VIOLÊNCIA DE GÊNERO: NOSSA MAIOR VERGONHA
Século 21… e eu, na minha “vã filosofia”, acreditava que no virar do século estaríamos tão evoluídos que o homem refletiria o Ser que os criou…
Hoje, ao contrário do que em tenra idade sonhei um dia, diuturnamente sou obrigado a observar na rotina social pessoas submetendo pessoas às suas vaidades, às suas verdades, a seus caprichos e tal abominação chega ao ápice de sua tradução quando, já não mais espantado, observo na mídia ou em minha rotina social e profissional, mulheres sendo subjugadas por pessoas que, talvez em suas ignorâncias, não percebam a monstruosidade dos atos que praticam.
A violência contra a mulher é, pois, a tradução da mais animalesca expressão que permite descrever o ser humano em sua fragilidade moral e deve ser destacado que o silêncio (ensurdecedor) da coletividade inspira e incentiva que milhares de vítimas se sujeitem diuturnamente à violência doméstica, familiar e sexual, onde a condição cultural, psicológica e financeira são os principais fatores que estimulam o agressor.
A mulher vítima, além das condições levantadas (cultural, psicológica e financeira), ainda é sufocada em seu desejo de denunciar pelo receio da exposição e da vergonha que resulta da submissão e da aceitação de uma culpa da qual, convenhamos, não lhe pertence, silêncio este que acaba favorecendo a perpetuação da violência.
Como causa, poderia trazer inúmeros argumentos, mas prefiro destacar que somos seres “forjados” na cultura e rotina social, e nessa condição observamos que na contemporaneidade a sociedade é “alimentada” por desejos nunca saciados, resultando em frustrações e reações, gerando sentimentos reprimidos, que por sua vez geram ódio, hostilidade, e dentro da razão de cada um (mesmo que na nossa ética/moral seja equivocada) a mais drástica das reações, cuja tradução exprime “justiça” pelas próprias mãos.
No caso da mulher, violência maior é imposta quando a sociedade, através da cultura de gênero traduzida na hegemonia de um padrão de beleza voltado para o consumo, acaba promovendo ainda mais as diversas formas de discriminação, como ocorre quando o modelo aceito é confrontado em relação a cor da pele, estatura, cor dos olhos, formas de se vestir, etc.
Por outro lado, também deve ser destacado que a violência de gênero acaba se sustentando quando grande parte da sociedade aceita a imposição do poder masculino na relação com a mulher, na hierarquia superior daquele em relação a esta bem como da distinção desigual dos papéis que cada um deve representar na relação conjugal que potencializa a violência nas relações familiares e sociais, sem deixar de citar como fator que potencializa a violência contra a mulher, as normas e regras sociais aceitas pela coletividade e que determinam os comportamentos ditos corretos de homens e de mulheres.
Essa cultura impõe aos indivíduos que se curvem ao consumismo desenfreado, assim como impõe uma cultura equivocada onde os filhos devem refletir a expressão do macho viril e as filhas a docilidade e submissão, sendo que o êxito da violência se acentua ainda mais quando nós, cidadãos que compomos a sociedade, nos calamos diante da violência, potencializando-a.
(*) Advogado, acadêmico de Filosofia (UFES) e Pós-Graduado em Educação em Direitos Humanos (UFES).