam de se prevenir, estudar, se libertar das algemas lhe impostas muitas vezes em nome de “Deus” ou de um juramento feito numa igreja, quando o padre ou o pastor lhe conduzia as mãos de um marido: “até que a morte os separe”.
Muitas, realmente, a morte separa, a pancada, a tortura, o caixão, basta olhar a posição do ES no ranking de feminicídio, homicídio como o crime é caracterizado no código penal.
Vamos as estatísticas, queridos leitores, dos estupros não consentidos. E assim, deixemos a Neide Lima lançar sua obra onde ela for convidada. Lembrem-se, convidada, por uma jornalista que já registrou tantos casos de estupros, feminicídios e outros tantos crimes cometidos contra nós diariamente. Alguns, com consentimentos, pasmem, senhoras e senhores, em nome de Deus ou pela farta ilusão de continuar mantendo o sustento em uma pobre casa construída de lamento, onde a migalha é oferecida pelas mãos dos malfeitores.
Números
Os casos de estupro cresceram no Brasil no primeiro semestre de 2021 em comparação com o mesmo período do de 2020. Ainda não temos os números de 2022, porque ainda não fechamos o semestre. Entretanto, em 2021 ocorreu uma subnotificação grande durante o isolamento social mais rigoroso, de acordo com levantamento inédito do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Vamos parar de hipocrisia, né! Por que a palavra estupro não pode ser debatida em uma escola com alunos no Ensino Médio e Educação para Jovens e adultos, se, a cada 8 minutos uma pessoa do sexo feminino é vítima de estupro neste país? E acreditem, a maioria é criança!
Não, os puritanos, seguidores do coiso, logo gritam quando veem o título, “Estupros consentidos”. Há quem diga que vai acompanhar de perto o lançamento do livro. Nossa, vai que a escritora resolve estuprar as pobres crianças indefesas.
Hipócritas, eu sugiro que engulam seus conceitos ultrapassados e acompanhem os números.
Em 2019, a cada 8 minutos um estupro foi REGISTRADO no Brasil, e os que não foram registrados, escondidos por mães dependentes de pão, porrada e silêncio?
Senhora e senhores, em 2019 foram 66.123 boletins de ocorrência de estupro e estupro de vulnerável registrados em delegacias de polícia e a maior parte das vítimas é do sexo feminino —cerca de 85,7%. Em 84,1% dos casos, o criminoso era conhecido da vítima: familiares ou pessoas de confiança… Titios, vovôs, papais e padrastos, sabia?
Se acha que estou ficando doida e querendo expor crianças ao debate, do estupro consentido, título da obra da socióloga Neide Lima, pasmem, senhoras e senhores: Entre as vítimas, bebês de 0 a 4 anos. Quem os estuprou?
Os números até aqui, são de 2019, o Coronavírus ainda estava preso em um laboratório. Quando virou Covid, com os decretos e os isolamentos, os números em 2020 cresceram assustadoramente… É, as crianças, os adolescentes, coitadinhos, estavam reprimidos em casa, com o lobo mal: titios, vovôs, padrastos e sei lá mais quem. Ameaçados, enclausurados, estuprados… Milhares de casos viraram subnotificações. As vítimas não procuram as autoridades por medo, sentimento de culpa e vergonha.
Desses casos de violência sexual, senhoras e senhores, 70,5% foram registrados como estupros de vulnerável, quando a vítima é menor de 14 anos ou não consegue oferecer resistência ao ato, porque está alcoolizada ou por uma enfermidade, por exemplo. Lembram do caso da menina no ES, engravidou do padrasto aos 10 anos.
Eu vou contar uma historinha para os senhores e senhoras: Bem pertinho de nós, uma menina de 16 anos engravidou do pai, isso mesmo, ele a estuprou e disse que não admitia que nenhum homem tirasse a virgindade de sua filha. Depois a mãe, que se tornou avó, pegou a guarda da criança e proíbe a filha de sequer ver o bebê, e para piorar a situação, caso a menina mãe resolva tentar ver o seu filho, apanha.
Vamos abrir o debate nas escolas, porque ainda é a escola quem reconhece uma criança violentada, estuprada, abusada, triste, deprimida e infeliz, porque pais, padrastos, tios, primos, vizinhos e mães, em muitos casos escondem a realidade que acaba subnotificada. E depois, o sistema de saúde contabiliza, crianças, adolescentes e jovens doentes, dependentes e suicidas. E mulheres caladas, machucadas e feridas.
Quer saber, a minha vontade é mesmo de te mandar calar a boca! Se não tem capacidade para a crítica, recolha-se e cale-se, fica mais bonito do que vomitar palavra ao vento.