ZÉ NINGUÉM. SQN
A verdade existe para ser dita, embora nem sempre ela seja bem-vinda.
Abrir um inquérito para investigar um caso de uma pessoa que era viciado em drogas, surtava dizendo que tinha alguém atrás dele com uma faca para matá-lo, é perda de tempo, é mais um BO que vai ocupar uma gaveta, um policial e uma viatura pra lá e pra cá queimando combustível por um morto que não servia para nada, só para dar trabalho, num é?
Mas o suicídio constatado pela perícia, na manhã desta quarta-feira, 12, é no mínimo estranho, Nager Pereira Sanchez tinha 48 anos, estava residindo em uma quitinete amarela por dentro, na esquina com a Rua Adalberto Taylor, no Centro, na Cidade das Conchas. Ele morava lá há cerca de seis meses, depois de deixar a prisão onde ficou um tempo detido após tentar matar a irmã. Morava sozinho, bebiua e se drogava, surtava, mas estava com o aluguel em dia.
Uma história complexa que terminou com um triste fim. O corpo já em estado de decomposição, com uma cordinha amarrada ao pescoço, pendurada na grade da janela, e ele sentado no chão, escorado na cama. Havia gotas de sangue seco no chão da pequena sala, disse quem viu. Em um dos braços, perfurações, como se estivesse furado com uma chave de fenda Philips. A perícia justificou à irmã dele que é assim mesmo, quando o corpo começa a se decompor. Disso a gente não entende, e respeita o laudo.
Quem será louco de questionar à perícia para um morto desimportante, que, era esquizofrênico, bebia e fumava pedra.
Nager era usuário de drogas desde os 13 anos. Há 16 anos ele veio para Piúma com a mãe, que há quatro anos, faleceu, tinha problemas no coração. Um ano após perder a mãe, a irmã também morreu com problemas cardíacos. As tragédias não param por aí, um irmão já havia sido atropelado e também morreu. A família de cinco irmãos veio de Juiz de Fora e, agora, ficou somente Talita Sanchez, de 45 anos, para desocupar a casa amarela, tirar todos os pertences do irmão, e cuidar do funeral.
Sozinha, ela entende que o irmão surtava e dava problemas, ainda assim, sempre cuidou dele, até que ele surtado, gritou e contou até três para que ela saísse de dentro da casa dela, caso contrário ele a mataria e também os sobrinhos, os dois filhos dela.
Um enredo bem triste que a irmã revelou ao jornal, neste dia, do surto, que ela se escondeu atrás de um quiosque na praia, passara a noite toda ao relento com medo que ele os matasse. Nada foi motivo para que ela deixasse de mão, escondido sem que ele jamais soubesse, doava cestas básicas e o socorria sempre. “Eu tinha medo dele, que dizia que ia matar a mim e meu filho. Eu ajudava e não deixava ele saber. Por pior que a pessoa seja neste mundo, ninguém merece ser desamparado. Ninguém merece ser deixado de lado”.
De repente, quem sabe você também não julgue o Nager e diga que ele teve o fim que mereceu.
Se à distância era jugado, de perto era cuidado com carinho pelas vizinhas. Uma delas lavava a roupa dele, varria a calçada todo dia e se importava se ele tinha comido ou não. A outra, chegou a levá-lo para casa dela, onde ele passou 10 dias, até que conseguiram alugar a quitinete amarela por dentro. Segunda pela manhã, Iara comprara o gás e levara à quitinete. Nem por um instante ela ousou em entrar no quarto, invadir a privacidade e a intimidade dele. O deixou repousar, mal sabia que ele já estava morto. Puxou a maçaneta, enconstou a porta e amarrou com arame e saiu.
Muito estranho. Uma das bondosas vizinhas, hoje, ao passar o pano na janela com o cabo da vassoura para retirar a poeira, avistou uma cordinha amarrada, ficou na ponta dos pés e olhou para dentro entre as grades, viu o corpo. Imediatamente procurou a Polícia e protegeu a cena do fato, não deixou ninguém entrar para fazer nenhum retrato, no quarto da quitinete da Rua Adalberto Taylor, número 525.
É, não haverá cortejo, nem velório, o caixão vem lacrado, e o corpo de Nager será sepultado, sem palmas, sem flores e sem velas, no Cemitério da Aparecidinha, amanhã, depois de todos os trâmites legais.
A morte dele deve ter sido de domingo para segunda, 10, ele já havia levado uma surra recente, na rua, e pode ter sido morto por alguém, mas acabou. Sua partida representa menos um BO em meio a tantos que viram inquérito, processo e denúncia no MP para ser julgado por um júri, numa comarca.
Agora, a irmã só quer terminar de limpar a casa, tirar tudo de dentro e seguir para a Capital Secreta do Mundo, onde pegará um laudo no SML, para onde foi levado o corpo e seguirá à Delegacia, lá no BNH para contar ao delegado a sua versão para os fatos e, depois, ela retorna ao Serviço Médico Legal e vem acompanhando o carro da funerária para fazer o sepultamento do corpo do irmão.
Adeus Nager! Talita – que Deus te dê força, muita força para passar por mais este momento de dor. Saiba que pode contar, com a Prefeitura, com as vizinhas do seu irmão, e com a gente, na hora que você precisar.
2 Comentários
Quero registrar o tipo de jornalismo de ética duvidosa ou contestável chamado de imprensa marrom, demonstrado na matéria de Luciana Máximo sobre o suposto suicídio de Nager. A “jornalista” foi imparcial, publicou uma matéria inverídica sobre o falecido, enaltecendo um outra pessoa que mentiu descaradamente. Quem conhece os fatos deveriam ter sido ouvidos antes dessa matéria ter sido publicado. Foi um desrespeito com o falecido, que teve a vida e a paz roubadas principalmente pela pessoa que deu as declarações à jornalista. Que por sua vez, não apurou a verdade e publicou uma matéria FALSA, roubando do falecido o direito da verdade e principalmente a dignidade de uma memória honesta.
Boa tarde, procuramos a família dele para obter informações e ouvimos as vizinhas. Faço questão de me colocar à disposição. Se a senhora tem os fatos, por gentileza, entre em contato com o jornal. 28.99.8837453